O Irão rejeitou ontem “firmemente” as acusações de Marrocos, que anunciou na terça-feira o corte de relações com Teerão, acusando-o de ter facilitado uma entrega de armas à Frente Polisário, movimento independentista do Sahara Ocidental. Já terça-feira a Frente Polisario emitiu um comunicado no qual negou categoricamente as acusações de Marrocos “A Frente POLISARIO nega categoricamente a existência de instrutores militares ou a presença militar de qualquer potência estrangeira junto do Exército de Libertação do Povo Saharaui, o braço armado da Frente POLISARIO..”
O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Burita, disse na terça-feira dispor de “provas irrefutáveis” sobre uma recente “entrega de armas” à Polisário, movimento apoiado pela Argélia, através de um “elemento” da embaixada do Irão em Argel.
Numa entrevista à agência de notícias espanhola EFE, Mohamed Khaddad, coordenador da Frente Polisario com a Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (Minurso), disse que a acção de Rabat segue uma “pequena conveniência política” que visa “contornar a recuperação das negociações políticas directas”, exigida pela ONU “para a resolução do conflito do Sahara Ocidental através de um referendo de autodeterminação do povo saharaui, processo em curso desde o cessar-fogo de 1991.
Segundo Khaddad à agência de notícias espanhola EFE, após o anúncio por Marrocos da interrupção nas relações com o Irão.
O ministro das Relações Exteriores e Cooperação Internacional de Marrocos, Nasser Bourita, anunciou na terça-feira a decisão do seu país de romper relações diplomáticas com o Irão devido, segundo ele, o “apoio” do Irão à Frente Polisario.
Khaddad refutou a existência de quaisquer laços militares com o Irão, dizendo que “a Frente Polisário nunca teve relações militares e não recebeu nenhuma arma”, nem manteve contactos militares com o Irão ou o Hezbollah”.
“É um baile de máscaras e uma grande mentira.” Marrocos busca protecção contra a sua retirada das negociações (com a Frente Polisario) que deve levar à consulta, a autodeterminação da ex-colónia espanhola, de acordo com o plano de assentamento da ONU”, explicou Khaddad.
Nós desafiamos Marrocos a fornecer a menor evidência, Marrocos vive na loucura e não sabe como sair da sua obrigação de diálogo” Concluiu o líder saharaui.
Segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, são “falsas” as declarações atribuídas a Burita “sobre uma cooperação entre um diplomata iraniano e a Frente Polisário”.
As autoridades iranianas “consideram este caso totalmente infundado”, assinalando que o Irão sempre teve como linha de conduta o “respeito” pela “soberania e segurança” dos países com os quais a República Islâmica tem relações diplomáticas e a “não-ingerência nos (seus) assuntos internos”.
Segundo Rabat, o diplomata iraniano teria feito a ligação entre o movimento xiita libanês Hezbollah e a Frente Polisário, que desde 1973 luta pela independência do território do Saara Ocidental na sua maioria ocupado por Marrocos.
Um alto responsável da Frente Polisário criticou hoje as “acusações infundadas” de Marrocos e o Hezbollah também já as rejeitou, atribuindo a decisão marroquina a “pressões” estrangeiras, nomeadamente da Arábia Saudita.
Riade, por seu turno, declarou-se hoje ao lado de Marrocos face a “tudo o que ameaça a sua segurança, estabilidade e integridade territorial”. “O governo saudita condena firmemente a ingerência iraniana nos assuntos internos de Marrocos através do seu instrumento, a milícia terrorista do Hezbollah, que treina elementos do chamado grupo “Polisário” para desestabilizar a segurança” de Marrocos, indicou uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita.
Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein também exprimiram solidariedade com Marrocos.
A Polisário nunca teve relações militares com o Hezbollah e o Irão. É uma mentira grotesca para envolver o Magrebe na crise do Médio Oriente” Declarou Mohamed Khaddad, alto responsável da Frente Polisário, à agência France Presse em Argel.
O que Marrocos procura é fugir ao processo de negociações ao qual o Conselho de Segurança da ONU acaba de apelar” Adiantou.
O Conselho de Segurança aprovou na sexta-feira uma resolução apelando a Marrocos e a Frente Polisário a negociações sem condições prévias e prolongando por apenas seis meses o mandato da Missão das Nações Unidas para a organização de um referendo no Sahara Ocidental (MINURSO).
O Conselho de Segurança (CS) tem prolongado o mandato desde 1991, normalmente por um período de um ano, o facto que esta mandato tem apenas 6 meses relaciona-se com as consultas realizadas por Horst Koehler, enviado pessoal para o Sahara Ocidental do Secretário Geral da ONU e a vontade da maioria dos membros do CS de relançar as negociações entre as partes que tem vindo a ser boicotadas por Marrocos nos últimos anos.
Segundo comunicado da Frente Polisário: O Reino de Marrocos pretende adoptar esta medida, que denota um oportunismo político banal, reforçar a sua posição dentro das novas variáveis regionais e internacionais, como uma manobra para contornar o processo de negociações com a parte saharaui que foi aprovado pelo Conselho de Segurança. na Resolução 2414, adoptada em 27 de Fevereiro passado; O que coloca Marrocos na difícil posição de assumir suas responsabilidades dentro de seis meses para colaborar na conclusão do processo de descolonização do Sahara Ocidental, de acordo com os princípios da legalidade internacional e da Carta da ONU.”