Saxofonista “Bird” faleceu aos 34 anos, mas médico legista considerou que ele tinha entre 50 a 60
Faz hoje 61 anos que o jazz perdeu um dos seus maiores saxofonistas, o genial Charlie Parker (”Bird”). O músico morreu de ataque cardíaco a 12 de Março de 1955 enquanto assistia na TV a um programa com a Tommy Dorsey’s Orchestra. “Bird” morreu jovem, com apenas 34 anos, mas o médico legista que fez a autópsia estimou a sua idade entre os 50 a 60 anos — um corpo que reflectia os anos de abuso de álcool e drogas. Foi-se o homem, ficou o mito e a excelência da sua música.
Nascido em Kansas City, a 29 de Agosto de 1920, Charles Parker Jr. é um dos vultos maiores da História do Jazz. Verdadeiro menino-prodígio Charlie Parker começou a tocar saxofone aos 11 anos e aos 14 já era o principal sax alto da orquestra da sua escola, a Lincoln High School. Filho de um pianista, cantor e dançarino o jovem Parker Jr. sempre conviveu com a música, sobretudo com os ritmos do jazz.
Em finais da década de 30 Charlie Parker começou a dar nas vistas pelo seu virtuosismo enquanto saxofonista. Parker era um apaixonado executante, sempre pronto para melhorar a sua técnica, capaz de tocar o seu saxofone mais de 15 horas diariamente. Um músico exigente consigo próprio, que se iria tornar também num compositor de excelência.
Músico profissional em Nova Iorque desde 1939, Charlie Parker em 1942 daria um passo decisivo na sua carreira de “jazzman” quando se juntou durante um ano ao grupo de Earl Hines, que incluía Dizzi Gillespie – com quem Parker iria anos depois estabelecer um dueto famoso. Charlie Parker – a quem então começaram a chamar de “Yardbird”, mais tarde simplesmente “Bird” -, tocava em clubes de jazz de Harlem como o “Clark Monroe’s Uptown House” e o “Minton’s Playhouse” com outros jovens músicos, entre os quais Dizzy Gillespie, o pianista Thelonious Monk, o guitarrista Charlie Christian e o baterista Kenny Clarke. Uma banda de exímios executantes, que se tornariam todos em nomes maiores do jazz.
Mas este “novo jazz” destes talentosos jovens músicos era, no início, fortemente contestado pelos meios mais conservadores e tradicionalistas da “jazz music”. Chamados de “beboppers” pelos músicos mais velhos e tradicionais, tinham enorme dificuldade em gravar a sua música que assim raramente passava na rádio – então o média fundamental para o sucesso dos músicos.
Extraordinárias performances e colaborações de excelência ficaram assim esquecidas no mito da História, simplesmente porque poucos se mostravam interessados em gravar este “novo jazz”. Mas em 1945 “Bird” conseguiu finalmente um contrato discográfico com a editora “Savoy” e com Dizzy Gillespie juntou uma banda de extraordinários músicos, com Miles Davis no trompete, Curly Russel no contrabaixo e Max Roach na bateria. Uma formação que é um verdadeiro marco na História do Jazz.
Dedicado à sua música e à sua colaboração com Gillespie, Charlie Parker deixou-se também enredar num galopante consumo de heroína. Um consumo tão forte que, após uma digressão pela Califórnia, o fez ficar em Los Angeles a tocar sozinho apenas para poder alimentar diariamente o seu vício, enquanto os seus companheiros regressavam a Nova Iorque.
A droga seria mesmo um travão poderoso na carreira de “Bird”, que por causa da sua toxicodependência perdeu contratos, foi despedido de grupos e passou por grandes dificuldades financeiras – não poucas vezes Parker empenhou os seus saxofones para poder adquirir a sua dose diária de heroína.
Ao longo da sua efémera mas notável carreira Charlie Parker tocou com alguns dos maiores músicos de jazz de sempre. Um desses mais notáveis grupos juntou o saxofone alto de “Bird” ao sax tenor de Coleman Hawkins, com Hank Jones no piano, Ray Brown no contrabaixo e Buddy Rich na bateria (ver vídeo).
A 12 de Março de 1955, Charlie “Bird” Parker estava numa suite do Hotel Stanhope de Nova Iorque, pertencente à sua amiga e protectora a Baronesa Pannonica de Koenigswarter, a ver na tv o “The Dorsey Brothers’ Stage Show” quando caiu morto. Oficialmente terá morrido de ataque cardíaco, provocado por uma pneumonia e uma úlcera. Mas a autópsia iria revelar também uma cirrose em adiantado estado. “Bird” estava fisicamente tão agastado que o médico legista que o autopsiou estimou a idade do cadáver entre os 50 e 60 anos. Mas o genial músico tinha apenas 34 anos…