A filantropia – amor à Humanidade -, dizem, é um hobby de gente abastada. No entanto, tenho para mim, um outro conceito sobre a citada filantropia que pode muito bem ser adjetivo aplicável ao voluntariado genuíno.
É uma forma de estar na vida para pessoas especiais. Pessoas que se sentem bem fazendo bem ao seu semelhante. Pessoas que distribuem parte daquilo que tem pelos que mais necessitam. Seja no plano moral como no plano material. Sendo que, aqueles que dão bens materiais, atingem níveis de notoriedade mais relevante na sociedade por esta ser educada nessa premissa de conforto.
No entanto, pessoas há, que na falta de posses materiais, distribuem aquilo que tem: A sua capacidade de ajuda voluntária; o seu tempo; o seu saber; a sua alma. E outros há que, abnegadamente, distribuem o seu tempo extralaboral na procura de soluções para os problemas que, de uma forma transversal, atingem as sociedades. E também há os que dizem abdicar de ganhos excecionais, para se dedicarem “graciosamente” a causas. Neste último patamar temos uma pretensa elite que opta por lides políticas em detrimento do sossego familiar, – dizem -, desde que, nas citadas lides se lhes atribua um cargo.
Temos assim um conceito ético sobre filantropia enviesado por vicio na forma e, no fim, como se de conceito épico se trate. Um novo perfil do filantropo. No entanto, por de trás do quotidiano comum, há uma crua realidade: a filantropia só existe porque existe pobreza extrema. E a pobreza extrema só existe porque a riqueza interna produzida não é distribuída com equidade e muito menos com justiça no pressuposto de que a justiça é um direito e não um ato de caridade. Temos por isso, desde sempre, uma casta de pessoas especiais que se dedicam à filantropia por formação e uma outra casta que distribui caridade fortuita envolta em pompa de circunstância, por interesse.
As filantropias na atividade política tem sido argumento primário de um populismo bacoco que consegue por os cabelos em pé ao anónimo ativista voluntarioso empenhado. Ao ponto de criar nestes a dúvida sobre se vale, ou não, a pena continuar a lutar por causas.
A questão central coloca-se por isso na motivação. Um fator determinante porque as necessidades obrigam a lutas políticas persistentemente continuadas porque delas dependem as conquistas de direitos elementares como o sejam: salários justos e de acordo com o cabaz de compras que rege o nível de vida aceitável; justiça igual para crime igual; educação básica e superior ao alcance de todos; igualdade de género em deveres e direitos; acesso aos cuidados primários de saúde e outros, de proximidade interativa e inclusiva; educação; proteção dos habitats naturais; etc., etc., etc.
Coisas que só acontecem porque acontecem condições propícias à proliferação da caridade e das filantropias dúbias. Daí que, a filantropia, na conjuntura de desigualdades em que vivemos e no vasto leque de assimetrias sociais, territoriais e outras existentes, seja uma necessidade. Um mal necessário como muitos outros males de conveniência necessários para a coexistência articulada do edifício social. O que não se pode é dar azo a que se “endeuse” o carrasco e se condene a vítima por ser injusta a condição que os criou.
Haverá com certeza agentes políticos e outros profissionais com responsabilidade na gestão e organização do Estado imbuídos de espírito altruísta como componente complementar de ética e formação intelectual que associam ao seu desempenho um cunho profissional com sensibilidades diversas consoante as áreas de trabalho que desenvolvem. Como contrapartida auferem o salário legalmente estipulado.
Nunca serão “anjos”. Serão sempre profissionais que sabem discernir o acessório do elementar. Que sabem “separar o trigo do joio”, uma parábola de Jesus Cristo, segundo Mateus 13:24-30.
Quanto a filantropias… Na atividade política, social e outras ?!… Sinceramente, não acredito!
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90 Ilustração: Internet (assinatura ilegível)
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