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Terça-feira, Julho 16, 2024

Farsa Económica Mundial

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Terminada a 50.ª edição do Fórum Económico Mundial, ocasião onde anualmente se reúnem em Davos empresários, políticos e especialistas em matérias ligadas ao “mundo dos negócios”, confirma-se a ideia que esta tão badalada iniciativa nunca terá passado de uma cada vez melhor encenada Farsa Económica Mundial.

Davos terá sido na perspectiva de Thomas Mann (Escritor alemão, considerado por muitos críticos como um dos maiores romancistas do século XX, autor de obras como Os Buddenbrooks, Morte Em Veneza e A Montanha Mágica) o local ideal para situar o cadinho cultural e emocional onde se desenrola a acção deste último, e talvez isso, ou outro qualquer sentimento, tenha ditado a sua escolha por Klaus Schwab (economista e empresário suíço, de naturalidade alemã, fundador do Fórum Económico Mundial, associação sem fins lucrativos, que se converteu na principal reunião mundial de políticos, empresários e intelectuais), no já distante ano de 1971, como local para a realização anual do Fórum Económico Mundial.

Mais que nunca haverá agora, depois da Crise Global e com a crise ambiental, quem espere verdadeiros milagres das suas sessões anuais, ou serão essas esperanças fundamentadas?

Poderão os principais responsáveis políticos, económicos e ideológicos pela propagação dos mais irrealistas dos mitos reequacionar tudo o que disseram e fizeram ao longo das últimas décadas para reinstalar um novo modelo de desenvolvimento económico e social que respeite os verdadeiros interesses das pessoas e do meio ambiente?

As mentes que têm conduzido os destinos de nações e os interesses das grandes corporações (e que abjectamente continuam a tentar convencer-nos que esses interesses são concomitantes) poderão conceber e implementar um modelo de desenvolvimento que valorize os indivíduos pelo seu “saber ser” e “saber fazer” e não pela subserviência? ou que admitam que o crescimento económico precisa respeitar os limites do meio ambiente em que se insere?

Para trás ficaram as edições, como a de 2009, que pretenderam “castigar” a alta finança responsável pela Crise Global iniciada um ano antes ou aquela que, um ano mais tarde, serviu para branquear as suas origens. No fecho de cada reunião anual bem se pode dizer que as muitas conversas, negociações e demais “manobras” protagonizadas na estância suíça de Davos se resume afinal ao habitual ao chavão do “business as usual”.

Para a reunião deste ano eram esperados cerca de 130 convidados de topo, além de 5 membros da realeza, 22 presidentes e 23 primeiros ministros, para participarem nas reuniões e debates em torno de uma agenda, bem ajustada ao momento e às preocupações globais, que pretendia reflectir sobre um mundo coeso e sustentável em sete pontos:

  1. Como Salvar o Planeta
  2. Sociedade e futuro do trabalho
  3. Tecnologia benéfica
  4. Economias mais justas
  5. Melhores negócios
  6. Futuros Saudáveis
  7. Além da geopolítica

tal como são apresentados na página oficial do Fórum e como os organizadores pretendem ser percepcionados pelos cidadãos em geral.

É que a resolução para os problemas que estão a afectar as economias mundiais, mergulhadas numa estagnação económica e financeira que já se reconhece como histórica, e a degradar o meio ambiente não se pode resumir à forma de ultrapassar o mais rapidamente possível estas dificuldades.

Deixar a procura de soluções nas mãos dos apologistas e crentes na superioridade do livre funcionamento do mercado, não poderá resultar senão nas políticas que temos conhecido e na rápida criação das condições para o início de novo ciclo especulativo e, consequentemente, de nova crise económica e do agravamento da sobreexploração ambiental; além de que nas suas reuniões à porta fechada o debate deverá ser bem diferente, arquitectando provavelmente como usar em benefício próprio o clima e a desinformação sobre a questão climática, combinada com as potencialmente prejudiciais radiações do G5 (e em breve a tecnologia G6), a 4ª Revolução Industrial e a prometida revolução da biotecnologia.

Desde o Fórum de 2016 que o cenário de uma 4.ª Revolução Industrial é apresentado como sendo uma “revolução” – uma que se segue à Revolução Industrial (ocorrida entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX e que se traduziu na mecanização da produção), à Segunda Revolução Industrial (período que medeia entre a segunda metade do século XIX e o final da II Guerra Mundial e que se caracterizou pelos desenvolvimentos nas indústrias química, eléctrica, de petróleo e do aço) e à Terceira Revolução Industrial (que teve início nos anos 60 do século passado e que mais apropriadamente deverá ser designada por Revolução Digital, pois foi despoletada pela generalização da Internet, do uso dos computadores e da difusão de informação que potenciou) – que marca o aparecimento de novos sectores de actividade (inteligência artificial, robótica, biotecnologia e genética) e de novos modelos de negócio mas da qual se espera que leve à destruição de cinco milhões de postos de trabalho e à continuação do processo de concentração da riqueza, fenómeno facilmente comprovado quando há um ano a OXFAM (ONG dedicada ao combate à pobreza mundial) anunciou o alargamento do fosso entre ricos e pobres, em 2018, ano em que a riqueza dos mais ricos tinha aumentado 12% enquanto a dos mais pobres tinha caído 11%. Não se estranha pois que em 2016 tenha sido notícia que «62 multimilionários já têm mais riqueza do que metade da população mundial», para três anos depois já se dizer «Os 26 mais ricos têm tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial».

Neste quadro, os poderes públicos mundiais (e os ocidentais em especial) pouco ou nada têm feito salvo declarações de intenções, mas as denúncias dos desequilíbrios e a evidente degradação das perspectivas de trabalho (em especial para os mais jovens) não são de agora e a concertação de interesses e estratégias, anualmente renovados em Davos, confirmam afinal aquele que há muito é apontado como um dos principais objectivos da elite: reduzir a população mundial, para que ela possa continuar a viver na opulência e sem ter que compartilhar os cada vez mais limitados recursos.


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