Depois das primárias de 15 de Março, que aumentaram a vantagem da democrata Hillary Clinton em relação ao seu rival Bernie Sanders, o Democracy Now pediu comentários a três convidados: Geneva Reed-Veal, mãe de Sandra Bland, encontrada morta numa cela da prisão no estado do Texas depois de uma operação stop de trânsito; Nina Turner, ex-senadora do Ohio; e John Nichols, escritor e autor de livros sobre política dos EUA.
Hillary Clinton discursou desta forma perante os seus apoiantes e eleitores: “Não podemos perder o que fez a América grande em primeiro lugar. E não falo só de Donald Trump. Todos temos de fazer a nossa parte. Não podemos apenas falar de desigualdade económica, temos de lutar contra todas as formas de desigualdade e discriminação.”
Já Bernie Sanders (cujo discurso não foi seguido em directo pelas principais televisões norte-americanas, como revela o Democracy Now), disse que, mesmo em democracia, “não é aceitável, independentemente do ponto de vista que tenhamos, que se lancem ataques racistas contra Mexicanos”. “A razão pela qual Donald Trump jamais vai ser eleito presidente é que o povo americano não aceitará insultos contra os mexicanos, muçulmanos ou mulheres. O que Trump quer, o que outros demagogos sempre quiseram, foi fazer das minorias bodes expiatórios, lançar um grupo contra o outro”, acusou.
Geneva Reed-Veal admitiu que a vitória de Clinton foi “esmagadora” e confessou estar entusiasmada, acreditando que está mais próxima a nomeação da ex-primeira-dama para concorrer à Casa Branca. Por sua vez, Nina Turner defendeu Bernie Sanders: lembrou que ele vem de um estado (é senador do Vermont) onde não existe grande diversidade na população, e que quase desde o seu anúncio como pré-candidato à presidência dos EUA, foi como que rejeitado.
“Muito disto tem a vez com a estrutura corporativa dos media, que o afastaram. E por isso não querem que as pessoas ouçam a sua mensagem”, acusou, acrescentando que Sanders e os seus apoiantes ainda não desistiram da luta. “Estamos a ir para o Oeste, onde vamos ver estados que vão ser muito mais competitivos para o senador Bernie Sanders. Mas continuaremos a fazer pressão apesar de tudo. Vamos até ao fim, até à convenção ”.
John Nicols destaca a organização desde as bases da equipa de Sanders, e prevê que nas próximas primárias, o cenário lhe seja mais favorável. O escritor sublinhou que Hillary Clinton é quem vai à frente e que não se pode negar que tenha tido resultados muito bons, mas que ainda não foi escolhida a maioria dos delegados, e que a maioria dos estados ainda não votou; lembra ainda que nos estados onde vão decorrer os próximos caucus, Hillary Clinton não tem tanta simpatia entre o eleitorado, enquanto que Bernie Sanders tem hipótese de acumular mais vitórias.
Geneva Reed-Veal, cuja filha morreu sem explicações claras depois de três dias presa após ter sido detida numa operação stop, revelou que Hillary foi a única que contactou a sua família para saber do que precisavam na altura. Houve um encontro com outras famílias num restaurante em Chicago, “ela veio como Secretária de Estado, como antiga primeira-dama, como mãe e como avó”, descreve a apoiante da candidata. Revela ainda que não foram feitas promessas, apenas se limitou a escrever à medida que as famílias contavam as suas histórias, sem jornalistas por perto.
O facto da candidata presidencial ter-se mantido em contacto com a família de Geneva e de a ter convidado para a Convenção Democrata na Carolina do Sul, onde escutou o desejo de que seja feita justiça no caso da morte da jovem, levou a que a cidadã resolvesse apoiar Clinton. Quanto à morte da jovem, o agente policial que a deteve foi apenas acusado de perjúrio e afastado da corporação; não houve acusação formal de responsabilidade na morte da filha de Geneva, apesar de existirem imagens gravadas do momento da detenção.
Nina Turner assume: “estamos à espera do milagre de Michigan”, aludindo a mais vitórias de Bernie Sanders, que tem simpatia junto do eleitorado dito independente. Declarou o seu apoio ao senador do Vermont, lembrando o seu passado de coerência e de luta por causas que ele considerou justas. Chegou a ser preso por estar ao lado dos afro-americanos na luta pelos direitos civis. Apoiou o reverendo Jesse Jackson quando o Partido Democrata lhe virou as costas, quando em 1988, afirmou que Jackson podia e deveria ser o presidente dos EUA. Mostra defender a causa dos trabalhadores de classe média e baixa e defende um aumento de 15 dólares por hora no salário mínimo do país, para que as pessoas tenham um salário digno para viver. A sua honestidade e integridade, sublinha a comentadora, são a razão pela qual o senador tem o apoio dos eleitores entre os 17 e os 29 anos.
Todos os comentadores concordam numa coisa: falar de Donald Trump é continuar a dar destaque ao polémico candidato republicano, cuja cobertura mediática é tal “que suga o ar da corrida democrata”, acusa John Nichols.