É o que diz Jamil Chade, colunista do UOL, para quem a madrugada de terça-feira para quarta será longa em muitas partes do mundo.
Para diferentes grupos de extrema-direita e populistas no mundo, a eleição desta terça-feira (3) nos Estados Unidos é assimilada até como se fosse um sufrágio nos seus próprios países, tanto é o interesse pelo pleito. O resultado pode até influenciar em alteração de movimentos desses segmentos pela Europa, Ásia e América Latina.
É o que analisa Jamil Chade, colunista do UOL, para quem a madrugada de terça-feira para quarta será longa em muitas partes do mundo. “Na Hungria ou Polônia, na sede dos partidos populistas da França, Espanha, Alemanha ou Itália, uma vitória de Trump confirmará suas agendas e o conteúdo em meio aos questionamentos. Para a Índia, Brasil ou Filipinas, o que está em jogo é uma estratégia populista-nacionalista”, diz Jamil.
Segundo ele, entre os europeus, a percepção de que o movimento de extrema-direita no continente não depende de Trump. Vários dos slogans usados pela Casa Branca, de fato, percorriam o submundo da política europeia desde os anos 70.
“Mas a derrota do americano, ainda assim, exige repensar e pode afetar até mesmo as fontes de recursos para pagar por campanhas e virtuais. Acima de tudo, a percepção é de que o fim do governo Trump mandaria um sinal claro de que o movimento ultraconservador tem como ser freado e que mesmo a tática de proliferação de mentiras tem um limite”,
argumenta.
Diante desse quadro, o colunista assegura que líderes populistas deixaram de lado a tradição de não se envolver nas eleições estrangeiras e declararam apoio a Trump. “Os europeus não são os únicos. No governo Bolsonaro, na gestão de Duterte nas Filipinas ou na administração de Modi na Índia, o que existe em jogo nos EUA é muito mais do que a alternância de poder na maior economia do mundo”, diz.
Por sua vez, ele acredita que a pandemia da Covid-19 colocou em dúvida, por parte de um parcela expressiva da população, a capacidades desses grupos governarem. “Agora, sem Trump, esses grupos não escondem que haveria uma sensação de estarem órfãos. Não por acaso, uma ordem de governo é a de agir de forma deliberada para apoiar Trump ou mesmo ceder em seus interesses nacionais para ajudar o americano a conquistar votos. No caso do Brasil, Jair Bolsonaro passou a ser lidado pelo mundo como o maior cabo eleitoral do presidente americano. Se sua imagem pelo mundo já está desgastada, o fim do mandato de Trump ampliaria seu isolamento e obrigaria o governo a ter de repensar suas políticas externas”, considerou.
Na avaliação dele, uma derrota de Trump fortaleceria o posicionamento de governos como de Angela Merkel, considerada como uma democracia com o maior poder hoje de se contrapôr à ideologia de grupos populistas. Não por acaso, num recente discurso durante uma campanha, Trump incluiu a Alemanha entre aqueles que desejam ver sua derrubada.
Ele lembrou que Trump está atento a isso: “A China quer eu fora, o Irã quer eu fora, a Alemanha quer eu fora”, disse. “Em Berlim, há uma percepção clara que uma nova relação terá de ser inaugurada com Washington. Mas uma vitória de Joe Biden poderia ajudar a frear grupos alemães, com fortes tendências populistas”, completou.
Segundo ele, na Itália, a situação não é diferente. “Matteo Salvini, chefe do movimento de extrema-direita no país, passou a usar uma máscara em que orgulhosamente expunha uma referência à campanha nos EUA: Trump 2020. Para observadores italianos, a máscara de Salvini era uma verdadeira incoerência, diante do resultado da resposta de Trump diante da pandemia.”
Na Polônia a expectativa em torno da eleição norte-americana também é grande. Naquele páis, Trump tem o apoio total do governo. “Andrzej Duda, chegou a viajar até os EUA, dias antes de sua eleição, enquanto seu partido comparou Trump ao papai João Paulo II por sua luta contra o comunismo. Na imprensa que apoia o grupo ultraconservador, manchetes alertam: Biden não respeita os poloneses “.
O colunista diz que Trump tem ainda apoio explícitos de líderes, como Janez Jansa da Eslovênia, que chegou a ir às redes sociais para declarar que Trump havia vencido o debate com Biden. “Se ele (Biden) para eleito agora, ele será um dos presidentes mais fracos da história dos EUA”, disse Jansa. “Vamos Donald Trump, vença”.
O cenário da Hungria é semelhante. Viktor Orban deixou claro que seu voto é de Trump, enquanto a resposta vem alertado que uma derrota do americano minaria a legitimidade do líder húngaro.
Jamil Chade lembra do papel de Steve Bannon contribuiu para transformar Trump numa espécie de ícone do novo populismo mundial. “Um dos artífices dessa campanha foi Steve Bannon que percorreu a Europa e outras partes do mundo em busca de aliados. Eduardo Bolsonaro era um deles”.
Herança
Para ele, mesmo com a derrota de Trump, o movimento a promoção da sua imagem será duradoura. Nos EUA, o movimento de extrema-direita nunca foi tão tolerado. “Entre 2016 e 2018, foram 125 eventos compostos por neo-nazistas, nacionalistas ou extremistas, seguido de Southern Poverty Law Center. Muitos saíram da clandestinidade, condenados de que uma pseudo-civilização estava ameaçada e que, para defende-la, a violência passou a ser legítima. Termos como ‘invasão hispânica’, ‘genocídio branco’ e outras teorias da conspiração ganharam força”.
Fake news
Ele destacou ainda que Trump ressuscitou o termo “notícias falsas”, depois de décadas adormecido diante de seu último usuário – Adolf Hitler. “Seu objetivo era o de minar a credibilidade da imprensa, justamente para impedir que houvesse um controle externo a sua administração. Pelo mundo, o termo justificou a prática ou oferta de exercícios contra os jornalistas”.
“O grupo mais próximo de Trump ainda fincou suas bases na Europa, na esperança de ajudar partidos de extrema-direita. Na ONU, suas alianças minaram os direitos das mulheres e romperam consensos que pareciam sólidos em termos de direitos humanos”, justificou.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado