O que se passa nos nossos dias é no mínimo preocupante, pois existe hoje uma indústria chamada futebol, que tem todo o tempo de antena.
A indústria do futebol chega a ocupar nos órgãos de comunicação social ditos tradicionais, nomeadamente nas televisões, nos seus blocos noticiosos, cerca de 30 dos 50 minutos de duração média, restando 20 minutos para notícias de actualidade, seja ela económica, social ou política.
Este tipo de notícia poderá estar mais próximo do conceito de espectáculo, como referia há semanas José Pacheco Pereira no seu artigo de opinião publicado na Revista Sábado, onde afirmou “Que fique bem claro que o Campeonato Europeu de Futebol, ainda por cima com a participação de Portugal, é notícia e matéria de relevo noticioso”, adiantando que “O efeito é semelhante à dopagem. (…) Depois há a ressaca…”. O tema e o relevo que lhe é dado leva, por vezes, ao desvio da atenção de outros temas que mereceriam destaque pela sua importância e actualidade.
Há dias, pesquisando alguns sites de órgãos de comunicação Social deparei-me com uma notícia no site da RTP, que na realidade nem mereceu destaque nesse mesmo site. Mais grave, essa notícia nem mereceu destaque num único bloco noticioso, sendo ela de suma importância, e merecedora de toda a nossa atenção.
Os Special Olympics, que foram lançados há 50 anos, e que decorreram o ano passado nos Estados Unidos, contaram com uma delegação portuguesa composta por 49 elementos, que conquistou ao todo 44 medalhas. Como refere a notícia, em nove modalidades distintas os atletas portugueses conquistaram, nada mais nada menos do que, 14 medalhas de ouro, 18 medalhas de prata e 12 medalhas de bronze.
A atleta mais medalhada, chamada Maria Taveira com apenas 14 anos, conquistou quatro nas competições de ginástica rítmica; feito inédito, tendo em conta que esta competição é para pessoas portadoras de deficiência, os chamados atletas paralímpicos, aos quais raramente é dada a devida cobertura.
A informação passou num programa de Domingo à tarde durante 10 a 15 minutos, e na RTP 2, canal com visibilidade diminuta, com baixos níveis de audiência.
É de lamentar que estes atletas e estas modalidades não tenham, por norma, tempo de antena num telejornal no chamado horário nobre, e que não se dê visibilidade às muitas Marias Taveiras por este país.
Estes atletas quando partem para competição, fazem-no com enormes dificuldades financeiras, pois não têm os apoios ou os mesmos patrocínios de milhares de milhões que o futebol, por exemplo, tem.
Ou será que a sociedade considera que todos os outros desportos não são desportos, e que todos os outros desportistas não são desportistas. E que apenas o futebol é desporto; e que apenas os jogadores de futebol, que ganham milhões, são desportistas, e ganham milhões não apenas pelo que recebem dos seus clubes de futebol, mas pelo que recebem de patrocinadores, por via de direitos de imagem em anúncios publicitários e, como se não bastasse, muitas vezes com entrevistas que são pagas.
O futebol recebe, todos os anos, muitos milhões de euros em subsídios, pagos pelos impostos de cada um de nós; ou seja, do Estado Português.
Mas, é aquilo a que se chama o desporto de massas, o que move massas, e algum poder político usa-o como arma para manter as pessoas na mais pura alienação, distraindo-as, para assim aceitarem melhor as medidas impopulares que nos impõem.
É hora de exigir a independência real da Comunicação Social, enquanto quarto poder e, a partir do que tenho lido, disso se orgulha o Jornal Tornado, onde não há censura e onde a verdade é dita, a tal que incomoda muita gente. E é para isso que todos cá estamos, para incomodar poderes instalados e para ajudar a informar, com verdade.