“Estamos nós, gaivotas, a olhar para o fim da liberdade no nosso mundo?”
Richard Bach, in Versão integral de ‘Fernão Capelo Gaivota’
“Olá” – grasnou ela, do lado de fora da janela.
“Olá” – respondi-lhe dirigindo-me a ela, nem me ocorrendo que pudesse fugir à minha aproximação. Não fugiu. Abri devagar a vidraça que estava mais afastada, e ela acompanhou o gesto sem se mover. Parecia até que o esperava. Sem saber o que fazer não fiz nada, olhava-a. Ela nada fazia e olhava-me também. Foram longos segundos, até que me lembrando que ela me tinha falado, falei-lhe.
“Que fazes aqui?”
“Espero! Espero que me dês alguma coisa de comer… qualquer coisa!”
Não me ocorrendo o que de melhor lhe dar dei-lhe o que estava mais à mão, uma peça de fruta, que fui dentando e bocado a bocado lhe ia dando à medida que ela, picada a picada a ia comendo. Acabada a peça a gaivota voou naquele vou elegante e ágil que tanto encantam os poetas.
No dia seguinte e no outro e no outro a cena foi-se repetindo, apenas o que lhe dava a comer ia mudando.
Hoje, antes de pousar no meu beiral pousou num candeeiro em frente e fitou-me, de lado, longamente.
Fiquei ali esperando o que ela iria fazer de seguida, até que voou ao meu encontro e disse:
“Sabes?, vou partir!”
“Quando?”
“Agora! o bando me espera! Vim, não para comer mas te deixar o meu obrigada! Não são muitos os homens que alimentam a liberdade, agora que é hora em que ela mais periga!”
E grasnando ao bando que naquele momento ia passando, voou ao seu encontro e lá foram em direcção ao mar…
Exclusivo Tornado / Conversa Avinagrada