Ideia amplificada com contornos amplos no coração ideológico de judeus e de cristãos, o messianismo tornou-se extensivo a muitas manifestações dos povos, como crença de salvação por intervenção externa, concepção que no mundo da política perde o carácter sacro para ganhar características do inesperado e por vezes com consequências devastadoras.
Hitler foi um messias para os alemães que queriam a afirmação da sua pátria recentemente unida e pouco afirmada perante os outros países do seu tempo; tal como Salazar foi um messias para os portugueses desnorteados por uma república minada pelas crises.
Barack Obama atingiu o topo como o esperado messias anticrise norte-americana e Trump quer ser o messias, um sucessor, o esperado americano que reanime o american way of life. Sidónio Pais foi um messias na I República. A CEE foi a ideia messiânica da nossa salvação.
Agora os pobres ingleses acham que uma saída da Europa é a carga messiânica esperada para fazer frente aos seus medos mais recentes.
Trata-se do regresso da ideia grega de um deus ex machina – que é uma visão messiânica de um deus surgido da máquina, um deus que – no teatro grego clássico – aparecia no fim da peça (graças a uma máquina que o transportava para a cena ) e resolvia os enredos mais embaraçados.
Uma intervenção “mágica” para fazer face sobretudo à incapacidade de resolver os problemas enquanto tal. Se o messianismo religioso não apresenta uniformidade, pelo menos não é um conceito tão claro que seja capaz de nos apaziguar, as interpretações que dele fazemos em certos momentos históricos, esse messianismo teatral que a política tornou como seu, menos se prefigura como uma uniformidade conceitual clara. Se os povos caem nessas armadilhas de crença, também se livram das mesmas com inesperada sabedoria.
O messianismo encerra, por isso mesmo, uma noção variante em diferentes épocas e culturas. Assume contornos levemente distintos nas diversas áreas do conhecimento que o refletem. Se hoje os ingleses, numa votação de quase empate, à justa, caíram no erro de se separarem da união económica e política que os tem sustentado, com medo das fragilidades da Europa e com o egocentrismo que já mostrou no passado (o Reino Unido acima dos outros, que nem adotou a moeda única, nem se submeteu às regras que pretendiam bem comum e unidade e não as contradições que foram permitindo), não tardará a sofrer com o equívoco.
Já se ouvem as gargalhadas de Putin e de Obama, as excreções de Donald Trump e a inquietação dos povos – escoceses e irlandeses, por exemplo, pedem já a independência perante a estupidez democrática que os afunilou neste momento da história.
A palavra messianismo ocorre-nos, portanto, neste momento em que a Europa se afunda (levando-nos para baixo, por parecer que somos um dos países mais afetados pelos britânicos e a sua cobardia separatista). Messianismo, sim; a palavra refere, primeiro, um conjunto de ideias bíblicas que dificilmente podem ser definidas e as opiniões dos estudiosos diferem consideravelmente sobre a sua dimensão e uso.
Se olharmos com atenção, nem se pode abordar a questão do messianismo na Bíblia, supondo que a ideia messiânica seja uma noção clara em si mesma e definida de antemão, que não é. O Messianismo é sempre um desejo de futuro – esse lado inesperado para todos -, uma esperança que virá como salvação colectiva, uma expectativa.
Para os judeus é ainda mais, ficando claro uma das suas facetas: comporta uma vinda vitoriosa (de um salvador) e um ajuste de contas com os inimigos, com destaque maior da exaltação do povo eleito e do castigo inevitável para os inimigos. Em muitas interpretações, o messianismo conta com o fim da história e com uma intervenção do próprio Iahweh.
Os britânicos agarraram-se às saias dos seus mais profundos receios. Esperam que a Brexit, a sua saída da Europa, seja a salvação dos seus temores. Voltaram a ser o que sempre foram: uma ilha. É uma atitude fundamentalista, nacionalista e egocêntrica. Os europeus enlouqueceram – e mais uma vez seremos nós a pagar a estupidez alheia.
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