Dois investigadores norte-americanos desenvolveram um “calculador de risco” para prever se a pessoa vai ou não entrar na pobreza. Mark R. Rank e Thomas A. Hirschl, docentes universitários e autores de “Chasing The American Dream: Understanding What Shapes Our Fortunes” (“Perseguir o Sonho Americano: Para Entender o Que Molda As Nossas Fortunas”) criaram o site riskcalculator.org, que permite a qualquer cidadão norte-americano avaliar se pode empobrecer nos próximos cinco, dez ou quinze anos, de acordo com um artigo do jornal brasileiro Estadão, a partir do New York Times.
Os académicos analisaram o risco económico e publicaram os resultados em revistas da especialidade, tal como a maioria dos seus pares. Porém, dizem, “os americanos em geral também podem beneficiar de uma ferramenta que os ajudará a personalizar o enorme volume de dados que analisamos sobre este tema”.
Dizem ter-se inspirado no estudo que um médico faz a um paciente, para prever o risco de doenças cardio-vasculares, apoiando-se em vários dados (níveis de colesterol no sangue, tensão arterial, por exemplo); os números são baseados em critérios estatísticos a partir de uma ampla amostra de famílias que fazem parte do Framingham Heart Study, um estudo de saúde cardiovascular nos EUA que começou em 1948.
Por sua vez, Mark R. Rank (professor na Washington University de St. Louis) e Thomas A. Hirschl (docente na Universidade de Cornell), usam registos extraídos de um estudo iniciado em 1968 e avaliam a probabilidade de um indivíduo cair abaixo do limiar de pobreza oficial, baseando-se em factores como a etnia, o estado civil e a idade.
Recorde-se que, em 2015, o nível de rendimentos de uma família de quatro pessoas americanas, consideradas pobres, situava-se nos 24 mil dólares anuais.
Como exemplo dão um americano de cerca de 30 anos, solteiro e com estudos superiores. O risco de empobrecimento desta pessoa, dizem os investigadores, é de 32%. Ou seja, um terço das pessoas com estas características pode vir a ter pelo menos um ano a viver abaixo do limiar de pobreza, num futuro não tão distante como seria de prever.
Noutra investigação, acrescentam, estimaram que quase 60% dos americanos entre os 20 e os 75 anos viverão pelo menos um ano abaixo desse limiar de pobreza; por sua vez, três quartos viverão um ano 150% abaixo de tal limiar.
Oportunidades para todos… ou nem por isso
Mark R. Rank e Thomas A. Hirschl dizem ainda que o calculador de risco criado por eles sublinha a vastidão das desigualdades sociais nos EUA, uma vez que a etnia, o grau de escolaridade, o estado civil e a idade de uma pessoa podem fazer a diferença em termos de menor ou maior risco de cair na pobreza. Os investigadores apontam este exemplo: o risco de empobrecer em cinco anos é de 5% nos americanos entre 45 e 49 anos, de raça branca, casados e com escolaridade além do ensino secundário. O risco em cinco anos de um indivíduo entre os 25 e 29 anos, não-branco e solteiro, que apenas fez o liceu, ou nem chegou a esse grau, é de 72%.
Os investigadores dizem que o gap (fosso) entre ricos e pobres nos EUA “é o maior já observado em décadas”. “As nossas projecções de risco económico ilustram até que ponto estas divisões demográficas deverão ficar no futuro. À medida que o país se vai tornando cada vez mais não-branco, no futuro, com milhões de jovens americanos sem uma formação universitária e menos propensos a casar, a percentagem de população na pobreza vai certamente crescer”, alertam, acusando ainda a “estrutura de oportunidades”, sobretudo o mercado de trabalho norte-americano, de ter resistido a estes grupos da população.
“As nossas políticas sociais, como as reformas da saúde, habitação e educação, pouco têm ajudado para resolver essas desigualdades sistémicas embutidas na sociedade americana”.
“Corremos o risco de nos tornarmos uma sociedade economicamente polarizada, em que uma pequena percentagem da população está livre de risco económico, enquanto que uma vasta maioria de americanos vai passar pela pobreza como algo normal na vida”, frisam.
Os investigadores esperam que o seu “calculador de risco” possa ser uma forma de chamar a atenção a estes problemas.