A “Europa” não resiste à irrupção da geopolítica no continente europeu. Se a “pax americana” congelou o quadro geopolítico europeu, entre o fim da II Guerra e a reunificação das Alemanhas, o início do século XXI marca o aparecimento de um “aquecimento global” e consequente “degelo” desse quadro, até aí bem definido e fixo.
A intervenção alemã (perdão, “europeia”…) na Jugoslávia, com a consequente fragmentação desse Estado, é o momento fundacional desse “degelo”. As iniciativas alemãs na Ucrânia, com a consequente crise russo-europeia, são um segundo e bem alto momento desse processo.
O que já se tinha começado a ver e perceber na crise jugoslava (que continua longe de estar resolvida e permanece em “banho-maria”) confirmou-se na Ucrânia. O coronel Jacques Hogard (um dos europeus que melhor conheceu o conflito jugoslavo) não se engana ao afirmar que “a Europa morreu em Pristina”.
Agora, uma operação de ciber-pirataria contra o governo pró-russo do Donbass (região leste da Ucrânia) veio revelar mais provas da fragmentação geopolítica europeia. O que não tem, por enquanto, forma de se revelar à luz do dia, dentro da União Europeia, revela-se na… Ucrânia.
Se a extrema-direita alemã deu largas aos seus sentimentos e percepções anti-URSS, perdão, anti-Rússia, durante os acontecimentos de Kiev que levaram à queda do regime e sua substituição por um regime pró-alemão, perdão, pró-europeu, a extrema-direita francesa mobiliza-se contra Kiev e envia os seus voluntários combaterem integrados nos aparelhos militares pró-russos, no interior da Ucrânia.
A Ucrânia, para além de outras e muito interessantes fenomenologias, tornou-se o campo de batalha onde (pela primeira vez desde a derrota alemã de 1945) franceses voltam a combater alemães. Alguém poderá dizer que são coisas das extremas-direitas… Não, não são.
São coisas da geopolítica e, desta vez, coube à extrema-direita (e não à extrema-esquerda) apresentar uma maior “sensibilidade” às mudanças…