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Domingo, Dezembro 22, 2024

A fase Benjamin Button do PSD

Pedro Pereira Neto
Pedro Pereira Neto
Académico. Ensina comunicação e jornalismo.

Pedro Pereira NetoFenómeno simultaneamente curioso de observar e deprimente de concluir, a conduta do PSD nos últimos anos começa a não se distinguir, na sua essência, da conduta rebelde sem causa de alguma da militância da JSD, perdida que se encontra da sua biografia pré-escrita e do sucesso político que costuma conhecer sem, para isso, demonstrar particular talento.

Na realidade, não sendo já bastante a demonstração de indisponibilidade para o exercício de cargos de relevo político e empresarial no Estado por parte dos seus quadros mais qualificados, o PSD dos últimos anos tem sido vítima da sua própria incapacidade, do seu demonstrado desconhecimento dos diplomas mais relevantes no que diz respeito ao funcionamento das instituições e da própria Constituição, e do modo como o simples aumento da gritaria não é já suficiente para disfarçar a falta de conteúdo substantivo das suas intervenções.

Remetido a figuras menores, provenientes do carreirismo mais serviçal e da recompensa por dedicação – mesmo que na mais absoluta ausência de talento –, não surpreende que o elenco inicialmente ministerial e finalmente parlamentar seja confrangedor, oscilando entre a facilidade infantil com que se deixa enredar na incoerência de declarações passadas e a mais primária indigência das formulações discursivas, próprias de uma juventude política passada entre paredes, sem desafio que a estimulasse, convencida de que o aplauso interno constitui certificação de qualidade.

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A fase Benjamin Button do PSD

Esta tournée que o seu tolerado e mal-digerido líder agora enceta, substituto medíocre de uma actividade parlamentar digna de registo, é apenas o último episódio do populismo de que sempre se revestiu, na ausência de ideias sólidas, de visão estruturada ou sequer de conhecimento aprofundado das matérias sobre as quais se pronuncia, uma e outra vez sendo apanhado na teia da sua própria verborreia passada e da irreprimível vontade de dizer algo apenas para ser escutado.

Se a versão popularucha de Paulo Portas não era já sofrível e facilmente desmontável na sua vergonha mal-disfarçada do próprio toque das gentes, o passeio pretendido por Passos Coelho vem agora somar-lhe uma atitude de falso especialista, de quem paira em palavras por não conseguir alcançar as necessidades reais de quem habita o país.

Se todo este cenário não fosse já a demonstração inquestionável de um retrocesso etário na conduta social-democrata, vem o seu viveiro de dependentes políticos prontos-a-nomear sublinhar o pouco que verdadeiramente separa o Partido da Juventude: faltando as ideias em ambos, sobra nesta última aquela irreverência de que são feitas as criancices, tentando a milionésima colagem da governação da Esquerda a ideais comunistas – talvez apostando em roubar o ceptro da originalidade aos karaokes.

Só mesmo a imaturidade e fechamento de quem ‘cresce’ politicamente em circuito fechado poderia explicar o deserto intelectual que um e outro oferecem neste momento.

Neste sentido, a governação de Esquerda não apenas tem sido regularmente mais estável que o raciocínio à Direita: tem conseguido recordar que a dignidade da população não é negociável, que o respeito se merece exigindo-o, e que é sempre mais fácil aplicar um programa político quando ele de facto… existe. É um particular ao qual a imaturidade crescente do PSD não parece ser sensível, quanto mais oferecer alternativa digna desse nome.

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