Curitiba, a capital paranaense que é modelo em urbanismo e civilidade no Brasil, amanheceu nesta terça (10) com manifestação silenciosa contra o golpe. Balões vermelhos sobrevoaram calçadas e canteiros floridos, com inscrições que pediam “amor”, afirmando: “Este não será o país do ódio”.
O Papa Francisco, personalidade pública que está entre as mais influentes do mundo, na concepção de povos de todas as religiões, recebeu brasileiros, entre eles, a atriz Letícia Sabatella, que denunciaram a ameaça à democracia no país.
Já os manifestantes à moda tradicional reuniram multidões e interromperam o trânsito nas rodovias de 21 estados e também no Distrito Federal.
É verossímil dizer que o governo Dilma está pagando por esse espetáculo? Não sei, mas de uma coisa tenho certeza: a enorme mancha na reputação do Brasil no Exterior não resulta de qualquer ação da Dilma, nem mesmo de seus erros à frente do governo. Nem mesmo das suspeitas de corrupção, a serem investigadas, que pesam sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Basta ler as manchetes das principais mídias que estão circulando desde o dia 17 de dezembro. Mas tem que ver e ler.
O golpe
A população ainda está dividida em relação à existência, ou não, de um golpe por trás dos fatos em curso. É compreensível: a sofisticação do ato — amplamente televisionado em rede nacional, formadora de opinião — faz com que ele escape, até mesmo, à compreensão de cientistas sociais e juristas.
O que não passou despercebido foi o despreparo dos deputados que votaram a favor do impeachment; o mundo se assustou com tamanha ignorância evidenciada na justificativa da escolha e nas dedicatórias do voto, maciçamente, a Deus e à família. Também aos torturadores.
A votação histórica é a prova de que a motivação verdadeira da queda da Dilma não é a punição à corrupção. Se fosse, Eduardo Cunha não estaria na presidência da sessão e Michel Temer não estaria tramando nos corredores: um presidente da Câmara não pode ser réu e um vice-presidente não pode, ilegalmente, governar antes da posse.
Aliás, bons entendedores já sabem que o governo Temer será temerário não só para a liberdade democrática, mas para as combalidas finanças do país, que supostamente ele promete robustecer.
A primeira providência, cortar ministérios (inicialmente de 32 para 20, como anunciou) já demonstra a instabilidade do governo. Eram 20, passaram a ser 23, agora são 22, sendo que duas das pastas cortadas continuarão existindo, mas perderão o “status” de ministério.
O que isso significa na prática? Menos poder, menos salário? Temer não explica. Ele terá, com a saída de Dilma, 11 mil cargos (ex-PT) para distribuir.
Eliseu Padilha, um dos ministeriáveis favoritos de Temer, mostrou-se indignado com o número elevado de desempregados no país. Blefou com a indignação, já que não melhorará esse índice; a não ser que Temer abandone o plano “ponte para o futuro”, que não contempla o fim da crise – originada já em 2002 no mundo. Esse dado é comprovável, mas é preciso estudar, analisar.
O mundo atual não se deixa decifrar por leigos, ao contrário, devora-os.
Nota: a autora escreve em português do Brasil