Nas vésperas das eleições primárias de Terça-Feira nos EUA (a “Super Terça-Feira”), que podem decidir quem se vai candidatar à Casa Branca, os democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders protagonizaram, na passada semana, um aceso debate em New Hampshire.
Sanders, o governador do estado de Vermont, insistiu em questionar a antiga primeira-dama acerca dos seus apoios de campanha, acusando-a de “representar o establishment” ao invés de si próprio: “represento, espero eu, o americano simples”. Perante o facto de Clinton desvalorizar, e até ironizar, a acusação do veterano senador, Sanders replicou que a secretária de Estado tinha angariado 15 milhões de dólares de Wall Street, facto que enfureceu a pré-candidata à Casa Branca, que o desafiou a falar claro e o acusou de usar “artifícios” na campanha para a atacar. “Estes tipos de ataques e insinuações não são dignos de si”, replicou.
Apesar de ambos os candidatos democratas concordarem que é preciso reformar o sistema de financiamento das campanhas, Sanders prosseguiu a argumentação visando Hillary Clinton: estabeleceu uma relação entre a desregulação do mercado bolsista de Wall Street e as contribuições do mesmo para lobby político e campanhas eleitorais; perguntou por que motivo os americanos pagavam elevados preços pelos medicamentos prescritos, sem que o governo interferisse no assunto; sublinhou que os poucos avanços no combate às alterações climáticas podiam estar relacionados com o poderoso lobby da indústria petrolífera; e foi mas longe ao acusar o financiamento destas grandes empresas de “minar a democracia americana, e permitir que o Congresso represente abastados contribuidores de campanha ao invés das famílias trabalhadoras do país”.
Mais tarde, Bertha Lewis, do The Black Institute, e Lee Fang, jornalista de The Intercept (site que revela factos sobre as relações entre dinheiro e política nos EUA) comentaram o debate em causa. A primeira declarou-se “chateada” pelas “artimanhas” de Sanders – as insinuações dos apoios milionários à campanha de Clinton – e afirmou mesmo que se devem ver os eleitores não como “coisas monolíticas” mas como cidadãos com pontos de vista variáveis. Bertha Lewis disse ainda detestar o uso de rótulos como “establishment” porque isso representa a imitação dos debates feitos pelos candidatos republicanos.
Por sua vez, Lee Fang afirmou que até é saudável que o Partido Democrata possa debater sobre aquilo que é, e perguntou-se se os democratas deveriam ter acesso aos mesmos fundos e ao mesmo sistema de financiamento que alimenta o Partido Republicano; questionou se os democratas deveriam ou não recorrer ao mesmo sistema de lobbystas e de grandes financiadores a que recorrem os republicanos para as disputas políticas. Mas concordou com Sanders quando este alertou para o facto de ser muito difícil discutir ou alterar assuntos como Wall Street, alterações climáticas ou política fiscal, quando as mesmas empresas e indústrias que ganham do statuos quo têm “no bolso” uma série de políticos e controlam o processo de decisões políticas.