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Sábado, Dezembro 21, 2024

Filme português “Alma Viva” na Secção Oficial do Festival

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

67ª SEMINCI – Semana Internacional de Cine de Valladolid

“Alma Viva”, da luso-francesa Cristèle Alves Meira, vai estar presente na principal secção competitiva do certame que hoje começa na cidade espanhola de Valladolid.

Depois de ter participado no Festival de Cannes (‘Semana da Crítica’ e candidato à ‘Câmara de Ouro’) e ter sido escolhido para representante de Portugal aos ‘Óscares’ da Academia de Hollywood, ‘Alma Viva’ surge agora na secção oficial deste importante festival espanhol que decorrerá até ao próximo dia 29.

Com estreia em Portugal prevista para 3 de Novembro esta produção de Midas Filmes que asssinala a estreia da realizadora na longa-metragem, conta com a interpretação de Ana Padrão que integra um elenco formado maioritariamente por actores não-profissionais. A fotografia é de Rui Poças.

Filmado no concelho transmontano de Vimioso  ‘Alma Viva’ conta a história de uma jovem, filha de emigrantes em França, que assiste à morte da avó com quem passa as férias em Portugal. Emigração, misticismo e tradições da cultura transmontana estão presentes na trama que tem algo de auto-biográfico da própria realizadora.

Recorde-se que com a sua curta de estreia, “Campo de Víboras” (nome de uma aldeia de Vimioso) de 2016, Cristèle Alves Meira obteve prémios nos Caminhos do Cinema Português (Coimbra) e no IndieLisboa.

A secção oficial

O facto de não pertencer à ‘primeira divisão’ dos festivais de cinema constitui uma vantagem que a SEMINCI tem sabido explorar de forma superior. É que isso permite-lhe integrar na secção oficial filmes que passaram, e foram premiados, noutros festivais. Este ano podemos encontrar, mais uma vez,  obras que integraram a programação dos principais festivais europeus.

Para além de “Alma Viva” e dos filmes de abertura e de encerramento adiante referidos a secção oficial apresenta mais  18 títulos.

Poderão ser vistos trabalhos de autores de 18 nacionalidades (muitas co-produções), oito primeiras e segundas obras e sete filmes realizados mulheres.

De realçar o facto de esta secção incluir os candidatos aos ‘Óscares’ da Irlanda, da Islândia, da Polónia, da Suécia e de Portugal.

Os nomes de realizadores mais sonantes da competição são Park Chan-wook, Jafar Panahi, Tarik Saleh e Jerzy Skolimowski. Fora de concurso poderão ser vistos filmes de Emanuele Crialese e Martin McDonagh.

Do sul-coreano Park Chan-wook será apresentado “Decisão de Partir” que deverá estrear em Portugal no início do próximo mês de Dezembro, depois de participar no LEFFEST’22 – Lisbon & Sintra Film Festival. O filme conquistou o prémio para o melhor realizador no Festival de Cannes deste ano.

O multi-premiado cineasta iraniano Jafar Panahi, nome incontornável do cinema do seu país  e que continua a filmar apesar da prisão domiciliária e da ameaça de prisão efectiva, estará presente nos ecrãs de Valladolid com “No Bears”, Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza.

Em 2017 o sueco Tarik Saleh ganhou a “Espiga de Ouro” da SEMINCI com “The Nile Hilton Incident”. Regressa agora com ”Boy from Heaven”, título que lhe valeu o prémio para o melhor argumento no Festival de Cannes.

Do celebrado Jerzy Skolimovski teremos “EO”, prémio do Júri no Festival de Cannes. Esta obra estará também no LEFFEST. Em 1968 Skolimovski obteve o Prémio Especial na 13ª SEMINCI com “Bariera”. O realizador polaco regressa à competição de Valladolid 54 anos depois da primeira participação!

A lista completa das longas-metragens da secção oficial  é a seguinte:

  • “No Mires a los Ojos” de Félix Viscarret (Espanha/Bélgica) – filme de abertura;
  • “Alma Viva” de Cristèle Alves Meira (Portugal/França/Bélgica);
  • “The Banshees of Inisherin” de Martin McDonagh (Reino Unido/Irlanda/EUA). Melhor argumento e melhor actor (Colin Farrell) no Festival de Veneza. Martin McDonagh é o autor do ‘oscarizado’  “3 Cartazes à Beira da Estrada”;
  • “Beautiful Beings” de Guðmundur Arnar Guðmundsson (Islândia/Dinamarca/Suécia/Países Baixos/Rep. Checa). prémio ‘Label Europa Cinemas’ no Festival de Berlim. Segunda obra;
  • “Before, Now & Then” da Kamila Andini (Indonésia), prémio para a melhor actriz secundária em Berlim e Prémio do Júri em Bruxelas;
  • “Le Bleu du Caftan” de Maryam Touzani (França/Marocos/Bélgica/Dinamarca), presente na secção ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes. Outro filme que passará no LEFFEST é o representante de Marrocos na corrida aos ‘Óscares’;
  • “The Quiet Girl” de Colm Bairéad (Irlanda), vencedor de dois prémios no Festival de Berlim. Primeira obra;
  • “Clementina” de Constanza Feldman, Agustín Mendilaharzu (Argentina), grande triunfador do Festival de Cinema Independente de Buenos Aires. Primeira obra;
  • “EO” de Jerzy Skolimowski (Polónia/Itália), Prémio do Júri e prémio para a melhor banda sonora (Pawel Mykietyn) no Festival de Cannes;
  • “Falcon Lake” de Charlotte Le Bon (Canadá/França), presente na ‘Quinzena dos Realizadores’ de Cannes e premiado em Deauville. Primeira obra;
  • “Decisão de Partir” de Park Chan-wook (Coreia do Sul), Prémio para o melhor realizador no Festival de Cannes;
  • “L’Immensitá” de Emanuele Crialese (França/Itália), da secção oficial do Festival de Veneza. Fora de concurso;
  • “Nothing” de Trine Piil, Seamus McNally (Dinamarca/Alemanha). Segunda obra;
  • “No Bears” de Jafar Panahi (Irão). Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza;
  • “Le otto montagne” de Felix van Groeningen, Charlotte Vandermeersch (Itália/Bélgica/França), Prémio do Júri no Festival de Cannes;
  • “Les Passagers de la nuit” de Mikhäel Hers (França), da secção oficial do Festival de Berlim;
  • “Pamfir” de Dmytro Sukholytkyy-Sobchuk (Ucrânia/França/Polónia/Chile/Luxemburgo/Alemanha), candidato à ‘Câmara de Ouro’ no Festival de Cannes. Primeira obra.
  • “Vasil” de Avelina Prat (Espanha/Bulgária);
  • “Boy from Heaven” de Tarik Saleh (Suécia/França/Finlândia/Dinamarca), melhor argumento no Festival de Cannes;
  • “Return to Dust” de Li Ruijun (China), da secção oficial do Festival de Berlim.
  • “Master Gardener” de Paul Schrader (EUA). Exibido fora de Concurso.

 

“No Mires a los Ojos”: um filme espanhol na abertura

Félix Viscarret

A nova longa-metragem do guionista e realizador Félix Viscarret (Pamplona, 1975), que apresentou a sua primeira obra na SEMINCI de 2007,  foi escolhida para a sessão inaugural do certame. O filme, que participará na competição, adapta o romance “Desde la sombra”, de Juan José Millás e tem como protagonistas Paco León, Leonor Watling, Álex Brendemühl e Juan Diego Botto.

“No Mires a los Ojos”

“No Mires a los Ojos”, conta um episódio da vida de um homem que quando é despedido, depois de 20 anos de trabalho, se esconde dentro de um armário  que está numa furgoneta para ser transportado. Damián, assim se chama o personagem, é entregue juntamente com o armário a uma família constituída por um casal e uma filha adolescente e converte-se numa misteriosa presença que observará desde a sombra.

 

“Master Gardener” no encerramento –   a sexta participação de Paul Schrader na secção oficial da SEMINCI

Master Gardener

O guionista de “Taxi Driver”, “O Touro Enraivecido” e “A Última Tentação e Cristo” e realizador de “A Rapariga na Zona Quente”, “American Gigolo”, “A Felina” e “Adam Renascido”, para citar apenas alguns títulos da sua extensa filmografia, volta a Valladolid com “Master Gardener”, o filme escolhido para encerrar o festival, daqui a uma semana.

Paul Schrader

Paul Schrader, várias vezes presente na SEMINCI. onde já foi premiado (“Espiga de Prata” em 1978 com “Blue Collar”, nos seus primórdios como realizador, e “Affliction” em 1997, prémios para o melhor actor – Nick Nolte- e para a melhor fotografia – Paul Sarossy) foi objecto de um ciclo monográfico e da edição de um livro em 2013, ano em que recebeu uma “Espiga de Honra”. Competiu na SEMINCI do ano passado com o excelente  “O Jogador” (The Card Counter), tendo obtido a distinção para o melhor argumento.

“Master Gardener” será exibido fora de concurso e conta com Joel Edgerton, Sigourney Weaver e Quintessa Swindell nos principais papéis. É um filme que reflecte as tensões raciais da América contemporânea.

Narvel Roth (Joel Edgerton) é um jardineiro  que trabalha para uma viúva rica, a Sra. Haverhill (Sigourney Weaver). A tranquilidade do trabalho de Narvel acaba quando a patroa lhe atribui a tarefa de ensinar a sua sobrinha-neta,  Maya (Quintessa Swindell), uma rapariga problemática e rebelde. Só que Narvel é um homem atormentado pelo seu passado como assassino a soldo dos supremacistas brancos.

 

Dois filmes portugueses na Secção Oficial de curtas metragens

Tal como nos anos anteriores a SEMINCI continua a manter nesta 67ª edição o bom hábito de exibir curtas metragens nas várias secções do festival.

Na Secção Oficial competem 14 títulos, dois deles portugueses: “Ice Merchants” de João Gonzalez (prémio ‘Semaine’ no Festival de Cannes) e “By Flávio” de Pedro Cabeleira que competiu no Festival de Berlim.

Os restantes filmes são:

  • “The Headhunter’s Daughter”, de Don Josephus Raphael Eblahan (Filipinas), prémio de melhor curta metragem no Festival de Sundance;
  • “Lake of Fire”, de Neozoon (Alemanha), que participou no Festival de Locarno;
  • ”Potemkinistii”, de Radu Jude (Roménia), selecionado para a “Quinzena dos Realizadores” e candidato aos prémios EFA pelo Festival de Vila do Conde;
  • “Cherries”, de Vytautas Katkus (Lituânia);
  • ”The Flying Sailor”, de Wendy Tilby e Amanda Forbis (Canadá);
  • ”Hardly Working”, de Total Refusal (Alemanha);
  • “Ida”, de Ignacio Ragone (Argentina);
  • “Regular Rabbit”, de Eoin Duffy (Irlanda/Canadá);
  • “Warsha”, de Dania Bdeir (Líbano/França);
  • “Arquitectura emocional 1959”, de León Siminiani (Espanha);
  • “Por la pista vacía”, de Pablo García Canga (Espanha); e
  • “Son”, estreia na realização da actriz Marta Nieto  (Espanha).

 

Júri Internacional

A actriz irlandesa Kate O’Toole, uma das protagonistas de ‘Gente de Dublin’ de John Huston, vai presidir ao Júri Oficial da 67ª SEMINCI. Kate O’Toole é directora do Galway Film Fleadh e do Irish Film Board, a agência estatal para a promoção do audiovisual da República da Irlanda.

O cinema da Irlanda é homenageado este ano pelo festival e, nesse sentido, é natural que seja uma personalidade irlandesa a presidir ao júri.

Os outros elementos são o compositor chileno Jorge Arriagada, o crítico de cinema argentino Pablo de Vita, as cineastas espanholas Patricia Ferreira e Gracia Querejeta, o sonoplasta mexicano Martín Hernández e a programadora francesa Marie-Pierre Richard.

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