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Sábado, Novembro 2, 2024

EUA: Bernie Sanders não avança e Biden dispara em primárias democratas

Nova pesquisa frustrou quem esperava uma transferência dos votos de Elizabeth Warren para Sanders.

Surpresa na primeira pesquisa feita nos Estados Unidos após a senadora Elizabeth Warren desistir de concorrer à indicação democrata à Presidência. Levantamento divulgado nesta segunda-feira (9) frustrou quem esperava uma transferência dos votos de Warren para o também senador progressista pelo Vermont Bernie Sanders – os dois representam uma ala mais à esquerda no partido e têm algumas propostas semelhantes.

Os números da sondagem feita pela Reuters, em parceria com o instituto Ipsos, apontam uma migração para a campanha de Joe Biden, que agora aparece com 47% na preferência de democratas e independentes. Binden tem sete pontos percentuais a mais do que na última pesquisa, da semana passada, antes da Superterça. Já o autoproclamado “socialista” Bernie Sanders continua com 30%. Os dois participam de seis primárias nesta terça-feira, que podem definir os rumos da sigla na eleição.

Warren chegou a ser apontada como favorita no final de 2019, rivalizando diretamente com Biden. Mas os resultados das urnas foram bem abaixo do esperado, incluindo um terceiro lugar em Massachusetts, seu domicílio eleitoral. Na quinta-feira passada, ela anunciou a desistência, mas evitando apoiar um dos candidatos. Havia a expectativa inicial de que se unisse à campanha de Sanders, um amigo de longa data com quem chegou a trocar farpas durante a campanha.

Por outro lado, o site Axios revelou que ela já aparece em uma lista de nomes em um eventual governo Biden, cotada para o Departamento do Tesouro. Apesar das diferenças políticas, o ex-vice-presidente de Barack Obama e assessores acreditam que a indicação seria capaz de “unir o partido”. Alguns assessores também cogitam colocá-la como vice-presidente. Nenhum dos envolvidos comentou a reportagem.

Como o voto nos EUA não é obrigatório, a pesquisa da Reuters/Ipsos revela um dado preocupante para a campanha democrata como um todo: apenas 60% dos eleitores identificados com Sanders dizem que votariam em Biden caso ele seja o indicado. Outros 30% afirmam que não vão sair de casa no dia da eleição – ou, então, devem apoiar um candidato de outro partido. Os 10% restantes dizem que podem votar em Donald Trump se Biden for o escolhido.

Em 2016, um percentual similar de eleitores de Sanders, derrotado por Hillary Clinton no campo democrata, votou no republicano – mas não se sabe o impacto que isso teve na derrota dela. A pesquisa ouviu 1.114 eleitores e tem margem de erro de cinco pontos percentuais.

A situação de Sanders

No estado atual da corrida para decidir quem será o candidato à Presidência pelo Partido Democrata, Sanders enfrentará dificuldades para expandir sua base – e o mais provável é que Biden ganhe o maior número de delegados até a Convenção Nacional Democrata, em julho.

“Pode ser que esta corrida ainda esteja competitiva. Mas, neste momento, os democratas do establishment parecem estar convergindo em torno de Biden e fazendo com que as coisas fiquem difíceis para que Sanders siga em frente, embora ele deva continuar. Ele deve seguir na corrida até a convenção”, prevê o professor de Ciência Política da Hamline University, David Schultz.

Essa análise está se consolidando entre os especialistas nos últimos dias. Após a vitória contundente de Biden na Carolina do Sul e as desistências do prefeito Pete Buttigieg e da senadora Amy Klobuchar para apoiá-lo, Biden conseguiu resultados acima dos esperados na Superterça, demonstrando impulso de sua campanha, que tem o apoio das principais lideranças do partido.

“Não parece que Bernie Sanders vá expandir sua base. Então suspeito que Biden seja o provável nomeado. Mas ainda pode acontecer muita coisa, pois 62% dos delegados ainda devem ser definidos de agora até o fim das primárias”, diz o professor Schultz, acrescentando que o cenário mudou “dramaticamente”.

Na quarta passada, após ter ganhado apenas a Samoa Americana na Superterça mesmo tendo investido U$ 500 milhões em sua campanha, o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg desistiu da nomeação e declarou apoio a Biden. Pesquisa da Morning Consult aponta que 48% dos apoiadores de Bloomberg dizem que Biden era sua segunda opção, comparados com 25% para Sanders e 15% para Elizabeth Warren.

Schultz afirma que o nível de competição da corrida deve ser definido por duas etapas das primárias que acontecem ainda neste mês, nos estados de Michigan e de Washington. Segundo o site FiveThirtyEight, Sanders é o favorito para ganhar nos dois estados. Portanto, ainda deve haver noites de vitória para Biden, mas também para Sanders pela frente.

Michigan conta com 125 do total de 3.979 delegados que participarão da convenção Democrata, enquanto Washington tem 89. Ambos decidem seus candidatos nesta terá-feira (10), assim como Idaho, Mississipi, Missouri e Dakota do Norte.

Em 2016, quando disputava a candidatura democrata com Hillary Clinton, Sanders ganhou em Michigan, Washington, Idaho e Dakota do Norte, embora seu desempenho em estados como Massachusetts tenha sido pior neste ano do que há quatro, já que ele dividiu votos com Elizabeth Warren, que é do estado. No seu estado, Vermont, o senador fez 80 mil votos na Superterça, contra quase 116 mil em 2016.

Previsões

O editor da Sabato’s Crystal Ball, Kyle Kondik, afirma que, além de Michigan, será importante acompanhar os resultados em Ohio e Illinois. “Biden deve ganhar a Flórida [219 delegados] e a Geórgia [105 delegados] com grande vantagem mais tarde neste mês. Se Sanders quiser ficar perto, ele precisa ganhar os estados do Meio-Oeste, onde a corrida está disputada”, analisa.

Segundo Kondik, o resultado da Superterça não garante a vitória para Biden, mas diz que o vice-presidente “teve uma grande noite” na disputa democrata. “Parecia que Sanders ia terminar a noite à frente, mas as vitórias de Biden foram surpreendentemente grandes e impressionantes.”

A dúvida é se os candidatos irão para a convenção democrata em julho, em Milwaukee, numa “convenção dividida” – quando nenhum dos candidatos consegue a maioria dos delegados. Nesse caso, entram em jogo os superdelegados, que decidem quem será o candidato independentemente do voto popular. A “convenção dividida” é mais arriscada para o partido. Se o candidato for decidido apenas em julho, Trump terá tido mais tempo de campanha fazendo comícios e atacando os adversários do que a oposição.

Kondik acredita que o risco de uma convenção dividida existe e que cabe agora a Sanders expandir seu apoio como Biden fez. Uma das variáveis para saber qual a chance dos democratas frente a Trump em novembro é saber qual dos candidatos conseguirá convencer mais eleitores a saírem de casa para votar em um país onde o voto não é obrigatório.

Em 2016, um dos fatores que contribuíram para a derrota de Hillary Clinton é que Trump foi mais eficaz do que ela para animar sua base para comparecer às urnas em estados-chave. Até agora, Sanders usava o argumento de que ele seria o candidato mais adequado a convencer os jovens, grupo que tradicionalmente participa em menor proporção das eleições, a votarem. Os resultados da Superterça apontam no sentido contrário: em grande parte dos estados, a porcentagem de jovens entre os eleitores foi menor do que há quatro anos.

O desempenho na Superterça levou Biden ao primeiro lugar no número de delegados, mesmo que não ganhe a maioria absoluta deles. Biden é também o favorito para ganhar o apoio de superdelegados. Sanders insiste que quem tem a maior parte dos delegados, mesmo que não a maioria absoluta, deve ganhar a convenção, independentemente da posição dos superdelegados. Caso Biden fique em primeiro lugar, haverá poucos argumentos que Sanders poderá usar para que a convenção seja decidida a seu favor.


Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

 

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