O gajo trouxe-me a caderneta de cromos do Euro 2016 e intimou-me a participar nessa grande contenda que é acabar uma colecção. Argumentou: “É o Ronaldo, o Ronaldo e o Ronaldo, mais o Dani (?) e o não-sei-quem”.
Uma pessoa tem de acompanhar estes entusiasmos, embora quando passa um jogo na TV o tipo que me veio fazer a proposta não aguente mais de cinco minutos a olhar para o ecrã.
Já é confuso que as cadernetas da Panini sejam dadas nas escolas, mas isso é o menos… Abres a caderneta e começas a contar os cromos. Lembras-te mais ou menos daquela do Espaço: 1999 que tinha 300 e era um exagero. As da bola iam aos 150, 200, vá, e mesmo assim era um vê se te avias, a negociar naquelas bancas de trocas, a ser gamado, três por um, enfim. A malta a trocar mal na escola e a ficar com o Sport Billy pelo Naranjito.
Lá se abre a caderneta.
Frio na espinha: são 680 cromos. Repito: seiscentos e oitenta, 680, DCLXXX! Um gajo fica logo a desconfiar. Mas haverá tantos jogadores e treinadores na competição? Sim, são 552. Mais os símbolos, os estádios, os cromos doirados. Estamos feitos ao bife.
A sessenta cêntimos a carteirinha, com seis cromos lá dentro, se tivéssemos sorte e nenhum repetido, iam-se 68 euros. Mas, oh destino, o que é uma colecção sem os famosos repetidos.
Façamos então contas ao real. Depois de cinquenta carteirinhas, metade é repetido. Depois de 100, dois terços são repetidos. And so on…
Assim por alto, em razão simples, temos já 135 paus gastos em cromos. Mas como quanto mais o cromo aquece, mais força tem o repetido, e continuando o crescimento exponencial da coisa, estamos nos 200 euros não tarda, incluindo a troca nas bancas do centro da cidade e a encomenda dos últimos 20…
E estamos a ser optimistas. O Mirror britânico alerta que a coisa pode chegar às 374 libras. Ou o mesmo valor em euros, já que os da ilha pagam o cromo mais barato e a moeda é mais dura.
Ora, 374 euros para a fuça autocolante do Ronaldo, do Ronaldo e do Dani (?), mais do não-sei-quem, não é investimento que se faça. Quem será o louco que dará 374 euros por um livro que vem incompleto e, ainda por cima, fica com uma pilha de capítulos repetidos em cima da mesa?
Sim, a colecção de cromos é socializante, faz com que se inicie o processo de trocas com os amigos. Mas, hélas!, a escola acaba esta quinta e não há ninguém para a troca… (hehehe)
Devolve, sem medos: “Não, que os meus amigos estão no ATL e o Zé e o Diogo e o Dani (?), mais o não-sei-quem estão lá na aldeia e também têm a colecção”. Gaita!
A primeira caderneta que vi foi a de 78. A primeira que se acabou lá em casa paterna e materna foi a do Naranjito, a mais curtida era a do México 86 e, depois disso, finou-se o interesse na bola. Mas um gajo fica entre a responsabilidade de criar boas memórias e deitar ao lixo 374 paus. São cinco meses da conta da EDP.
Não sei que faça. Apago a luz?