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Sábado, Dezembro 21, 2024

Fortalecer as ruas, renovar a política: nasce o Movimento Comuns

Uma “formação de pessoas comuns de esquerda dispostas a se engajar na política para transformá-la”. Assim se apresenta o Movimento Comuns, lançado nesta quinta-feira (5) por Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), candidata à vice-presidenta em 2018. O Comuns quer fortalecer a “luta das ruas” para “renovar a política”. Será um movimento amplo e autônomo, uma resistência unitária, ativa no Brasil inteiro. “É preciso colocar as pessoas comuns dentro da política”, proclamou Manuela.

Em uma live (transmissão ao vivo) nas redes sociais, a ex-deputada relatou já ter encontrado centenas de pessoas que desejavam entrar na política. O Comuns é uma tentativa de derrubar barreiras que essas pessoas podem encontrar no caminho. Manuela fala em levar os mais diversos “espaços unitários de atuação política” para os chamados “espaços institucionais”.

Com base em cinco valores – Inovação, Direitos Humanos, Democracia, Resistência e Meio Ambiente –, o Comuns vai promover capacitação para interessados em “candidaturas coletivas, participativas e comprometidas”. As inscrições estão abertas. Já nas eleições 2020, Manuela prevê “milhares de candidaturas” em torno de uma plataforma comum. “É o movimento da galera que está na rua, que está nas lutas”, sintetizou.

Além da ex-deputada, o Comuns reúne parlamentares e lideranças políticas, lideranças sociais, militantes e ativistas de “todas as lutas democráticas”. A iniciativa não se restringirá às redes. Encontros e debates e presenciais estão no horizonte do Movimento Comuns já nos primeiros meses de 2020. “Nós vamos lançar várias novidades. Em fevereiro e março, a ideia é que eu consiga girar o Brasil para encontrar vocês, para que a gente possa conversar”, declarou Manuela. Serão as “caravanas” do movimento.

A base do Comuns será uma plataforma digital, que contém um Manifesto: “Nós queremos renovação, mas uma renovação de verdade. Não renova de verdade uma mudança que seja apenas uma troca de pessoas mais velhas por outras mais novas. Novas pessoas fazendo a velha política que só beneficia o 1% de ricaços, aqueles que sempre foram privilegiados se apropriando do trabalho alheio é uma falsa renovação, é fazer o velho com rostos novos. A questão não é etária ou geracional, é de projeto”.

 

Leia abaixo o Manifesto do Movimento Comuns:

Manifesto | Movimento Comuns

Nós somos pessoas comuns. Trabalhamos, estudamos, criamos nossas filhas e filhos enfrentando a aspereza de um mundo cada vez mais violento e desprovido de sentido. O destino quis que vivêssemos em um tempo no qual cada um é incentivado a tratar de si, a cuidar dos seus, desprezando os semelhantes, sem pensar no futuro coletivo.

Não aceitamos esse caminho, porque acreditamos na empatia e na solidariedade e porque queremos um futuro melhor. Sabemos que o destino das pessoas comuns é o destino de nossa comunidade, a comunidade humana. Não há saída individual para a crise na qual vivemos. Só haverá futuro se pensarmos o comum, a comunidade, a comunhão, o comunitário. Se percebermos que o único futuro eticamente aceitável é aquele no qual todos e todas têm um lugar.

Há uma boa dose de utopia nesse pensamento, algumas pessoas nos dizem. Sabemos bem disso, e estamos contentes com esta opção. Porque a utopia não é aquilo que é impossível acontecer, é apenas aquilo que não aconteceu ainda. Nesse sentido somos utópicos, mas somos, ao mesmo tempo, realistas e práticos. O que é irrealista é acreditar que a competição e o individualismo egoísta abrem alguma perspectiva de futuro. Somos uma comunidade de destino, viemos do mesmo lugar no passado e caminhamos para um mesmo lugar no futuro. Nossa melhor chance é aceitar que nosso destino é comum e enxergar toda a beleza e potência que isso carrega.

I

Nós vivemos e sonhamos em nossas cidades. Elas, quando nasceram, por mais que fossem injustas, eram locais de encontro, de troca e de comunhão: o grande espaço do comum. Sem as cidades não haveria indústria, não existiram as grandes lutas que envolveram as multidões, não teriam nascido os jornais, os panfletos, as eleições, a democracia. A cidade já foi a Ágora, a paisagem na qual se construiu a esfera pública e o espaço da crítica. Foi nas cidades que os trabalhadores e trabalhadoras construíram os sindicatos, que os estudantes lutaram por democracia, que as mulheres arrancaram a duras penas o direito de votar.

Hoje, graças à violência do grande capital, a cidade é o lugar no qual se concretiza a exclusão, a separação espacial dos mais pobres, a perseguição racista, o machismo agressivo e covarde e a violência policial. É nas cidades que se dá a especulação imobiliária que enriquece o 1% de privilegiados e torna a vida da grande maioria um tormento; que os transportes públicos prolongam as jornadas diárias a níveis semelhantes aos do início do século XIX; que as mães vivem o pesadelo da ausência de creches. As nossas cidades estão tomadas pela população de rua, cada vez mais desesperada; pelos desempregados que vagam sem esperança de futuro; pela violência urbana que aflige a todos, especialmente as mulheres. E a cidade é cada vez menos o lugar do encontro, porque o capital a transformou no lugar do cansaço, do medo e da hiper-exploração.

Precisamos lutar por nossas cidades, para que elas voltem a ser o lugar do lazer, da democracia, dos debates, dos encontros. Derrotar, através da democracia que resta, o 1% que quer as ruas vazias, os carros blindados, as praças muradas, os espaços privatizados, as ruas particulares, as zonas de exclusão e privilégio guardadas por forças armadas públicas e privadas.

Nós queremos as cidades do espaço comum. Queremos menos carros e mais pedestres, gente nas ruas, ambientes alegres, cultura para todos, a festa, o encontro, as árvores e os parques. O público preponderando sobre o privado. Não aceitamos uma cidade na qual o Estado seja máximo para garantir os privilégios dos ricos através da violência e mínimo para garantir saúde, educação, creches, cultura, lazer para a imensa maioria.

II

Não estamos mais dispostos a votar uma vez a cada dois anos e assistir o 1% de sempre mandar no país sozinho. Ainda mais depois que um capitão triste, autoritário e caricato assumiu a gestão dos interesses dessa turma. Como assistir sem fazer nada um governo que entrega as nossas riquezas a troco de banana? Como calar diante de um regime que declara aos quatro ventos seus intentos antidemocráticos e golpistas?

Queremos colocar a mão no leme, guiar juntos um destino que só será bom e feliz se for comum. Seremos milhares de pessoas comuns inundando os espaços da política: as eleições, os conselhos, associações, sindicatos, espaços comunitários. Inundaremos também os espaços públicos da cidade. O fascismo, esse animal perigoso que ameaça nossa liberdade, só se move por ruas e praças desertas. Se a cidade for comum o arbítrio e a covardia voltarão para os esgotos.

III

Nós queremos renovação, mas uma renovação de verdade. Não renova de verdade uma mudança que seja apenas uma troca de pessoas mais velhas por outras mais novas. Novas pessoas fazendo a velha política que só beneficia o 1% de ricaços, aqueles que sempre foram privilegiados se apropriando do trabalho alheio é uma falsa renovação, é fazer o velho com rostos novos. A questão não é etária ou geracional, é de projeto. Também não acreditamos em uma política que é a dimensão pública de um empreendedorismo individualista, que acredita no sucesso pessoal de alguns líderes como saída para a cidade, para o país ou o mundo. Nossa cidade e nosso país não são empresas. Nossa criatividade e genialidade é coletiva, vem de pensarmos juntos o que é interesse comum. Só nos interessa um futuro no qual ninguém fique para trás. A história que queremos construir não é uma biografia, mas a história de um povo inteiro, o nosso povo lutador.

Comum, comunitário, comunhão, comunidade. Vem junto com a gente, porque chegou a hora dos 99%.


por André Cintra | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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