Para a maior parte de nós será sempre apenas um número. Talvez por isso este tema não tenha espaço nos meios de comunicação social. As audiências são avessas a números…
Enganei-me! Nestes minutos em que demorei a escrever o paragrafo anterior morreram mais alguns indivíduos, contando agora 21.865. Não! Esperem! Afinal, já morreram hoje 21.959 pessoas de fome no mundo. Confira a projeção em tempo real.
Ontem o número de pessoas com peso a mais no mundo era de 1.633.561.902 e o número de indivíduos obesos no planeta terra 664.739.947. De igual modo, ontem o número de pessoas desnutridas no mundo era 757.099.859. Mais de metade dos afectados por desnutrição eram crianças.
Ontem, nos Estados Unidos da América gastaram-se 333.656.196 USD com doenças relacionadas com a obesidade. Neste mesmo dia, nesse país, gastaram-se 124.473.866 USD com programas de perda de peso.
Mas, todos estes números continuam errados. Por várias razões. A primeira é que todos eles mudaram para pior desde que comecei a escrever o texto. Confira na projeção em tempo real.
Igualmente, para ter uma ideia do quanto se morre de fome por causa da guerra direi que no ano de 2014 na Síria, a guerra mais sangrenta dos últimos anos, morreram 76.021 indivíduos. Demasiados entre estes morreram por escassez de alimentos ou doenças correlatas. Apesar disso contam unicamente para as estatísticas da guerra. Não da fome.
Como mero exemplo da hipocrisia que une a fome e a guerra, direi que no ano de 2015, durante a governação de Obama, os Estados Unidos da América gastaram na guerra do Afeganistão 35 mil milhões de USD. Note-se que este foi o presidente mais militarmente empenhado dos últimos tempos. O Prémio Nobel da Paz do ano de 2009 autorizou a intervenção, pelo menos, em sete países muçulmanos. Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália, Iêmen e Síria. Para a ONG National Priorities Project mais de 700 mil milhões de dólares foram gastos – unicamente – na guerra do Afeganistão desde 2001.
Voltei a consultar os indicadores de morte por fome.
Lamento profundamente. Mas, não consigo continuar a escrever…