A economia continua em contracção a ritmos preocupantes, os níveis de consumo continuam em declínio, as exportações baixam.
Agora que os gregos se confrontam com novo resgate as lições da tragédia grega devem alertar-nos para não cairmos nos mesmos erros.
Primeira lição
Austeridade não permite reduzir a dívida, antes a agrava
Apesar de terem emigrado, nos últimos anos, mais de meio milhão de gregos, o desemprego persiste em níveis superiores a 20% da população activa e o país continua mergulhado numa crise sem fim à vista.
A economia continua em contracção a ritmos preocupantes, os níveis de consumo continuam em declínio, as exportações baixam.
PIB per capita grego continua em queda
Ano | PIB per capita |
2011 | €18.613 |
2013 | €16.306 |
2015 | €16.028 |
Fonte: FocusEconomics
A miséria alastra. Os gregos mais pobres são os mais castigados, os 20% da população mais desfavorecidos viram os seus rendimentos diminuir mais de 40%.
O Estado regrediu para as suas funções mínimas não assegurando a saúde nem a educação dos seus cidadãos de forma aceitável.
Mas, como seria de esperar, a dívida não diminuiu antes, em percentagem do PIB, tem vindo a aumentar. Naturalmente que sem crescimento não se consegue reduzir a dívida.
Dívida pública grega em % do PIB
Ano | Dívida em % do PIB |
2008 | 117% |
2010 | 127% |
2013 | 178% |
2015 | 181% |
Fonte: OCDE, iLibrary
Consequentemente os juros a pagar têm vindo a crescer enormemente, obrigando ao lançamento de mais impostos e reduzindo os serviços públicos.
Confirma-se que a austeridade orçamental não permite reduzir a dívida antes provoca uma recessão/estagnação económica que tornam mais difícil o seu pagamento.
O exemplo português vem no mesmo sentido ainda que o nosso país esteja numa fase menos avançada da crise. Sem recuo nesta política rapidamente reproduziremos o exemplo grego.
Segunda lição
O Euro é o principal factor da crise
A situação grega, a par com a portuguesa e da generalidade dos países europeus endividados, que são genericamente todos com exclusão da Alemanha, deve-se em larga medida à política da moeda comum que não permite uma política monetária flexível, desvalorização cambial e aumento da inflação, que teriam podido resolver com eficácia e de forma mais célere a crise, ainda que também implicassem sacrifícios para a população.
Persistir na moeda única instrumentalizada pela Alemanha é condenar o nosso país a uma longa crise, já vamos no nono ano de estagnação económica, sem fim à vista.
Acresce que, se a Alemanha for forçada pelos EUA a subir as taxas de juro do Euro, Portugal só conseguirá pagar esses níveis acrescidos de juro com uma nova e mais brutal leva de austeridade e nova recessão económica.
Terceira lição
Não há que contar com a solidariedade europeia
No meio desta tragédia negoceia-se agora um novo resgate à Grécia esse país martirizado pelas políticas alemãs e por persistir em manter uma moeda que está a destruir a sua economia e a empobrecer a população.
A União Europeia/Alemanha exige mais austeridade e mais aumento de impostos. Pretende-se que a Grécia mantenha durante os próximos 10 anos um excedente primário de 3,5% do PIB. Isto é, que o orçamento de estado seja positivo numa elevada percentagem do PIB e que esse dinheiro seja exclusivamente canalizado para o pagamento de juros.
Face a tal exigência o próprio FMI se afastou das negociações com o argumento de que nenhum país conseguiu até hoje manter tal excedente durante tão longo período, apontando antes a necessidade de recuperar o investimento e o emprego. O FMI considera, com razão, a dívida pública grega insustentável e apelou à sua reestruturação.
Mas apesar de todas as esperanças criadas de um perdão/alívio da dívida grega, a verdade é que o Ministro das Finanças alemão veio dizer que tal está fora de causa.
Esta é a lição que Portugal deve reter. Não haverá qualquer apoio da EU ao nosso país quando a dívida portuguesa, face ao previsível aumento das taxas de juro, se tornar um peso ainda mais incomportável.
É preciso agir já. Repensar a presença de Portugal no Euro e avançar para uma renegociação da dívida, sem isso arriscamo-nos a reproduzir em solo português a tragédia grega que se desenrola sob o nosso olhar distraído.