Pela primeira vez, uma equipa internacional de cientistas liderada por Susana Rodríguez-Echeverría, da Universidade de Coimbra, identificou e quantificou a diversidade de microrganismos do solo presentes nas diferentes paisagens do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), em Moçambique, considerado um dos lugares de maior biodiversidade de África.
O estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), é um contributo importante para o processo em curso de conservação florestal e restauração do PNG.
«Até agora não havia qualquer informação sobre as comunidades de fungos micorrízicos presentes no parque, informação esta que é fundamental para ajudar na gestão eficaz dos ecossistemas no seu todo». afirma Susana Echeverría
Os fungos micorrízicos são fungos que têm uma associação mutualista com as raízes, isto é, criam uma relação vantajosa para ambas as partes, fornecendo nutrientes para o crescimento das plantas e protegendo-as, por exemplo, de pragas. Estes fungos estão, portanto, na base do funcionamento de qualquer ecossistema terrestre.
Ao longo dos últimos três anos, os investigadores recolheram e analisaram amostras do solo dos diferentes tipos de paisagens mais representativas do PNG, entre as quais pradaria, savana e florestas densas, tendo concluído que existe uma alta diversidade de fungos micorrízicos no solo e que, ao contrário do que a comunidade científica pensava, cada paisagem tem uma comunidade de fungos própria, sendo que a diversidade de microrganismos nas florestas é muito maior que na pradaria ou savana.
«A informação obtida no nosso estudo é mais uma importante peça para o complexo puzzle da biodiversidade do PNG, contribuindo para uma gestão informada e esclarecida por forma a garantir a sustentabilidade global dos ecossistemas do Parque», conclui a investigadora da FCTUC.
O estudo, publicado na New Phytologist, revista científica da área da ecologia em ciências vegetais, abre caminho para perceber como se relacionam as diferentes comunidades de fungos micorrízicos e os fatores que afetam a sua distribuição e diversidade no “mosaico” de paisagens do Parque Nacional da Gorongosa.
A equipa pretende ainda estudar as 22 novas espécies de fungos descobertas ao longo do trabalho.