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Quarta-feira, Julho 17, 2024

O que o Euro significa para os salários?

Jorge Fonseca de Almeida
Jorge Fonseca de Almeida
Economista, MBA, Pos-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança, Auditor do curso de Prospectiva, geoeconomia e geoestratégia, Doutorando em Sociologia

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O salário mínimo evoluiu de 1999 a 2015 à modesta proporção de 1% ao ano enquanto a economia, medida pelo PIB cresceu à taxa de 2,57% ao ano.

Foi no dia 1 de Janeiro de 1999 que o Euro entrou em vigor de forma plena em termos monetários, fixando permanentemente os câmbios das várias moedas dos países participantes, embora as notas e moedas só tenham sido introduzidas em circulação em Janeiro de 2002.

A partir desse momento, Portugal perdeu um dos instrumentos mais poderosos da política económica, deixando de ter controlo sobre a sua própria moeda, aceitando que os países centrais, a Alemanha e a França, assumissem o completo comando da nossa política cambial e monetária.

Imediatamente se sentiu o efeito desta nova realidade através por um lado de um significativo abrandamento económico e de um avolumar de desequilíbrios macroeconómicos, nomeadamente ao acumular de uma enorme dívida das empresas privadas que sendo excepcionalmente elevada só poderia ser financiada por um endividamento dos bancos junto dos seus congéneres europeus.

Pressionadas pela sua falta de competitividade e pelo peso crescente do serviço da dívida as empresas sem grande imaginação apertaram os salários como forma de manter os níveis de lucro.

Fonte: Pordata
Fonte: Pordata

Assim, a partir de 1999 os salários começaram a ser comprimidos, com aumentos modestos ou mesmo inexistentes e as carreias bloqueadas, tudo a par com uma crescente precariedade no trabalho, ela própria propiciadora da estagnação/redução de salários.

Com o rebentar da crise de 2008 e o corte de financiamento externo aos excessivamente endividados bancos portugueses, estes acabaram por pressionar o Estado português (governo de José Sócrates) a pedir auxilio externo. Este aperto de crédito externo levou a um aperto de crédito às empresas o que precipitou a crise económica, gerando maior desemprego e novo ajuste em baixa dos salários. O PIB e os salários diminuíram e ainda não regressaram aos níveis de 2010/2011.

Poderia ser diferente? Sim. Sem o Euro o crescimento da enorme dívida das empresas teria sido impedida pelas autoridades ajustando as taxas de juro, pelo que a situação de dependência externa em termos de dívida externa dos bancos portugueses nunca teria existido. Por outro lado o desequilíbrio externo em termos de mercadorias e serviços também não teria atingido tais proporções, uma vez que a política cambial teria sido usada para o moderar.

Sem estes dois efeitos o mercado de trabalho não estaria sob tanta pressão e, tendo em conta a sensata força reivindicativa dos sindicatos afectos à CGTP, teria sido possível outra política salarial e menores níveis de desemprego e precariedade.

A realidade é que o Euro é um verdadeiro travão ao crescimento salarial e à estabilidade laboral empurrando toda uma geração para a emigração e a pobreza. Portugal precisa pensar seriamente em libertar-se deste peso que o atrasa e mortifica a sua população.

Nota do Director

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