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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

França: com apoio da esquerda, Macron abre vantagem sobre Le Pen

Três pesquisas para o segundo turno mostraram que Macron ampliou a sua liderança em relação a Le Pen.

A adesão de eleitores da esquerda será decisiva no segundo turno das eleições presidenciais da França, que acontece no próximo domingo (24). No duelo entre o presidente direitista Emmanuel Macron e a líder da extrema-direita Marine Le Pen, a batalha é pelos votos de quem, no primeiro turno, escolheu para liderar a nação ou um anticapitalista pró-imigração e um socialista.

Os apoiadores de Jean-Luc Mélenchon detêm a chave do segundo turno. O terceiro lugar obtido por ele no primeiro turno, com 22% dos votos, quase o qualificou para o confronto final. Le Pen e Macron passaram o segundo turno com 23,2% e 27,9% dos votos, respectivamente. Mas votar em Macron ou Le Pen é uma opção estranha para os eleitores de Mélenchon.

Parte do que animou a campanha de Mélenchon foi a profunda aversão que muitos eleitores têm por Macron, um ex-banqueiro de investimentos e defensor da União Europeia (UE). Mélenchon fez campanha para recuperar os poderes da UE e deixar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar pró-Estados Unidos). Ele pretendia tributar transações financeiras, limitar o pagamento de dividendos aos acionistas, investir em serviços públicos e nacionalizar parte do setor de energia para desenvolver a energia eólica.

Cinco anos de políticas ultraliberais de Macron – do desmonte das proteções aos trabalhadores à abolição do imposto sobre fortunas – afastaram muitos da esquerda e permitiram a Le Pen explorar a insatisfação dos franceses. Uma pesquisa do Elabe chegou a mostrar Le Pen apenas novepontos porcentuais atrás de Macron.

Mas nesta terça-feira (19) três pesquisas para o segundo turno mostraram que Macron ampliou a sua liderança em relação a Le Pen. O presidente atingiu o mais alto patamar desde antes do primeiro turno, com uma pontuação média de 55,38%, mais de três pontos acima de uma média de cinco pesquisas feitas antes da votação do primeiro turno.

Os levantamentos indicam que Macron teve uma oscilação positiva de um ponto percentual – o número é ainda três pontos mais alto do que a média registrada nas pesquisas antes do primeiro turno. Ainda assim, a distância entre os dois candidatos está longe da registrada nas eleições de 2017, quando Le Pen perdeu com 33,9% dos votos.

O França Insubmissa, partido de Mélenchon, realizou uma consulta interna para esboçar uma orientação no segundo turno. De 215 mil participantes, 37% disseram preferir o voto em branco, 33,4% afirmaram que optarão pelo apoio a Macron e 28,9% indicaram que vão se abster. “Os resultados não são uma ordem para apoiar ninguém. Todos devem tirar suas conclusões a partir disso e votar como acharem melhor”, escreveu a equipe de campanha. Na França, o voto não é obrigatório.

Para muitos eleitores de Mélenchon, porém, votar em Le Pen também é muito difícil. Alguns são atraídos pelas promessas de Le Pen de combater a inflação cortando os impostos sobre os combustíveis e outros bens essenciais. Mas apoiadores do político de esquerda são contra os planos de Le Pen de limitar a presença dos imigrantes na sociedade francesa e proibir o uso do véu muçulmano em locais públicos.

Um aumento das abstenções, porém, representa um desafio para Macron. No segundo turno das eleições de 2017, Macron atraiu 60% dos eleitores de Mélenchon para derrotar Le Pen por 32 pontos percentuais. Pesquisa da Elabe feita após o primeiro turno mostrou que 33% dos eleitores de Mélenchon pretendem ignorar o segundo turno ou votar em branco. Cerca de 25% disseram que votarão em Le Pen, enquanto que 42% pretende apoiar Macron.

Os outros principais candidatos do primeiro turno já sinalizaram claramente como esperam que seus apoiadores votem. O ex-comentarista de TV de extrema-direita Éric Zemmour, que ficou com 7,1% dos votos, pediu aos seus eleitores que apoiem Le Pen, enquanto a conservadora Valérie Pécresse, que recebeu 4,8% dos votos, anunciou apoio a Macron.

No entanto, Mélenchon tem sido mais evasivo, conclamando seus apoiadores a não votarem em Le Pen, mas também sem declarar apoio a Macron. “Vocês não devem dar um único voto a Le Pen”, disse ele após admitir a derrota. Assim, Macron e Le Pen lutam agora pelos eleitores de Mélenchon.

Durante décadas, os eleitores apoiaram os candidatos do establishment no segundo turno para impedir a família Le Pen de chegar à Presidência da França, uma coalizão política conhecida como “frente republicana”. Mas o aumento da inflação vem alimentando o descontentamento dos eleitores ao longo de todo o espectro político, o que está provocando rachaduras na frente republicana.

Em 2002, quando Jean-Marie Le Pen, o fundador do partido de Marine Le Pen e seu pai, chegou ao segundo turno, mais de 82,2% dos eleitores apoiaram o presidente conservador Jacques Chirac. Em 2017, Macron conquistou 66,1% dos votos no segundo turno contra Marine Le Pen.

Para atrair o eleitorado de esquerda, Macron, também vem cedendo em propostas iniciais e disse que está disposto a aumentar a idade mínima da aposentadoria para 64 anos, um a menos do que o defendido anteriormente. As diferenças entre os dois candidatos poderão ser expostas no primeiro debate entre os presidenciáveis, nesta quarta (20) – Macron se recusou a encontrar os rivais no primeiro turno.

O debate de 2017 não traz boas lembranças a Le Pen, que na época foi acusada de ser agressiva e sem preparo. Poucos dias depois, ela admitiu o “erro estratégico”, o que reiterou na atual campanha.


Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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