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Domingo, Novembro 24, 2024

Greta, a Apóstola do ambiente

Raghunath Kadavanoor
Raghunath Kadavanoor
Licenciado em Jornalismo pela Bharatiya Vidya Bhavan, Rajendra Prasad Institute Mumbai, estado do Kerala, Índia

O homem criou todas as religiões do mundo. Jainismo, Budismo, Hinduísmo, Islamismo, Cristianismo e outras. Todas estas religiões conseguem ter seguidores e crentes. O ambiente é uma nova religião e até tem uma porta-voz: Greta Thunberg.

Não sei se o título do meu artigo desagrada a poucos ou muitos. Se desagrada a alguns talvez tenham adquirido problemas de intolerância. Eu penso que o mundo não precisa de apóstolos, modelos ou heróis, ou seja, quem precisa de nós para sobreviver são as pessoas com aspirações messiânicas. Todos, ou enfim, quase todos, estamos preocupados com assuntos diversos e múltiplos, e algumas pessoas talvez estejam preocupadas com a sua sobrevivência, e ainda alguns tenham medo do “fim do mundo”.

Comecei a frequentar a escola primária em 1987. Desde 1990 o currículo da minha escola incorporava assuntos como a poluição, erosão do solo, desflorestação, invasão dos plásticos e outros como o esgotar de recursos naturais de cada país. Todos os alunos que seguiram atentamente as aulas ficaram com noções de que os recursos naturais se esgotam e isso vai trazer sofrimento. Eu e outros alunos e colegas que andaram comigo na escola do Estado do Kerala[1] e seguiram as aulas atentamente, não precisamos de Greta para acordar para os perigos da deterioração do ambiente.

Como a sobrevivência no Planeta é um assunto político e não exclusivamente ambiental, esta luta não é uma luta individual. O assunto precisa de uma solução política. Quem se manifesta na rua e nas redes sociais sem agir para corrigir, para alterar sistemas políticos e programas dos partidos políticos que os representam, porque neles votaram, vão perder a luta da defesa do ambiente.

Como o ambiente e os recursos naturais estão ligados com a economia, o emprego e a sobrevivência do cada país, este é um assunto político global. Entre pobreza, fome e sobrevivência, a população nunca iria demonizar um único aspeto chamado ambiente. A solução é participar e corrigir todas as atividades dos políticos e dos partidos, levando-os a apresentar programas para termos uma vida sustentável a longo prazo.

O apostolado do ambiente

Ouviu o discurso da Greta no ONU? Pode ouvi-lo aqui:

Foi um discurso assustador. O conteúdo não é novo, todos nós sabemos o recheio, mas a maneira como ela apresentou o tema “chocou o mundo” diz a imprensa. A imprensa refere os lábios trémulos, o olhar fixo, as lágrimas de Greta. Há quem diga que isto é um rigoroso trabalho da agência de relações públicas[2] que trabalha com ela, um trabalho “bem feito”. Mas também pode ser o facies de uma criança com Síndrome de Asperger a fazer um discurso emotivo.

Acho que esta nova onda de luta pelo ambiente é sensacionalista e é uma fantasia de “urban intellectuals”. A grande maioria das populações do mundo estão preocupadas com ambiente mas de outra perspetiva. Agricultores e pescadores queixam-se e atiram a culpa para as alterações climáticas. Agricultores vêm as suas produções destruídas por secas e/ou por chuvas torrenciais. Mas, na verdade não é o povo que produz plásticos, papel ou gasolina. Eles só os utilizam. Eles não produzem venenos que contaminam terras agrícolas ou lagos interiores. Eles só são utilizadores e não têm escolhas porque são obrigados a utilizar os produtos que cada governo permite vender.

No entanto, em muitos países as pessoas empenham-se a separar o lixo, convencidas de que será bem reciclado e sem riscos para o ambiente que as rodeia. Quer dizer que em nome das necessidades da população, grandes empresas produzem plásticos, exploram carvão, produtos petrolíferos, constroem gigantescas explorações agropecuárias. E todos os governos do mundo os deixam em paz para poluir. Ou seja, os governos não procuram outras soluções ou recursos para combater a pobreza e/ou a sobrevivência do seu próprio povo.

Greta Thunberg nunca conseguirá resolver isso sozinha e com os seus seguidores. Ela tem de entender que a sua luta é um assunto político e precisa de soluções políticas para as quais Greta poderia eventualmente chamar a atenção. Aí sim, os jovens que a apoiam poderiam ter a oportunidade de se aperceberem da importância da luta política.

O ambiente tem sido uma grande oportunidade para os governos criarem mais taxas e impostos

Nunca vi tanto entusiasmo da parte dos governos europeus a apoiarem outros movimento como o de Greta.

Talvez sonhem com o que vão arrecadar em taxas e impostos para “defenderem” o ambiente.

Estas taxas sofreram aumentos de 10% na França, 11% em Portugal , 8% na Irlanda e a lista continua. Em suma, os utilizadores têm que pagar e os produtores de produtos nocivos sempre fogem aos impostos. O que nunca saberemos é quanto destas taxas e impostos foi realmente investido em medidas para melhorar o ambiente, porque nada disto é transparente.

Os governos utilizam a oportunidade que Greta lhes oferece. E sacam mais impostos em nome de ambiente. Nem governos, nem muitos ativistas, nem as grandes companhias produtoras de sistemas alternativos de produção de energia querem que se alerte para o fulcro político do ambiente, por isso rendem imensas homenagens a Greta Thunberg.

Em suma, problemas ambientais, tal como outros problemas complexos do mundo precisam de atenção e tratamento político. Celebridades podem chamar a atenção, mas não podem ser usadas como cortina de fumo para esconder incapacidades políticas.

Nenhum país do mundo pode sobreviver e crescer sem explorar os seus recursos naturais. Todos os partidos políticos têm medo de tocar neste assunto pois é muito sensível para os trabalhadores dessas áreas. Os ambientalistas (urban naturalists) não podem resolver isso sozinhos.

[1] Kerala govt schools among top 10 in Education World India School Rankings

[2] The PR guru behind the rise of Greta Thunberg


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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