Poemas de Delmar Maia Gonçalves
“Eu, os marinheiros e o porvir”
Os marinheiros como eu
remaram, remaram, remaram
Mas uma bela tarde
os marinheiros pararam de remar
estranha e misteriosamente pararam de remar
E os navios ficaram ali baloiçando
baloiçando no mar alto,
revolto e rebarbado
que tudo engole
Durante dois dias
e duas noites
depois, mais dois dias e duas longas noites
e depois semanas, meses e anos
baloiçando no mar já calmo.
O silêncio tornou-se de morte.
O que aconteceu?
Porque parais de remar
destemidos marinheiros?
Porque parais?
Onde pára a vossa arte
e engenho projectadas para o porvir?
III
Dentro de mim
os Lobos furiosos
e cinzentos
nunca triunfarão
Embora
eu seja apenas mais um homem magro
de olheiras fundas
e os Cordeiros mansos e prudentes
ainda dominem
o meu terreno plano.
“Reino do esquecimento”
Não quero
fazer parte
de um qualquer
reino do esquecimento
Quero vincar bem
minha estadia
fazendo mapas na água.
XXIV
Inconformado
me quedarei
dando um valente
estalo
no vazio do meu pranto!