Mario Conde, o antigo banqueiro espanhol e ex-presidente do Banesto, detido na passada segunda-feira por suspeita de transferir para várias sociedades em quatro países (Suíça, Reino Unido, Itália e Holanda) dinheiro do banco do qual tomou posse no início dos anos noventa, vai ficar preso enquanto decorre a investigação das autoridades.
O magistrado Santiago Pedraz, da Audiencia Nacional do país vizinho, determinou que o antigo banqueiro ficará preso em Soto del Real, sem fiança, revela o jornal espanhol El País. Conde fora detido noutra ocasião, depois de cumprir uma pena inicialmente prevista de vinte anos pelo caso Banesto. O advogado Francisco Javier de la Vega, que terá participado com Mario Conde no esquema de lavagem desse dinheiro, ficou também detido.
Família e advogado suspeitos de participar no esquema
As investigações das autoridades espanholas indicam que o antigo banqueiro terá desviado do Banesto 13 milhões de euros desde 1999, apesar de se ter declarado insolvente quando foi confrontado com as indemnizações a pagar no âmbito dos processos judiciais; Conde chegou a pedir dinheiro para pagar fianças, por forma a sair da prisão.
Para além de Mario Conde e do advogado de la Veja, a Fiscalía Anticorrupcíon (principal instituição judicial espanhola de combate à corrupção) também pedira a detenção em prisão domiciliária da filha do antigo banqueiro, Alejandra Conde (invocando risco de fuga e destruição de provas). Mario, o filho do detido, foi posto em liberdade com obrigação de apresentações periódicas perante as autoridades.
Alejandra Conde é considerada pelas autoridades espanholas a “co-directora” do esquema. A filha do ex-banqueiro detinha 50% de uma das sociedades em Espanha, a qual terá recebido o dinheiro desviado, proveniente de quatro das sociedades sedeadas no estrangeiro (as quais terão recebido o dinheiro previamente desviado para ser “branqueado”), revela o El Mundo.
A operação das autoridades espanholas resulta da queixa interposta pela Fiscalía Anticorrupcíon contra 15 pessoas, no passado dia 29 de Março, após um aviso do Servicio de Prevencíon del Bloqueo de Capitales (organismo espanhol que investiga suspeitas de branqueamento de capitais).
Oito dessas pessoas foram detidas. A investigação, acrescenta o El País, durou meses sob o pedido da Fiscalía, alertada pela Hacienda (ministério das Finanças), a qual recebera uma denúncia de que estava a chegar dinheiro proveniente do estrangeiro, destinado a sociedades por detrás das quais estavam o ex-banqueiro ou os seus testas-de-ferro.
Antecedentes de um banqueiro “vítima de conspiração”
Esta detenção de Mario Conde surge 23 anos depois de surgir o chamado “caso Banesto” e mais de uma década depois de sair da prisão, onde cumpriu 11 dos vinte anos previstos na sentença ditada pelo Supremo Tribunal espanhol em Julho de 2002, por apropriação indevida, falsificação de documentos e roubo.
O Banco de Espanha teve de intervir no Banesto em 1993 depois de descoberto um buraco de 2700 milhões de euros naquele banco, que posteriormente foi absorvido pelo Santander.
O antigo banqueiro declarara insolvência, porém, ao sair da prisão parou de pagar as indemnizações devidas e recuperou as propriedades de que dispunha antes de ir preso: um chalet em Madrid, propriedades e imóveis de luxo em Sevilha, nas Baleares e na Galiza.
Apesar da sentença ter estabelecido o confisco dos seus bens para garantir a devolução do dinheiro ao banco e seus accionistas, o sistema judicial espanhol permitiu que os magistrados não chegassem a pedir aos respectivos registos oficiais que fizessem anotações preventivas de embargo.
Suspeita-se que então Mario Conde aproveitou o facto para hipotecar algumas das propriedades, impossibilitando assim o leilão de parte do património do qual continuou a beneficiar. Por este motivo, o ex-banqueiro também é acusado de “insolvência punível”.
Mario Conde chegou a candidatar-se, em 2012, a eleições locais na Galiza pelo partido Sociedad Civil y Democracia, sem alcançar um assento parlamentar daquela região. Nessa altura, a Audiencia Nacional deu-se conta do erro e ordenou o embargo de cinco dessas propriedades. Conde negou ter alguma relação com elas, sendo que várias estão em nome de familiares e testas-de-ferro, de acordo com as investigações.
O ex-presidente do Banesto sempre insistiu que o dinheiro não era seu e que fora vítima do “sistema”, chegando a escrever um livro sobre o assunto em que acusou o Governo do PSOE, então no poder, de conspirar para deter a sua carreira no mundo financeiro e travar as suas aspirações políticas.
Os lucros da venda do livro “Los Dias de Gloria” (“Os Dias de Glória”) eram depositados nas empresas detidas pelo antigo banqueiro em Espanha, bem como os ganhos resultantes de uma série de televisão e como comentador no canal televisivo Intereconomia.