O Expresso publicou este sábado um “relatório das secretas” a que deu grande destaque e que viria a ter larga cobertura em rádios e televisões.Lendo o relatório identificavam-se facilmente um conjunto de fragilidades que estranhamente o Expresso e os seus seguidores deixaram passar sem reparo. Desde logo, o facto de o relatório não ser atribuído em concreto a um serviço ou a um ou vários autores, e apontar apenas os destinatários: Unidade Nacional contra o Terrorismo da Polícia Judiciária e SIS.
Por outro lado, o relatório contém juízos de valor e adjectivação sobre o ministro da Defesa e sobre o poder político e militar que não são normais em documentos oficiais. Mais estranho ainda, em vez de conclusões o relatório apresenta cenários, nada menos que dez, E, ironia suprema, um desses cenários levanta a probabilidade de “encenação do assalto” para descredibilização do Governo, do ministro e do Chefe do Estado Maior do Exército (CEME).
As fragilidades do relatório ficaram mais nítidas quando o CEMGFA e o CEME desmentiram a existência de qualquer relatório e, ao fim do dia, o Presidente Marcelo, Comandante Supremo das FA, e o primeiro-ministro afirmaram que desconheciam tal relatório, o que seria inadmissível se se tratasse de um documento oficial.
O Expresso manteve, porém, a sua versão sobre a autenticidade do relatório, afirmando que ele existe e que se baseia “em fontes abertas (provenientes, por exemplo, da comunicação social) e em fontes fechadas (obtidas através de fontes próprias).”
Este caso lembra um relatório baseado também em “fontes abertas” (prática corrente nos relatórios do SIS) sobre a vida pessoal de Francisco Balsemão, fundador do Expresso e dono do grupo Impresa, alegadamente pedido pelo “super espião” e ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), Jorge Silva Carvalho, a João da Silva Luís, diretor operacional do mesmo serviço funcionário da sua confiança, numa altura em que este já se encontrava ao serviço da Ongoing (empresa liderada por Nuno Vasconcellos, que na altura estava em litígio com o grupo de Balsemão). Balsemão recorreu à Justiça e o super espião foi condenado a pagar-lhe uma indemnização.
Era, pois, suposto que um relatório com as fragilidades apresentadas pelo documento que lhe foi facultado e sem autoria mereceria da parte da direcção do Expresso uma análise cuidada ao seu conteúdo e à credibilidade de quem lho facultou. O facto de nenhuma das entidades oficiais – Presidente, Governo e chefias militares – assumir a sua paternidade obrigaria agora o Expresso a quebrar o sigilo da fonte e a divulgar os seus leitores a autoria do relatório.
Acresce que este relatório e o tipo de fontes em que se baseia (fontes abertas e próprias) remete para o relatório que visou Francisco Balsemão. Nem que seja por isso, justifica-se que o Expresso divulgue os seus autores.
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