Entrevista com Francis Lawrence
Francis Lawrence tem uma carreira curiosa no audiovisual. Não é propriamente aquilo que se possa chamar um autor, mas antes um tarefeiro competente em recriar envolventes ambientes visuais. Começou por dar expressão a artistas da música em vídeos promocionais. Que o digam Jennifer Lopez, a banda Green Day ou mesmo Britney Spears e Lady Gaga. Recriou depois o ambiente sobrenatural em que Keanu Reeves se embrenhou no drama de horror Constantine, há uma década atrás; pediu-se-lhe depois que recriasse o ambiente pós-apocalíptico de Eu Sou a Lenda, onde Will Smith se haveria de perder. Não receou depois uma proposta chamada Água Para Elefantes, juntando Robert Pattinson e Reese Witherspoon numa arena de circo, e assegurou ainda o episódio piloto da série Touch, até que aterrou no seu colo a proposta e a responsabilidade de participar na realização de The Hunger Games: Em Chamas. Algo que cumpriu com eficácia, levando-o ao desafio ambicioso de cumprir os prazos para as duas partes de A Revolta. Isto entre duas viagens a Cannes para promover ambos os projectos. Pois foi aí que o apanhámos. A ele e toda a equipa num press junket intenso e repleto de estrelas. Ah, uma coisa, Francis Lawrence nada tem a ver com Jennifer Lawrence…
Ficou surpreendido com o sucesso que teve estes The Hunger Games, agora com as duas partes de A Revolta?
Fiquei. Honestamente, gostei dos livros. Achei que o cast foi fenomenal. Mas nunca imaginei que a saga tivesse o sucesso que conhecemos. É fantástico perceber naquilo em que se tornou. É fantástico. Sobretudo para mim pegar numa sequela. Excedeu todas as expectativas.
Como foi dirigir uma actriz como a Jennifer Lawrence – já seu que o apelido é apenas coincidência – sobretudo depois de receber um Óscar? Sentou alguma alteração na sua maneira de ser?
Sim, é pura coincidência (risos). Mas não, não senti mudança nenhuma na Jennifer depois de ter ganho o Óscar (Guia Para um Final Feliz, em 2012). Ela é uma actriz muito espontânea e continuou a ser. Ela gosta sempre de estar a par do que se passa para interiorizar na personagem.
Qual foi para si a parte mais complicada de abordar nesta nova fase da franchise?
Em grande parte, foi o tempo. Recebi esta proposta quando estava a gravar Em Chamas. E durante a pós-produção tentámos colocar em marcha a pré-produção; depois, durante a promoção desse filme, já estávamos em produção destas duas partes. Esta sobreposição de montagem, banda sonora, preparação de dois filmes, ao mesmo tempo da publicidade e início de rodagem foi algo bárbaro. Ainda bem que tinha uma equipa fantástica e muito colaborante.
Relativamente aos efeitos visuais, seguiu-se também esse processo de colaboração?
Sem dúvida. Foi óptimo podermos juntar vários talentos. Foi uma experiência muito libertadora porque tanto a produção como a equipa de efeitos especiais e o cast, todos queríamos fazer o mesmo filme.
Mas quando se trabalha com um orçamento tão grande, quais são, afinal de contas, os limites?
Sabe uma coisa, depois de ter feito filmes, séries, spots publicitários, coisas de escala diferente, o que nunca sobra é o dinheiro. Ou seja, é sempre insuficiente! Nesse aspecto, o realizador é sempre um pouco ambicioso. Dentro dos limites, naturalmente. O que significa sempre uma certa dose de compromisso.
Poderemos então esperar agora um final em grande?
Não sei, é a história. Teremos novos cenários, iremos underground no Distrito 13, teremos várias batalhas nos distritos da Capital. Muitas coisas se vão passar.
Paulo Portugal, em Cannes