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Quinta-feira, Janeiro 23, 2025

Será Donald Trump fascista?

facista
Robert Paxton, docente de Ciências Sociais da Columbia University, autor de vários livros sobre o crescimento do fascismo na História moderna europeia, voltou a ser convidado pelo Democracy Now para tentar responder à pergunta: será Donald Trump fascista?

Esta questão é levantada, depois de cada vez mais pessoas virem a público ligar o bilionário aspirante a candidato à Casa Branca a líderes ou ideologias fascistas. Por exemplo, Robert Reich, ex-secretário de Estado do Trabalho, o actor George Clooney, o comediante Louis C.K. e Eva Schloss, a meia-irmã de Anne Frank, insinuaram em público que Trump era fascista.

Mais recentemente, Enrique Peña Nieto, presidente do México, atacou Trump por invocar Mussolini e Hitler nos seus discursos. Numa ocasião, depois de ter publicado na sua conta de Twitter, uma frase atribuída ao ditador italiano, Donald Trump considerou que “é normal saber que é de Mussolini. É uma citação muito boa”. Antes deste episódio, as reacções dúbias do candidato republicano acerca do apoio público dado pelo Ku Klux Klan à sua candidatura levantaram vozes muito críticas.

Para Robert Paxton, “Trump mostra uma muito alarmante vontade de usar temas e estilos fascistas, os quais têm tido uma resposta positiva, que é alarmante”. O docente e escritor definiu fascismo como “um movimento nacionalista de massas cujo objectivo é restaurar um país em declínio ou dificuldades, por expansão, por ataques violentos contra inimigos, internos ou externos, e a substituição de uma democracia por uma ditadura autoritária”.

No caso de Adolf Hitler, foi precisa uma escalada de 13 anos, partindo de um movimento minoritário em Munique, Alemanha, constituído por veteranos de guerra insatisfeitos. Paxton lembrou que a Grande Depressão de 1929 e 1930, e a crise económica brutal que se seguiu, gerou o bloqueio da República de Weimar na Alemanha; entre 1930 e 1933, o presidente von Hindenburg governou por decreto. Aí, lembrou Robert Paxton, Hitler já tinha uma margem confortável de votos, tal como o Partido Comunista alemão. E o sistema prefere Hitler aos comunistas, mas uma vez dentro como chanceler, decide tomar o poder total, sem oposição de qualquer espécie. Consegue que o Reichstag (Parlamento) aprove uma lei que lhe permita governar por quatro anos sem consultar aquele órgão legislativo, e aproveita-se disso para cimentar o poder.

Eva Schloss, a meia-irmã de Anne Frank (Otto Frank voltou a casar depois da família ter sido dizimada em Auschwitz) considerou que se Trump se tornar o próximo presidente dos EUA, “vai ser um desastre total”. “Lembro-me como o mundo se preocupou quando o muro de Berlim foi construído em 1961 e agora toda a gente está a construir muros de novo para manter as pessoas de fora. É absurdo”, acusa.

Cauteloso, Robert Paxton diz que não se sabe o que faria Donald Trump se fosse presidente, por ser “uma personalidade auto-centrada e agressiva”. Para o autor, o perigo está num impasse entre Trump e o Congresso norte-americano ou Trump e os tribunais. “Ele de certeza iria agir de forma não-constitucional, e as pessoas teriam medo de dizer não”.

Sobre os distúrbios ocorridos (ou causados a propósito de) em comícios do candidato republicano em vários pontos do país, Paxton afirma que “o favorecimento de Trump aos instintos de violência e ódio de algumas destas multidões é alarmante”. “Mas numa perspectiva de longo prazo, tivemos piores actos de violência que estes, durante a campanha pelos direitos civis. Pessoas foram alvejadas, lançaram cães contra elas, foram atingidas com fogo, foram assassinadas pessoas nas campanhas de direitos civis; isto em comparação não é nada”, lembra Paxton, para quem Trump é um homem perigoso e de temperamento violento mas a uma escala pequena.

O professor universitário e autor de vários livros constatou a “estranha dicotomia” existente nos EUA: de um lado, uma minoria de pessoas com riquezas “faraónicas” e a maioria da população a dar-se bem, seguindo-se um grupo de pessoas em pior situação com salários estagnados e oportunidades de trabalho que estão circunscritas a pessoas com formação técnica que as pessoas com baixa escolaridade não tem. Quem se sente a ficar para trás, acrescenta, acaba por ficar zangado.

Sobre Donald Trump, insiste Paxton, trata-se de um homem imprevisível, que tem um temperamento de tal forma que poderá vir a provocar crises na política externa que não deviam existir e conflitos internos desnecessários, sublinhou.

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