O último de três encontros do Fórum Saúde XXI, do Ciclo de Conferências a Oeste – Torres Vedras 2019, debateu “A descentralização e uma visão para o futuro da saúde no Oeste” e reuniu cerca de meia-centena de participantes.
A descentralização de serviços na área da saúde marcou este terceiro fórum, onde os intervenientes falaram sobre as transferências de competências do poder central para o poder local e as suas vantagens e desvantagens ou implicações na vida das pessoas.
“A transferência de competências para os municípios é um grande passo na melhoria dos cuidados primários de saúde”, defendeu Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde, que falou sobre a “Visão estratégica de saúde para o município de Torres Vedras”.
Face ao envelhecimento da população em Portugal (já é o quinto país mais velho do mundo), “o grande objectivo do serviço público de saúde é evitar que a população precise de recorrer aos serviços de saúde”, disse o antigo membro do Governo, para quem as políticas de saúde para o país devem ser definidas centralmente, mas a sua aplicação tem de ser local.
Para o presidente da Câmara de Torres Vedras, que discursou na sessão de abertura e participou no primeiro painel de discussão, aquilo que vai ser determinante no futuro na área da saúde é a prevenção e nessa matéria “os municípios têm um importante papel a desempenhar”.
Carlos Bernardes salientou que Torres Vedras é um “bom exemplo”, na medida em que possui vários equipamentos públicos e privados numa quantidade só ultrapassada pelas maiores cidades do país. Essa “vantagem” deve ser reforçada pela autarquia através da promoção de estilos de vida saudáveis, sobretudo junto dos mais jovens, como a ciclovia, a periódica medição da qualidade do ar ou o apoio ao desporto, para os quais são destinados “quatro por cento do orçamento anual da Câmara”, ou seja, cerca de 2,4 milhões de euros.
As medidas locais de prevenção da saúde nas cidades foram também defendidas por Carlos Cruz, da Deloitte Portugal, ao falar sobre o conceito de Smart Health City. Para o especialista, é necessária uma mudança do modelo de funcionamento dos hospitais, atendendo ao envelhecimento da população, para a qual contribui a “regionalização” dos serviços de saúde, devido à sua maior proximidade com a população.
Elsa Baião, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO), acha o mesmo. “Os hospitais servem para tratar casos agudos e urgentes de doença. Mas é preciso implementar um novo modelo, centrado na prevenção, que tem de partir da comunidade, centros de saúde, autarquias ou o voluntariado”, disse aquela responsável, referindo ainda as farmácias, que muitas vezes são o primeiro recurso dos doentes.
Em reforço desta visão de futuro, que antevê mudanças profundas no modo de olhar a saúde, também Joaquim Ferreira, director clínico do Campus Neurológico Sénior (CNS) de Torres Vedras e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, defendeu que “a forma de tratar os doentes vai-se alterar num futuro próximo, vamos mudar dos hospitais para a casa das pessoas ou para a comunidade”.
Ambos falavam no segundo painel, “Oportunidades e desafios da descentralização de competências no domínio da saúde, decorrentes do DL 23/20192”, moderado por Pedro Serra Pinto, membro executivo do Fórum Saúde Século XXI, também com a participação de Ricardo Mestre, vogal do conselho directivo da ACSS (Administração Central do Sistema de Saúde); Anabela Barata, da ARS de Lisboa e Vale do Tejo; e António Martins, diretor do ACES Oeste Sul.
Segundo a Câmara Municipal, as três conferências realizadas reuniram cerca de 180 participantes de diversas áreas, entre profissionais de saúde, representantes de farmácias, IPSS, comunidade académica e escolar, empresas privadas e comunidade em geral.
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