Vitória sem maioria absoluta da coligação PàF abre alguns cenários que o Presidente da República terá que ter em conta. Discursos de final de noite eleitoral não facilitam a vida a Cavaco Silva.
Num país em que os partidos não estão habituados a compromissos e negociações pós-eleitorais, a vitória sem maioria absoluta da coligação Portugal à Frente (PàF) nas eleições de 4 de Outubro pode significar que quem ganhou as eleições não venha a formar Governo. Nos habituais discursos de noite eleitoral todos os partidos fizeram um voto de intenções. Todos, menos o Partido Socialista (PS), com António Costa a empurrar a governação para a coligação de direita e a não responder ao desafio lançado pelos partidos à esquerda socialista.
Os líderes dos partidos que compõem a coligação PàF, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, disseram que iam formar Governo, já que o resultado eleitoral o permite a quem tem mais mandatos e cumprem o critério que o Presidente da República tinha definido para a formação de um novo Executivo. Contudo, lembram que será preciso entendimentos com outras forças partidárias para uma governação estável. E o primeiro teste é já na aprovação do Orçamento de Estado para 2016.
A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, foi a mais contundente e lançou o desafio a António Costa para não deixar que PSD e CDS-PP formem um Governo. Mas mais uma vez, à semelhança do que aconteceu durante a campanha eleitoral, não ouviu nenhuma resposta da boca do líder socialista. Já o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou que o PS tem condições para formar Governo e que só os socialistas poderão deixar viabilizar um Governo de direita. Ou seja, colocou nas mãos de António Costa a decisão de procurar um entendimento à esquerda.
No discurso mais indefinido da noite, o líder socialista tentou acalmar os críticos ao afirmar que não se demitia. Sem responder aos desafios de BE e PCP, declarou que compete à coligação encontrar as soluções para governar.
Adepto de maiorias absolutas, Cavaco Silva terá que esperar para ver se existe entendimentos, sejam eles quais forem, para a formação de um Governo que mantenha a estabilidade. O Presidente da República já disse que tinha pensado no que poderia fazer em qualquer cenário político que saísse das eleições, mas pode ver a decisão mais importante do seu segundo mandato dificultada.
E tudo poderá estar nas mãos de Cavaco Silva.