Nova pesquisa mostra que quase 60 por cento dos japoneses desejam o cancelamento dos já atrasados Jogos de Tóquio. Os jogos estão programados para começar em 23 de julho e continuar até 8 de agosto.
As autoridades estão perplexas, e o evento esportivo que deveria ser um momento de alegria e confraternização começa a se tornar o bode na sala. Um incômodo profundo com o qual ninguém sabe o que fazer, desde que já foi adiado um ano, com enormes custos para um país em que bem menos de 3% da população foi vacinada, a menor taxa entre os países ricos. Para piorar, as Olimpíadas já comprometeram recursos e esforços da maioria dos outros países do mundo.
O primeiro-ministro Yoshihide Suga disse nesta segunda-feira que nunca “colocou as Olimpíadas em primeiro lugar”, já que uma pesquisa de opinião mostrou que quase 60% dos japoneses querem que as Olimpíadas sejam canceladas menos de três meses antes do início. A taxa de aprovação pública de Suga está em 40%, perto dos mínimos históricos registrados no início deste ano.
Impacto econômico
Oficiais olímpicos internacionais, planejadores de Tóquio e o próprio Suga insistiram que o evento de US$ 15,4 bilhões será realizado de maneira “segura e protegida”. O impacto econômico do cancelamento, no entanto, é visto como mínimo e sem grande efeito, por especialistas. Esta é uma economia com PIB de seis trilhões de dólares. Espectadores estrangeiros foram banidos e os planejadores publicaram um elaborado manual de regras no mês passado com o objetivo de prevenir infecções por coronavírus.
O comitê organizador, no entanto, será afetado. As vendas de ingressos são a terceira maior fonte de receita, quase US$ 800 milhões que terão que ser reembolsados, eles vão perder uma grande parte disso em reembolsos. A decisão sobre a presença de torcedores, ainda indefinida, afeta a capacidade do público se preparar com transporte e hospedagem. Por isso, as decisões têm que ser tomadas com antecedência.
O peso financeiro da venda de ingressos perdidos recai sobre o Japão. No geral, o Japão está gastando oficialmente US$ 15,4 bilhões para organizar as Olimpíadas. Várias auditorias governamentais afirmam que o custo real pode ser o dobro. Tudo, exceto US$ 6,7 bilhões, é dinheiro público.
O Japão estendeu o estado de emergência em Tóquio até o final de maio e está lutando para conter um aumento nos casos de covid-19, levantando mais questões sobre se os Jogos devem ocorrer.
Rejeição pública
Mas uma pesquisa de opinião pública, conduzida entre 7 e 9 de maio pelo jornal Yomiuri Shimbun, mostrou que 59% queriam o cancelamento dos Jogos, em comparação com apenas 39% que disseram que deveriam prosseguir. Não houve opção de adiar o evento, que já teve um ano de atraso.
Outra pesquisa conduzida durante o fim de semana pelo TBS News descobriu que 65% queriam os Jogos cancelados ou adiados novamente, com 37% votando para descartar o evento e 28% pedindo outro adiamento.
Mais de 300.000 pessoas assinaram uma petição para cancelar os Jogos em cerca de cinco dias desde o seu lançamento.
Cerca de 100 manifestantes “anti-olímpicos” marcharam ao redor do Estádio Nacional de Tóquio no domingo para mostrar sua oposição ao evento, enquanto um evento-teste acontecia lá dentro.
Os manifestantes expressaram sua raiva contra os organizadores de Tóquio e o COI por levarem adiante os jogos, mesmo com o aumento dos casos de covid-19.
Questionado em uma reunião do comitê parlamentar se os Jogos iriam continuar mesmo se os casos de coronavírus continuassem a aumentar, Suga respondeu: “Nunca coloquei as Olimpíadas em primeiro lugar”.
“Minha prioridade tem sido proteger a vida e a saúde da população japonesa. Devemos primeiro prevenir a propagação do vírus ”, acrescentou.
Ele repetiu que o COI tem a palavra final sobre o destino dos Jogos e que o papel do governo é tomar medidas para que o evento seja realizado com segurança.
O oficial olímpico John Coates disse no sábado que embora o sentimento japonês sobre os Jogos “fosse uma preocupação”, ele não podia prever nenhum cenário em que o evento esportiva não ocorresse.
Pandemia no Japão
Com 126 milhões de habitantes, o país asiático é o 37o. (dentre 222 países) com maior número de doentes, 640.000 casos. É o décimo (de 14) entre os países com mais de cem milhões de habitantes. Também é o 40o. país com maior quantidade de mortes, 10.876 casos.
Em termos proporcionais, no entanto, o Japão é o 139o. país com mais casos por milhão de habitantes e o 131o. com mais óbitos por milhão. Estes últimos índices explicam a falta de preocupação do governo com a vacinação e medidas restritivas. O Japão não teve nenhum período de lockdown, embora essa hipótese se apresente conforme os hospitais de algumas cidades começam a lotar.
A farmacêutica norte-americana Pfizer Inc e a parceira alemã BioNTech SE disseram na quinta-feira que doariam doses de sua nova vacina contra o coronavírus para ajudar a inocular atletas e outros membros das delegações olímpicas. Isto tem sido visto como um privilégio que pessoas idosas no país não tiveram.
Contágios
Com média de mil contágios por dia em meados de 2020, a pandemia ficou explosiva com média de 2500 casos por dia a partir de dezembro, chegando a cerca de 6 mil no final de janeiro. Atualmente, o país vive uma 4a. onda de contágios, com pico média de 5 mil.
Mortes
O cenário de mortes é similar, com 10 óbitos diários na 1a. onda, um pouco menos da 2a., 50 no início da 3a, em dezembro, chegando ao pico de 100 mortes médias por dia em fevereiro. Atualmente, o pico se mantém perto de 70 registros diários
por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado