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Sábado, Agosto 31, 2024

Festa do povo nas ruas

Christiane Brito, em São Paulo
Christiane Brito, em São Paulo
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.

Em março de 1964, o Brasil estava às portas do golpe militar, ainda tínhamos um presidente, João Goulart, e um povo organizado que ia às ruas gritar por liberdade e justiça.
Não adiantou todo o esforço, porque as engrenagens do poder já estavam armadas a favor dos novos mandatários. Que alegavam “baderna” nas ruas como justificativa para defender com armas o pacato cidadão.

Oh, pacato cidadão, não se iluda com a paz no lar, as ruas estão em guerra, convulsionadas pelas crescentes injustiças sociais, que assassinam jovem de 13 anos (João Victor) faminto à porta de um restaurante. E a guerra chegará ao seu trabalho, com o desemprego, ao futuro dos seus filhos, com o desemprego, à impossibilidade de acesso à aposentadoria, com o desemprego.

Ir às ruas é fundamental, um milhão de pessoas contra Temer e suas reformas é fabuloso, mas não se pode sossegar na festa do povo que reivindica. Há muito mais.

Há uma Constituição que não está sendo respeitada, há um Brasil à venda que não se anuncia nas redes, há o massacre de jovens e crianças pobres em contrariedade ao Estatuto da Criança e do Adolescente, instrumento revolucionário lançado como exemplo para o mundo há 25 anos.

Há um ódio de classes que irriga as veias do Brasil, da América Latina, do mundo.

Há também o voto, uma semente de esperança enquanto houver eleições, mas inútil enquanto a bancada majoritária e retrógrada dominar as sessões em plenário.

Há muito o que estudar, pensar, fazer, talvez a tempo de recuperar o país do retrocesso de 20 anos que está se consumando.

Bom exercício é tentar saber quem é quem no Brasil atual. O mais que querido professor Gilson Caroni Filho divulgou suas conclusões hoje no Facebook:

“Deu trabalho, mas como não opero com lógica binária, elaborei uma relação de parlamentares dignos que

estão no PSDB,no PPS, no PMDB e no DEM: Requião.
Desculpem se ficou extensa, mas foi uma pesquisa árdua.”


Para concluir, segue carta do presidente João Goulart, de 13 de março de 1964, dando-nos lições que até hoje precisamos aprender: o que é democracia e o que fazem com ela os que apenas ambicionam carreira, dinheiro, poder. E usam a violência para eliminar os diferentes. Pena que Goulart não conseguiu reverter o consumado:

”DEMOCRACIA é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.

“A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia anti-povo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam. A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais; é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício. Ainda ontem, eu afirmava, envolvido pelo calor do entusiasmo de milhares de trabalhadores no Arsenal da Marinha, que o que está ameaçando o regime democrático neste País não é o povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas nacionais. Democracia é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.”

Trecho do discurso do Presidente Jango Goulart no dia 13 de março de 1964

A autora escreve em português do Brasil

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