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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Greve na Índia reúne 250 milhões, a maior na história mundial

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Trabalhadores e agricultores protestam contra medidas do primeiro-ministro Narendra Modi e melhores condições de vida e trabalho.

por People’s Dispatch, em People´s World  | Tradução de José Carlos Ruy

Na quinta-feira, 26 de novembro, a Índia assistiu a maior greve da história da humanidade. Mais de 250 milhões de trabalhadores e agricultores, com aliados entre estudantes, mulheres e grupos da sociedade civil, participaram da greve. Mais de uma semana depois, os lavradores continuam ocupando a capital Nova Delhi e os líderes trabalhistas prometem que é apenas o começo.

A paralisação coincidiu com o Dia da Constituição da Índia, que comemora a adoção da constituição em 1949, e foi resposta a um ataque sem precedentes aos direitos dos trabalhadores e à proteção dos agricultores pelo governo de direita do primeiro-ministro Narendra Modi.

As consequências econômicas da pandemia da covid-19 empurraram a Índia para uma verdadeira recessão, exacerbando as desigualdades e privações existentes. O produto interno bruto (PIB) apresentou queda recorde de 23,9%, enquanto o desemprego disparou para 27% sem precedentes.

Em meio a uma crise generalizada, o governo de direita liderado pelo Partido Bharatiya Janata implementou novas emendas aos códigos trabalhistas e introduziu projetos de lei agrícolas que reverteram os principais avanços históricos nos direitos dos trabalhadores e proteção agrícola.

“Achhe din (dias felizes)? Este governo nos empurrou para o inferno!” disse o furioso Sukhdev Prasad, um operador de máquina de torno em uma das áreas industriais de Ghaziabad, antes da greve. O desprezo pelo governo Modi e o comentário fulminante sobre a promessa agora esquecida de tempos melhores, feita pelo primeiro-ministro, expressam apenas sua raiva latente.

“Quase não conseguimos sobreviver, esmagados entre os aumentos de preços de um lado e os baixos salários do outro. Agora, eles mudaram as leis trabalhistas para que os patrões estejam sentados em nosso peito”, acrescentou, referindo-se aos novos Códigos do Trabalho que flexibilizaram as regras para demitir trabalhadores, introduziram mais opções de contratos de trabalho por prazo determinado e dificultaram a atividade sindical.

Trabalhadores na capital, Nova Delhi, se juntaram a ondas protestos dos lavradores de estados vizinhos. Eles estão sendo esmagados pela revogação de Modi das proteções de preços para suas safras. Milhares de agricultores romperam o bloqueio policial e marcharam para a cidade nos dias seguintes à greve. A polícia usou repetidamente canhões de água contra eles, mas não conseguiu quebrar seu espírito de luta.

Agora, um impasse intenso entre o governo e os agricultores está em andamento. Na segunda-feira, 30 de novembro, dezenas de milhares de agricultores acamparam em três locais, na fronteira de Nova Delhi. Eles vieram preparados – com meses de suprimentos – e dizem que estão determinados a não voltar até que o governo Modi ceda.

Os agricultores continuam com o protesto indefinido sob a bandeira da Samyukta Kisan Morcha (Frente Unida dos Agricultores) até que as leis agrícolas sejam revogadas. As três leis provavelmente enfraquecerão a regulamentação existente sobre preços básicos para produtos agrícolas e mercados de produtos mediados pelo governo e possibilitarão um papel maior às empresas na agricultura. Muitos criticaram as leis como um pacote neoliberal feito para o setor agrícola que está em crise há quase duas décadas.

Inicialmente, a greve foi organizada por uma coalizão de movimentos de trabalhadores e agricultores, com 10 confederações nacionais e o grupo guarda-chuva All-India Kisan Sangharsh Coordination Committee (AIKSCC). A organização consiste em mais de 200 grupos de agricultores em toda a Índia. A greve também recebeu apoio de partidos de esquerda e vários grupos de oposição.

Algumas das principais demandas contidas na carta de 12 pontos apresentada pelos organizadores incluem a revogação das medidas de Modi em relação aos preços agrícolas e também às trabalhistas. A carta propões também uma reversão nas recentes políticas de desinvestimento em grandes empresas estatais, implementação dos esquemas de bem-estar existentes para trabalhadores rurais e a expansão das políticas de bem-estar para ajudar as massas afetadas pelas consequências econômicas da pandemia Covid-19.

Os trabalhadores e lavradores que protestavam enfrentaram uma repressão feroz da polícia em Nova Delhi, que fez uso repetido de bloqueio. As forças do estado também são acusadas do uso de cassetetes e canhões de água para impedir a marcha.

Em confrontos semelhantes com as autoridades, grupos de trabalhadores e agricultores paralisaram grandes cidades metropolitanas como Calcutá e Mumbai, com protestos organizados nas principais rotas de transporte. O cinturão de indústria e de mineração no leste e no centro da Índia também testemunhou uma paralisação virtual.

Os organizadores afirmaram que a greve é ​​uma preparação para mais lutas futuras no país. “Os trabalhadores e camponeses não vão descansar até que as políticas desastrosas e disruptivas do governo do BJP sejam revertidas. Esta greve é ​​apenas o começo. Lutas muito mais intensas virão”, disse Tapan Sen, secretário-geral da Central Indiana de Sindicatos (CITU), uma das confederações sindicais que participam da greve.


Este artigo apresenta material combinado de vários relatórios arquivados pelo People’s Dispatch.


por People’s Dispatch, Organização de mídia internacional que traz notícias de movimentos e organizações populares em todo o mundo  |   Texto em português do Brasil, com tradução de José Carlos Ruy

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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