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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Festival de Valladolid: começa hoje uma edição de transição

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Tem hoje início na cidade espanhola de Valladolid, prolongando-se até ao próximo dia 28, a edição de 2023 da SEMINCI – Semana Internacional de Cinema.

Fiel à sua consigna de “cinema de autor” o certame está desta vez numa fase de mudança. De facto, o director de há muitos anos, Javier Angulo, terminou a sua tarefa há alguns meses sendo substituído por José Luís Cienfuegos, até há pouco director do Festival de Sevilha. Poder-se-á dizer que esta 68ª edição é um festival de transição, um festival feito a ‘quatro mãos’, resultado do trabalho do director cessante e do novo director.

José Luís Cienfuegos manteve a estrutura base da programação que vem do passado (Secção Oficial, ‘Tiempo de Historia’ e ‘Punto de Encuentro’) acrescentando, obviamente, o seu cunho pessoal com a criação de novas áreas e novas opções (por exemplo, as secções “Alquimias” e “Memoria y Utopia”).

 

‘Espiga de Honra’ para a Academia do Cinema Europeu

Na Gala de Inauguração do Festival, que decorrerá hoje à noite no Teatro Calderón, será entregue a primeira ‘Espiga de Honra’ desta edição distinguindo a EFA – Academia de Cinema Europeu. Receberá o galardão a presidente daquela instituição, a cineasta polaca Agnieszka Holland, presente em Valladolid também para apresentar em competição na secção oficial, como mais à frente é referido, o filme Green Border”, como mais à frente é referido,

A Academia vai ter um papel muito destacado nesta SEMINCI/2023 já que, para além de realizar em Valladolid a reunião anual do seu Comité Executivo, o festival integra um ciclo promovido em colaboração com a EFA constituído por sete filmes europeus.

São eles:

  • Anatomie d’ une chute, da francesa Justine Triet, Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano;
  • Roter Himmel (Céu Vermelho) do alemão Christian Petzold, Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim;
  • Die Theorie von Allem (A Teoria Universal) do alemão Timm Kröger, projectado na secção oficial de Veneza.
  • Eu, Capitão do italiano Matteo Garrone. Prémio para o melhor realizador no Festival de Veneza;
  • Bastarden (A Terra Prometida), filme dinamarquês de Nikolaj Arcel. Prémio SIGNIS no Festival de Veneza;
  • Fallen Leaves (Folhas Caídas) de Aki Kaurismaki. Prémio do Júri em Cannes e Grande Pémio FIPRESCI/2023;
  • The Zone of Interest (A Zona de Interesse) de Jonathan Glazer. Grande Prémio e Prémio FIPRESCI no Festival de Cannes.

Os quatro últimos são os candidatos de Itália, Dinamarca, Finlândia e Reino Unido ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

 

A secção oficial

A principal secção competitiva do certame de Valladolid oferece este ano 23 títulos dos quais 7 serão apresentados fora de concurso. Como já foi referido em anos anteriores, o facto de a SEMINCI não pertencer à classe A dos festivais de cinema permite-lhe integrar na competição filmes que já passaram noutros festivais. É assim que surgem aqui alguns ‘pesos pesados’, cineastas já anteriormente premiados na SEMINCI e em muitos outros festivais.

É o caso de The Old Oak de Ken Loach, que concorreu à Palma de Ouro de Cannes e obteve o Prémio do Público em Locarno. O argumento de The Old Oak, com a habitual carga de acentuado conteúdo social e político é, como de costume, de Paul Laverty e cruza as memórias e o quotidiano de velhos mineiros de uma pequena localidade inglesa com a chegada à povoação de um grupo de refugiados sírios. Ken Loach tem já um passado assinalável em Valladolid com duas ‘Espigas de Ouro’, uma ’Espiga de Prata’, um Prémio do Público, um ciclo monográfico e a ‘Espiga de Honra’ em 1992

Os refugiados sírios estão também em foco em “Green Border”, Prémio Especial do Júri em Veneza. A realizadora polaca Agnieszka Holland construiu um filme a partir de factos reais ocorridos na ‘fronteira verde’ entre a Polónia e a Bielorrúsia em 2021. Refira-se que Agnieszka Holland recebeu o prémio para a melhor realizadora na SEMINCI de 2011.

Do celebrado cineasta italiano Marco Bellocchio teremos Rapito (O Rapto), filme que participou no recente Festival de Cannes e que conta a história de um sequestro de um rapaz, por parte do papado, em 1858.

Os outros filmes em competição na secção oficial são:

  • All of us strangers (Desconhecidos) de Andrew Haigh (Reino Unido / EUA). Andrew Haigh é o autor de 45 Anos filme que em 2015 conquistou em Berlim os Ursos de Prata de interpretação (Tom Courtenay e Charlotte Rampling) e que a valeu a esta última o prémio de melhor actriz na 60ª SEMINCI e a nomeação para o Oscar;
  • El Amor de Andrea de Manuek Martín Cuenca (Espanha / México);
  • How to have sex de Molly Manning Walker (Reino Unido / Grécia / Bélgica), filme  da secção ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes;
  • La Imatge Permanent de Laura Ferrés (Espanha / França), primeira longa-metragem da realizadora que competiu no Festival de Locarno;
  • La Chimera de Alice Rohrwacher (Itália / França / Suíça).  O mais recente filme da realizadora de “Lázaro Feliz” participou no Festival de Cannes;
  • Les Filles d’Olfa (As Quatro Filhas) de Kaouther Ben Hania (França / Tunísia / Alemanha / Arábia Saudita). Prémio ‘Golden Eye’ em Cannes para o melhor documentário;
  • Musik (Música) de Angela Schanelec (Alemanha/ França / Sérvia).  Urso de Prata para o melhor guião, no Festival de Berlim;
  • Que Nadie Duerma de Antonio Méndez Esparza (Espanha/ Roménia);
  • Das Lehrerzimmer (Sala de Professores) de Ilker Çatak (Alemanha). Vencedor dos prémios do cinema alemão e representante da Alemanha na corrida aos Oscares;
  • Samsara de Lois Patiño (Espanha).  Prémio Especial do Júri na ‘Berlinale Encounters’;
  • Sobre Todo de Noche de Victor Iriarte (Espanha / França / Portugal). Estreou na Jornada dos Autores, do Festival de Veneza;
  • The Beast de Bertrand Bonello (França / Canadá). Participou no Festival de Veneza;
  • The Shadowless Tower de Zhang Lu (China) que estreou no Festival de Berlim;
  • The Sweet East de Sean Price Williams (EUA). Estreou na ‘Quinzena dos Realizadores’ de Cannes.

Ainda na secção oficial, mas fora de concurso, serão exibidos:

  • Cristina Garcia Rodero – La Mirada Oculta de Carlota Nelson (Espanha);
  • El Maestro que prometió el Mar de Patricia Font (Espanha);
  • Dear Jassi de Tarsem Sing Dhandwar(Índia). Esta é uma versão indiana de ‘Romeu e Julieta’ realizada por um cineasta que tem feito carreira nos Estados Unidos onde já dirigiu Jennifer Lopez e Julia Roberts. Este filme está integrado na celebração do cinema da Índia, o país convidado desta edição do certame;
  • Teresa de Paula Ortiz (Espanha / Portugal);
  • Mamacruz de Patrícia Ortega (Espanha / Venezuela), filme estreado no Festival de Sundance.

 

“La Contadora de Películas”: filme de Lone Scherfig na abertura

Em 2001, com Italiano para Principiantes, a dinamarquesa Lone Scherfig ganhou prémios por todo o lado. De Berlim, ao nosso Festróia, mas também em Valladolid onde conquistou a ‘Espiga de Ouro’ para o melhor filme.

Agora realizou no Chile, no deserto de Atacama, La Contadora de Películas um filme que conta a história de uma menina que tem um dom extraordinário para contar os filmes que vê. Por isso, converte-se na ‘contadora oficial de filmes’ da sua aldeia para gáudio de todos os que não podem ir ao cinema.

O filme de Lone Scherfig será exibido hoje, na sessão de abertura da SEMINCI / 2023.

 

Júri Internacional

O Júri Oficial da 68ª SEMINCI será constituído por:

  • Meritxell Colell Aparicio, realizadora espanhola autora de Con el viento, premiado no Festival de Málaga;
  • Mike Goodridge, produtor britânico que tem no seu currículo títulos como O Triângulo da Tristeza, de Ruben Ostlund (Palma de Ouro de Cannes em 2022), American Honey de Andrea Arnold (Grande Prémio do Júri em Cannes / 2016) ou Quo Vadis, Aida? realizado em 2020 pela cineasta bósnia Jasmila Žbanić (melhor filme nos Prémios do Cinema Europeu em 2021 e nomeado para o Oscar);
  • Pan Nalin, cineasta indiano, vencedor da Espiga de Ouro da 66ª Seminci com Last Film Show;
  • Jara Yáñez, crítica espanhola, directora da revista ‘Caimán Cuadernos de Cine’; e
  • Iván Granovsky, realizador e produtor argentino.

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