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Sábado, Agosto 24, 2024

EUA: cresce a contestação em torno do caso de Flint

water in flint

O congressista norte-americano Jason Chaffetz, presidente de um comité do Congresso, declarou que a Environmental Protection Agency (EPA) agiu com “incompetência descarada” no caso da água contaminada em Flint, estado do Michigan. O The Guardian revelou que Chaffetz colocou em causa o papel daquela agência enquanto regulador da qualidade da água nos EUA e insiste em como a crise da água imprópria para consumo naquela cidade demonstrou sérias falhas na capacidade da instituição federal em proteger o interesse público.

“Houve um falhanço catastrófico de cima a baixo, e alguém tem de ser responsabilizado”, insistiu o congressista republicano ao jornal britânico. “É chocante; a EPA sabia o que se passava em Flint e mesmo assim nunca deixou que ninguém soubesse o que estava a acontecer. Para que é que servem, se sabiam disto e não fizeram nada?”, acusou Chaffetz. “Isto não se resolve com mais dinheiro ou autoridade, porque foram incompetentes em toda a linha”, frisou o congressista, para quem “conceptualmente, precisamos de menos EPA e não mais”.

Esta semana, o comité presidido por Chaffetz vai ouvir em audiência Susan Hedman e Darnell Earley, antigos responsáveis regionais da EPA; Earley era o gestor de emergência para Flint e estava no cargo quando, em Abril de 2014, foi decidido mudar a fonte do abastecimento público de água para o rio Flint, o que causou a corrosão das canalizações e a contaminação por chumbo da água potável.

Tornou-se público que a EPA sabia do problema muito antes de ser declarado o estado de emergência em Dezembro. Noutra audiência, a agência federal alegou que sabia da crise da água, mas que “encontrou resistência” das autoridades de Michigan, chegando a afirmar que os investigadores foram ignorados quando deram o alerta, e agentes locais postos de parte.

 

Governador do Michigan na mira

Outros responsáveis a serem auscultados pela comissão são Gina McCarthy, administradora da EPA, e o governador do Michigan, Rick Snyder, que enfrenta crescente contestação e pedidos de demissão, sobretudo depois de terem sido revelados emails onde os seus conselheiros mostraram estar a par dos problemas “absolutamente assustadores” em Flint, pouco depois da mudança de fonte da água em 2014. Porém, o governador recusou-se a regressar para o abastecimento em Detroit devido aos custos de tal acção – 1 milhão de dólares.

Gerir a crise da água em Flint custou até agora ao estado do Michigan 70 milhões de dólares, incluindo o risco que 8 mil crianças enfrentam de vir a ficar doentes por terem bebido água com elevados níveis de chumbo, um metal pesado e neurotoxina em potência.

Os funcionários da EPA falharam nos testes à água, pelo que os habitantes de Flint recorreram a cientistas de Virginia Tech para revelarem os elevados índices de chumbo.

O congressista do Utah visitou a cidade de Flint na semana passada e afirmou estar preocupado com a ausência de um plano concreto para resolver esta crise. O trabalho deste congressista republicano mereceu até os elogios dos seus rivais democratas, que sublinham a sua vontade de trabalhar com o partido, numa mudança em relação à forma como a comissão trabalhava no passado, acrescentou o The Guardian.

Chaffetz disse que trabalhou “a par com Elijah Cummings e tem funcionado bastante bem. Nós provavelmente discordamos em muitas questões políticas, mas como ser humano e como alguém que se preocupa com o seu país, tenho a melhor opinião dele”, declarou Chaffetz.

 

Famílias de Flint recorrem aos tribunais

Entretanto, a agência Reuters noticiou que um grupo de famílias da cidade no estado do Michigan recorreu aos tribunais, acusando companhias privadas de abastecimento de água de negligência e funcionários governamentais de má conduta no caso da água contaminada. Estes processos dizem respeito a cinquenta crianças, que podem sofrer de contaminação por chumbo, depois de terem bebido água de Flint.

Os processos foram instaurados por Corey Stern, jurista de Nova York cuja especialidade é o envenenamento de crianças por chumbo.

Os queixosos exigem indemnizações a duas companhias que levaram a cabo a mudança da fonte de abastecimento de água daquela região. Foram também processados dois funcionários do estado e um funcionário da cidade por negligência grosseira.

Outros processos, entretanto instaurados, exigem indemnizações ao governador Rick Snyder, compensações por facturas da água e substituição imediata das canalizações que contêm chumbo.

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