Cosmos
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Estreia finalmente Cosmos, o novo filme do cineasta polaco Andrzej Zulawski, que foi um dos destaques no Lisbon & Estoril Film Festival, cinco anos depois do seu último trabalho. Isto, graças ao apoio do produtor português Paulo Branco que permitiu ao director criar o seu Cosmos, baseado no romance homónimo de Witold Gombrowicz.
Dois amigos franceses (Jonathan Genet e Johan Libéreau) chegam a Portugal e instalam-se numa pensão familiar, onde vive a proprietária (Sabine Azéma), o marido (Jean-Frabçois Balmer), a filha (Victoria Guerra), marido dela (Andy Gillet) e a sobrinha que trabalha como empregada (Clémentine Pons). Entretanto, estranhos acontecimentos ocorrem em redor da casa e começam por assustar os convidados, envolvendo-os gradualmente num universo louco.
Percebe-se que Cosmos é obra de uma personalidade de elevada cultura e educação, servindo-se de referências a obras mestras da literatura e do cinema. Citando títulos de livros e filmes que o inspiraram, Zulawski vai prestando homenagem a escritores e realizadores cujos nomes fazem parte da base da cultura mundial, ainda que dois deles façam particular nexo: o escritor russo Anton Tchekhov e realizador português Manoel Oliveira.
Tal como em Tchekhov, Cosmos centra o seu foco principal no Homem. A vida de um homem comum, insatisfeito com vida e constantemente com fome de mudança, ainda que nada disso suceda. Desde logo, como sucede na dramaturgia de A Gaivota, em que a imagem de um pássaro serve de símbolo do colapso de uma empresa. Ou então as manchas de bolor que vão gradualmente tomando conta do tecto da casa serve de metáfora para as relações pouco saudáveis entre os povos.
De resto, Cosmos assemelha-se bastante ao O Estranho Caso de Angélica e Divina Comédia. Tal como em Angelica, neste albergue reúnem-se estranhos que apenas se preocupam apenas com os seus problemas e experiências pessoais. Além disso, o protagonista é obcecado com sentimentos fortes e incontroláveis para uma mulher. Da mesma forma, recebemos uma irracionalidade similar de A Divida Comédia, um filme igualmente produzido por Paulo Branco, A estranha casa de hóspedes que se assemelha a um hospício, em que cada um dos hóspedes parece ter um estranho prazer em fingir, em jogar. Aliás, eles quase nunca tiram as máscaras.
Aliás, o próprio filme também nunca se afasta do seu plano de organização que poderá escapar a uma lógica muito própria que nunca abandona a arte e a literatura. Entrar ou não neste exercício de estilo arriscado e fascinante caberá apenas ao espectador. Assim assim um cinema sempre fascinante e arrebatador.
Nota: A nossa Opinião (de * a *****)