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Quinta-feira, Março 27, 2025

A Grécia martirizada, um exemplo do que nos espera?

Jorge Fonseca de Almeida
Jorge Fonseca de Almeida
Economista, MBA, Pos-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança, Auditor do curso de Prospectiva, geoeconomia e geoestratégia, Doutorando em Sociologia

A economia continua em contracção a ritmos preocupantes, os níveis de consumo continuam em declínio, as exportações baixam.

Agora que os gregos se confrontam com novo resgate as lições da tragédia grega devem alertar-nos para não cairmos nos mesmos erros.

Primeira lição

Austeridade não permite reduzir a dívida, antes a agrava

Apesar de terem emigrado, nos últimos anos, mais de meio milhão de gregos, o desemprego persiste em níveis superiores a 20% da população activa e o país continua mergulhado numa crise sem fim à vista.

A economia continua em contracção a ritmos preocupantes, os níveis de consumo continuam em declínio, as exportações baixam.

PIB per capita grego continua em queda

Ano PIB per capita
 2011  €18.613
 2013  €16.306
 2015  €16.028

Fonte: FocusEconomics
A miséria alastra. Os gregos mais pobres são os mais castigados, os 20% da população mais desfavorecidos viram os seus rendimentos diminuir mais de 40%.

O Estado regrediu para as suas funções mínimas não assegurando a saúde nem a educação dos seus cidadãos de forma aceitável.

Mas, como seria de esperar, a dívida não diminuiu antes, em percentagem do PIB, tem vindo a aumentar. Naturalmente que sem crescimento não se consegue reduzir a dívida.

Dívida pública grega em % do PIB

Ano Dívida em % do PIB
 2008  117%
 2010  127%
 2013 178%
 2015  181%

Fonte: OCDE, iLibrary
Consequentemente os juros a pagar têm vindo a crescer enormemente, obrigando ao lançamento de mais impostos e reduzindo os serviços públicos.

Confirma-se que a austeridade orçamental não permite reduzir a dívida antes provoca uma recessão/estagnação económica que tornam mais difícil o seu pagamento.

O exemplo português vem no mesmo sentido ainda que o nosso país esteja numa fase menos avançada da crise. Sem recuo nesta política rapidamente reproduziremos o exemplo grego.

Segunda lição

O Euro é o principal factor da crise

A situação grega, a par com a portuguesa e da generalidade dos países europeus endividados, que são genericamente todos com exclusão da Alemanha, deve-se em larga medida à política da moeda comum que não permite uma política monetária flexível, desvalorização cambial e aumento da inflação, que teriam podido resolver com eficácia e de forma mais célere a crise, ainda que também implicassem sacrifícios para a população.

Persistir na moeda única instrumentalizada pela Alemanha é condenar o nosso país a uma longa crise, já vamos no nono ano de estagnação económica, sem fim à vista.

Acresce que, se a Alemanha for forçada pelos EUA a subir as taxas de juro do Euro, Portugal só conseguirá pagar esses níveis acrescidos de juro com uma nova e mais brutal leva de austeridade e nova recessão económica.

Terceira lição

Não há que contar com a solidariedade europeia

No meio desta tragédia negoceia-se agora um novo resgate à Grécia esse país martirizado pelas políticas alemãs e por persistir em manter uma moeda que está a destruir a sua economia e a empobrecer a população.

A União Europeia/Alemanha exige mais austeridade e mais aumento de impostos. Pretende-se que a Grécia mantenha durante os próximos 10 anos um excedente primário de 3,5% do PIB. Isto é, que o orçamento de estado seja positivo numa elevada percentagem do PIB e que esse dinheiro seja exclusivamente canalizado para o pagamento de juros.

Face a tal exigência o próprio FMI se afastou das negociações com o argumento de que nenhum país conseguiu até hoje manter tal excedente durante tão longo período, apontando antes a necessidade de recuperar o investimento e o emprego. O FMI considera, com razão, a dívida pública grega insustentável e apelou à sua reestruturação.

Mas apesar de todas as esperanças criadas de um perdão/alívio da dívida grega, a verdade é que o Ministro das Finanças alemão veio dizer que tal está fora de causa.

Esta é a lição que Portugal deve reter. Não haverá qualquer apoio da EU ao nosso país quando a dívida portuguesa, face ao previsível aumento das taxas de juro, se tornar um peso ainda mais incomportável.

É preciso agir já. Repensar a presença de Portugal no Euro e avançar para uma renegociação da dívida, sem isso arriscamo-nos a reproduzir em solo português a tragédia grega que se desenrola sob o nosso olhar distraído.

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