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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Faleceu Paulo Cunha e Silva, vereador da autarquia portuense

Paulo Cunha e Silva faleceu aos 53 anos, na madrugada de Terça para Quarta-Feira, vítima de um enfarte do miocárdio agudo. Câmara Municipal do Porto decreta três dias de luto Municipal.

pauloPassavam poucos minutos da meia-noite quando o óbito de Paulo Cunha e Silva foi declarado. Horas antes, o “homem” que muitos consideram que “mudou a cultura no Porto” tinha marcado presença na abertura da retrospectiva integral da obra de Manoel de Oliveira, no Museu de Serralves. Foi depois do jantar, na sua casa em Matosinhos, que não resistiu a um enfarte do miocárdio agudo. Foi assistido por amigos e pelo INEM mas acabou por sucumbir aos 53 anos.

O corpo do vereador da Cultura da autarquia portuense vai estar em câmara ardente no palco do Auditório Manoel de Oliveira, no Teatro Municipal Rivoli, até às 14h00 desta Quinta-Feira, hora a que sairá o cortejo fúnebre para a Igreja da Lapa para uma missa. Num curto comunicado, emitido pela Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira decretou três dias de luto Municipal e referiu que as portas do Teatro estarão abertas toda a noite “a todos os que queiram prestar homenagem” ao vereador.

Com uma agenda bastante preenchida e com um ritmo um pouco alucinante, Paulo Cunha e Silva ficou conhecido por mobilizar pessoas de todos os quadrantes em torno dos seus projectos, que procurava que chegassem a bom porto, nem que isso o levasse até à exaustão. E conseguia essa interligação através de uma capacidade invulgar e criativa. Ainda na última semana, durante o fórum do Futuro, andou numa correria entre diversos espaços da cidade do Porto. Este fórum, que teve como tema a Felicidade, contou com personalidades como o filósofo francês Gilles Lipovetsky, o arquitecto Eduardo Souto Moura ou a ex-actriz pornográfica Sasha Grey. E Paulo Cunha e Silva já tinha decidido o tema para a edição de 2016, que será sobre a Ligação.

Nos dois anos que esteve à frente do Pelouro da Cultura da autarquia, Paulo Cunha e Silva procurou que o Porto voltasse a ter grande peso a nível cultural e foi a principal figura no processo que devolveu o Teatro Municipal Rivoli à cidade.

Para já é Rui Moreira que assume a vereação da Cultura da Câmara do Porto, nomeou como seu adjunto o braço-direito de Paulo Cunha e Silva, Guilherme Blanc, e deu indicações para que toda a programação já agendada se mantivesse.

Reacções não se fizeram esperar

Paulo Cunha e Silva era muito activo nas redes sociais e foi através do Facebook que as reacções à sua morte começaram a chegar. O presidente da Câmara Municipal do Porto postou uma foto invulgar do vereador, que demonstra o seu carácter inovador e carismático. Já Manuel Pizarro, vereador do PS, prestou homenagem ao colocar uma declaração de Paulo Cunha e Silva: “A cultura é o cimento que se infiltra. Que cria uma ideia de identidade e de pertença, favorecendo a coesão social, mas também o desenvolvimento económico”. O director do Fantasporto, Mário Dorminsky, definiu o autarca como um “homem afável e dinâmico que, como pessoa de cultura que sempre foi, transformou uma cidade moribunda culturalmente num palco para as artes e o pensamento”.

Voto de pesar leva a discussão na Assembleia da República12241698_1258280794198011_7526178070447816785_n

A moção de pesar pelo falecimento de Paulo Cunha e Silva, da autoria dos deputados do PS eleitos pelo círculo eleitoral do Porto, provocou o primeiro incidente parlamentar da nova Legislatura, onde o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, travou uma acesa discussão com a agora deputada do PSD, Paula Teixeira da Cruz.

O texto foi introduzido para aprovação à margem da ordem de trabalhos, como o voto de pesar pelo falecimento do antigo chanceler da República Federal Alemã Helmut Schmid, e a sua aprovação ficou adiada por uma semana. A bancada do PCP, através do seu líder parlamentar João Oliveira, foi a primeira a questionar este processo, já que não tinham lido a moção.

Mas foi a ex-ministra da Justiça que questionou a organização da presidência do Parlamento, afirmando que o facto de não ter distribuído por todos os deputados os documentos não facilitava “o conhecimento atempado do que se vai votar”. Ferro Rodrigues ainda tentou colocar a hipótese de alterar do “ponto de vista procedimental” a entrega dos votos de pesar antes das sessões plenárias.

Quando Paula Teixeira da Cruz tentou responder ao deputado socialista Ascenso Simões, que considerou que este seria um problema relacionado com a organização do grupo parlamentar do PSD e pediu mesmo aos serviços para entregarem à deputada social-democrata um “regimento actualizado”, foi impedida por Ferro Rodrigues, que apelou à sua contenção. Paula Teixeira da Cruz aclamou: “Democracia! Democracia!”.

Um médico que sempre amou as artes

Paulo Cunha e Silva nasceu no Alentejo, em 1962, era filho de um juiz e de uma professora e passou grande parte da sua vida entre Braga e Porto. Licenciou-se em Medicina e obteve os graus de mestre e doutor pela Universidade do Porto, onde foi professor de anatomia. Actualmente, era Professor Associado de Pensamento Contemporâneo na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Foi um dos principais responsáveis pela programação do Porto 2001 que se tornou conhecido mediaticamente, o que levou a revista Visão a considerá-lo com um dos “200 portugueses mais influentes”.

Paulo Cunha e Silva foi ainda presidente do Instituto da Artes do Ministério da Cultura, Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Roma e Comissário de um extenso programa de Guimarães 2012. Mantinha uma estreita colaboração desde há largos anos com a Fundação de Serralves, com a Fundação Gulbenkian e era presidente da Comissão de Cultura do Comité Olímpico Português.

Assumiu a vereação do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto em 2013, a convite do actual presidente da autarquia, o independente Rui Moreira. No passado dia 20 de Outubro recebeu as insígnias de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras, uma das mais importantes condecorações honoríficas da república Francesa e que distinguiu o seu papel ao serviço da cultura.

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