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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Gorongosa

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Poemas de Delmar Maia Gonçalves

I

Este poeta exilado
não para de sucumbir
As agruras do tempo dilaceram-no
Voltai-lhe o rosto
para o berço natal
para que ele exale
o seu último suspiro!

II

No mundo
em que me vejo afogado
após a expulsão
do ventre da minha mãe
não vivo
Fui condenado
a descobrir novos mundos
num mundo
em que viver é pecado capital!

III

“Bastará estar vivo para se morrer!”

IV

“Gorongosa”

Na Gorongosa
a noite entranhou-se
e só o luar
ilumina o macabro rosto da morte!

V

Quando
saí do berço
ardeu o poeta
que havia em mim!
O que sobra
são fragmentos
estilhaçados de mim.

VI

“Mamã”

Porque te vinculaste
ao mago
que te impele
ao esquecimento?

VII

“O céu”

O céu
nem sempre
é cinzento
Por vezes,
chega a ser azul
Nunca é verde!

Apesar da morte
há o parto!

VIII

“Geografia pessoal”

Minha geografia
começou no bairro de Vila Pita
prolongou-se
pelo Torrone Velho
em Quelimane dos bons sinais
estendeu-se pela lusitana Parede
o epílogo
não o conheço!

IX

“Mulher III”

Esse ser infame e infiel,
esse ser frágil e indefeso,
esse ser belo e envolvente,
esse ser demoníaco e dominador.
Esse ser que me repele.
Porque me repeles?
Esse ser que me atrai.
Porque me atrais?
Esse ser que me atinge.
Porque me atinges?
Esse ser que me chama.
Porque me chamas?

X

“Mulher XV”

Teus olhos
um íman inevitável
teus lábios
um chamamento enigmático
teu corpo
um convite vedado
tua vida
um mundo de paixões!

XI

“Mestiço de Corpo Inteiro”

Sou mestiço sim
mestiço de corpo inteiro
mestiço no espírito e na carne
mestiço das Áfricas,
das Américas, da Ásia, da Oceânia,
mestiço das Europas
mestiço do mundo, mestiço do mundo inteiro!

E quando a ignorância
atinge o auge
proclamo aberta
e solenemente minha humanidade
e inteligência
que vai da África
à Europa,
da Europa às Américas
e da Ásia à Oceânia.

Sou mestiço sim
de corpo inteiro!

XII

À noite
o vento abraça-me entre muros
para que não me sinta só.
E o sol
é a luz
por que anseio
desesperadamente
Ainda que queime!

XIII

Cores aberrantes
me sufocam
humanos desumanamente encaixotados
A inestética
de uma estética inexistente
Observo
indisponho-me
e estremeço!

XIV

Mãe!

Quando acordo
já o governo legalizou
o que me roubou!
O roubo
é abençoado
pelo patriarcado do Deus cifrão!

XV

Nós o povo
votamos em ladrões
que se enchem de milhões
e nos deixam com tostões!

XVI

“Quelimane”

Amanheceu
em mim
a esperança
que não é vã
pois há raios de luz
na mensagem desnudada!

XVII

“Cada homem é um oceano. Nunca chegaremos verdadeiramente a conhecê-lo!”

XVIII

Questiúnculas
de desalmados
não fazem cair
um homem vertical!

XIX

“A paz só se constrói ,quando se dá voz às vozes genuínas da paz!”

XI

“Só os poetas têm as chaves das algemas do silêncio!”

XII

“Entre a verdade e a mentira, não existe meio termo!”

XIII

“Na opressão há um silêncio ruidoso!”

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