Prefiro adolescentes que se interessam por causas políticas e ambientais do que adolescentes sentados/as muito aborrecidos nos bancos da escola, a matarem o tédio com bolinhas de papel atiradas aos professores.
Prefiro jovens que aderem a uma causa política do que jovens que passeiam pelos shoppings meneando ancas e mamas que ainda não têm. Prefiro ativistas empenhados do que gunas das claques desportivas. Prefiro raparigas como a Greta do que betinhas com unhas de gel, que falam alto e riem desbragadamente em locais públicos.
Alunos pouco mais velhos do que Greta passam o primeiro ano da universidade em praxes maldosas, maliciosas e ridículas.
Aqui em Portugal todo um tsunami passa pela escolas, pela falta de pessoal, a falta de professores motivados, o envelhecimento do quadro dos que teriam por função ensinar.
Será a escola muito motivadora?
Depois da escola segue-se a cruz da procura de emprego. Procurar emprego é uma tarefa fastidiosa, onde a maioria vai ganhar o salário mínimo nacional e subsistir à custa de ajudas dos pais. Arranjar um emprego é um alivio, que vai permitir consumir bens a que antes não tinham acesso. Foi para isso que serviu a tal escola?
Os jovens que vêm de famílias ricas vestem roupas de marca, sapatos de marca, e têm raça. Os filhos da maioria pobre ou remediada, exige, por vezes com violência, dos pais umas sapatilhas ou uns jeans de moda. Mas continuam com o estigma de não terem marca nenhuma. São assim a modos que rafeirosos.
Sim, uma campanha de raiva, de ódio, de maledicência persegue Greta Thunberg. Uma campanha sobretudo feita por elementos do sexo masculino que parecem incapazes de admitir o valor da liberdade que a adolescente sueca conquistou ao fazer os seus primeiros protestos sozinha.
As mais variadas mentiras e fake news são dedicadas à menina de 16 anos.
Mas eu preferia ter uma filha como a Greta que apesar de ter um Síndrome de Asperger, em vez de estar chumbada em medicamentos viaja pelo mundo defendendo a sua causa e alertando para os perigos do esgotar de recursos e para as consequências para o ambiente.
Faço notar o seguinte: pessoas que são pais e mães de adolescentes, quando se riem jocosamente de Greta, quando acompanham a sua luta tentando sempre diminui-la, quando exprimem estas opiniões na mesa familiar, espero que os respetivos filhos nem os ouçam e continuem a brincar com o telemóvel. Espero que os filhos destes críticos cínicos os considerem ridículos e decidam, eles mesmos serem independentes dos botas de elástico e se manifestem contra a capacidade de Greta pela defesa da causa do ambiente.
Tenho receio de que se os filhos dos adultos escutarem reverentemente o que dizem os pais que odeiam Greta não acabem por pensar que, sim, é melhor ir ao shopping, ao concerto pimba, ou fumar um charro com os amigos.
As primeiras viagens que fiz sozinha foram exatamente para a Dinamarca e Suécia. Naquela altura fiquei surpreendida porque as crianças estavam muito tempo fora das escolas, iam apanhar cogumelos para a floresta, sabiam construir abrigos para se poderem abrigar durante uma eventual tempestade de neve. Os adolescentes viajavam com a escola, e inserido no programa escolar, para destinos onde eu nunca tinha ido, por exemplo Londres e Amesterdam. Tinham toda a informação sobre doenças sexualmente transmissíveis e tinham informação sobre como se defenderem de abusadores sexuais. Os rapazes e as raparigas conviviam muito e de forma intensamente livre. Eram estimulados a explorarem interesses fora do currículo escolar. Tinham tendas de campismo e usavam-nas ao fim de semana com os amigos.
Era uma cultura de liberdade onde se esperava que crianças e adolescentes fizessem perguntas e os adultos tentavam a descobrir respostas.
Foi nesta cultura que Greta nasceu. E também os pais dela.
Lá em cima no norte da Europa isso é assim.
Cá em baixo, no sul, a cultura judaico cristã com a respetiva reverência pelos mais velhos, reverência muitas vezes abúlica, são os próprios pais que atacam a menina que soube emancipar-se. Os pais que sabem tudo.
Ilustração: Escola dos patos Donald, de Beatriz Lamas Oliveira
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90