Milhares de pessoas de diferentes setores de atividade participaram na primeira jornada de greve geral de 2020, na quinta-feira (9).
Os protestos já estão no 38º dia neste sábado (11). “Não sei mesmo como é que vamos continuar. Nós, delegados sindicais, estamos surpreendidos com a duração deste movimento. (…) O nosso objetivo nunca foi chegar aos 36 dias, é como uma maratona, ao final de 30 quilômetros, já não sentimos dor e continuamos a correr”, disse à Lusa Bertrand Hammache, secretário-geral da CGT-RATP (empresa de transportes públicos de Paris).
Bertrand Hammache falou pela primeira vez à agência de notícias Lusa em de dezembro, no início da greve, e, apesar de determinação de então, afirmou agora na manifestação, que ligou a Praça Republique à Gare Saint Lazare, que preferia que a greve tivesse acabado em cinco dias. “Não temos qualquer objetivo de bater recordes. Eu preferia que a greve tivesse acabado em cinco dias”, afirmou.
A greve na RATP é reconduzida a cada três ou quatro dias através de voto nas diferentes assembleias gerais dos trabalhadores em protesto. A greve, especialmente nos transportes públicos da região parisiense e nos trens de médio e longo curso, significa que muitos dos trabalhadores em greve não recebem o seu salário.
“Há 36 dias que não temos salário. Fazemos os piquetes de greve que começam às 4 da manhã, quando os primeiros colegas que não estão em greve chegam para trabalhar e conversamos com eles para tentar persuadi-los. Depois vamos distribuir panfletos aos passageiros”, explicou Emmanuel Grondin, secretário federal da Sud Rail, que agrupa os trabalhadores da SNCF (empresa nacional de trens).
Sem cedências por parte do governo, que continua negociando o projeto de “reforma” do sistema de aposentadorias com a CFDT, a maior central sindical da França, e que não se associou às greves, e com fraca compensação financeira pelos dias de trabalho perdidos, mesmo que os sindicatos já tenham angariado cerca de 3 milhões de euros em contribuições para os grevistas, a motivação vem da opinião pública.
“As pessoas dizem-nos para continuar porque elas trabalham em pequenas empresas e se fizerem greve podem ser despedidas, portanto contam conosco para que esta luta continue. Uma senhora disse-me que nós somos a barragem que contém o governo e caso desistamos, toda a gente se vai afogar”, contou Grondin.
Mas se os trabalhadores dos caminhos de ferro são a face mais visível da greve, cada vez mais profissões se têm juntado a este apelo geral contra o novo sistema de aposentadorias através de pontos que Emmanuel Macron quer instaurar. Um dos casos mais visíveis tem sido a Ópera de Paris, em greve desde dezembro, levando à anulação de vários espetáculos.
“O governo quer que se pense que isto é só uma greve dos privilegiados do costume, como os trabalhadores dos caminhos de ferro, mas este projeto diz respeito a todos. Desde as instituições culturais mais antigas na França como a Ópera de Paris ou a Comédie Française, que têm um regime especial, mas também outras instituições como a Radio France onde o governo quer suprimir 300 postos de trabalho e que está há 38 dias em greve”, disse Denis Gravouil, secretário-geral da CGT Spectacle, que agrupa os meios de espetáculo, cinema e audiovisual.
A adesão da cultura à greve, segundo o sindicalista, mostra que os trabalhadores dos transportes não estão sozinhos. “A greve não é só um homem grande com barba e com um colete laranja dos caminhos de ferro, mas é também uma bailarina, com a sua delicadeza”, brincou.
Essa é, segundo os sindicalistas, uma das mobilizações mais fortes desde o início da greve, fazendo aumentar o número de grevistas neste início do ano e o protesto marcado para este sábado (11) reúne várias categorias, que vão se encontrar com o movimento dos “coletes amarelos”.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado