O governo precisa de um porta-voz, uma espécie de press-secretary como existe no governo britânico ou nos EUA (antes de Trump quando o lugar era ocupado por gente decente). Nos tempos que correm, governar não é só tratar dos temas substantivos que afectam a vida dos cidadãos.É também estar atento aos eventos criados nos e para os media e estar permanentemente disponível para os antecipar e responder-lhes. Um porta-voz é uma pessoa com informação privilegiada, com acesso directo às “regiões” onde a informação nasce e se desenvolve. Alguém que possui um profundo conhecimento das técnicas e instrumentos de comunicação. Não pode ser o primeiro-ministro a responder e a comentar em cima da hora tudo o que os jornalistas e as redes sociais colocam na agenda política e mediática.
É evidente que o governo de António Costa tem a dificuldade acrescida de ver a sua performance comunicativa sistemáticamente comparada com a de um presidente da República que comenta tudo a todo o momento. Ora, nenhum primeiro-ministro pode acompanhar o Presidente Marcelo na sua azáfama comunicativa porque o Presidente tem tempo de sobra para criar os seus próprios eventos e para reagir aos eventos criados por outros e o governo não.
O caso do jantar no Panteão é o exemplo de uma precipitação comunicativa do primeiro-ministro, não porque o conteúdo seja criticável mas porque a sua posição não devia ter sido formalizada num comunicado emitido tão rapidamente. Como se viu, os jornalistas foram conhecer os antecedentes do tal jantar e chega-se à conclusão que afinal ninguém no governo anterior e no actual tinha reparado que havia jantares no Panteão. Daí que a reacção mais adequada acabou por ser a da directora do monumento ao recusar demitir-se, invocando o cumprimento da lei e os anteriores jantares, desdramatizando o caso.
Um press-secretary seria também útil na desmontagem da estratégia da direita e dos seus seguidores nos media, que pretendem disseminar a ideia de que o primeiro-ministro não assume responsabilidades nem dá a cara nos momentos difíceis, etc. etc. Como se sabe, o fluxo informativo de notícias e comentários 24 horas em 24 horas nos vários canais informativos de televisão ampliados pelas redes sociais, obriga os jornalistas a correrem atrás de tudo o que é dito pelos membros do governo para depois ser comentado pelos partidos, pelos comentadores e pelos próprios jornalistas. Sem esquecer as “notícias” que nascem nas redes sociais que os jornalistas também seguem e transpõem para os seus jornais, rádios e televisões.
Ora, das duas uma: ou o primeiro-ministro não faz mais nada senão andar atrás do que se diz no espaço público mediático para comentar e responder aos jornalistas, ou arranja um porta-voz, alguém com prestígio, experiência, capacidade de comunicação e credibilidade para a tarefa de acompanhar os media e os novos media, esclarecer, corrigir, desmontar, e antecipar as atoardas que são criadas todos os dias para enfraquecer a imagem e a credibilidade do governo.
Ultimamente o primeiro-ministro é preso por ter cão e preso por não ter cão. Se fala em verbas para os incêndios está a ser “frio” e a “dar dinheiro” em vez de dar “afecto”. Se diz que uma determinada lei é do governo anterior é porque não assume responsabilidades, se não pede desculpa por tudo o que acontece é porque não tem sentimentos e é arrogante. Na sociedade do simulacro em que vivemos, pedir desculpa tornou-se o principal indicador de avaliação de um político. O que diz bem da sociedade em que vivemos. A aparência do real é mais importante que o real.
O primeiro-ministro não deve recear as críticas de quem o desafia para uma exposição mediática permanente de resposta e comentário a tudo o que acontece. Deixe isso ao Presidente. Mas encontre um porta-voz sério e competente (e que não caia nos erros dos briefings do governo Passos Coelho).
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