A Dupla Vida de Véronique
Azul, Branco, Vermelho
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O cinema arrebatador do polaco Krzysztof Kieslowski volta aos ecrãs nacionais em novas versões digitais restauradas, pela mão da Leopardo Filmes/Medeia Filmes, uma distribuidora/exibidora art house a quem devemos o mérito de não nos deixar reféns do cinema comercial americano. Assim, a par do envolvente A Dupla Vida de Verónica, de 1991, estará a trilogia Azul, Branco e Vermelho, lançada entre 1993 e 94. Oportunidade soberana para rever ou descobrir a sensibilidade única deste cineasta, bem como o trabalho magnífico das actrizes que os dominam. No fundo, este conjunto de filmes foi também a oportunidade do cineasta polaco partilhar o seu cinema com o público internacional. Infelizmente, os seus derradeiros trabalhos, já que Kieslowski anunciava o seu retiro logo após a estreia de Vermelho, vindo a falecer pouco depois após problemas cardíacos.
Rever agora A Dupla Vida de Verónica é também recordar a vitalidade e beleza palpitante de uma Irène Jacob que aqui se mostrava ao público em todo o seu esplendor. Até porque se desdobra em duas personagens, a polaca Weronika e a francesa Véronique, nascidas em países diferentes, não ligadas por laços de sangue e sem a noção uma da outra, mas por um indizível bater de coração e ligação comum ao canto que possibilita a partitura celestial de Zbigniew Preisener. De resto, a beleza da cena inicial em que Weronika canta à chuva é difícil e superar.
É talvez com esta sugestão do duplo, da outra alma sensorial, que Kieslowski penetra no terreno do sublime, mas em que a plenitude da alma poderá não ter o mesmo reflexo num qualquer espelho mágico. Mas esta constatação é desenhada com um cuidado extremo e uma elegância que nos faz viver esta vida dupla num permanente êxtase.
Azul, branco e vermelho, as cores da bandeira francesa que nos têm dominado nas últimas semanas e que servem de véu em tantos casos a muitos perfis de Facebook, servem também para ilustrar as três ideias da república francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Na verdade, uma altura mais do que adequada para rever estes conceitos pelo cineasta que nos havia dado já os O Decálogo, sob a batuta dos dez mandamentos. E, seguramente, a fórmula de co-produção mais conseguida após o sucesso de A Dupla Vida de Verónica.
Se é verdade que em cada um dos três filmes se ensaia um género diferente (drama, comédia e romance), a forma como Kieslowski nos devolve esta trilogia, defendida respectivamente por Juiette Binoche, July Delpy e Irène Jacob, também fica evidente que o cineasta ensaia ainda os seus opostos. Algo que torna ainda mais fascinantes e únicos estes filmes, e justamente um dos momentos mais fortes do cinema europeu dos últimos anos.
Nota: A nossa opinião (de * a *****)
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