As leis da física não tornam «mundo em si» compreensível.
O «mundo em si» é inacessível à perceção humana. Esta descoberta tão simples, abre, uma vez realizada, muitas questões.
Por exemplo, não é de forma intuitiva que percebemos que a terra é arredondada, que descreve uma órbita elíptica em torno do sol, e que essa órbita oscila.
Há fenómenos que desde a antiguidade despertaram a curiosidade de homens e mulheres que nas costas marítimas, nos areais ou nas escarpas olhavam longamente, dia e noite, o formato das ondas descobrindo o subir e o descer das marés. Depois na linha do horizonte o sol escondia-se e a lua nascia, essa, cada noite em lugar diferente e com desenhos volúveis. Essa lua regia o tempo de uma gravidez? Como seria isso possível?
Os movimentos dessas três conjunturas estariam ligados? E os ventos sopravam, as tempestades eclodiam, chegavam nuvens carregadas de ameaças. Tudo estaria relacionado e seria repetitivo, cíclico ou cada um desses aspetos da misteriosa natureza seriam a manifestação arbitrárias de deuses umas vezes generosos outras vezes vingativos?
Quantos milhares de anos de observação e depois de registo terão sido precisos para começar a delinear uma tentativa de explicação que abarcasse o todo e não só algum desses prodígios. Maravilhas incompreensíveis que atemorizavam os homens antigos e atemorizam ainda homens de hoje, os homens e mulheres que não tiveram acesso a uma educação.
É a natureza do mundo que importa ou o que importa é a perceção do mundo a um sujeito limitado pelo seu tempo de vida?
Quem inventou e algoritmizou o tempo? Os números afastam-nos ou aproximam-nos da compreensão do universo? Porque teria de ser o universo numericamente compreensível?
O que nos impede de participar no tempo, seria a tentativa de contar o tempo?
Quem fixou o espaço para os campos de semear e colher, o espaço dos abrigos? Os espaços de conquista e os espaços de fuga? Os campos de batalha e os das derrotas?
Há acontecimentos simples, triviais, previsíveis oferecidos à perceção imediata. Mas, mesmo do lançar da semente à terra até o trigo nascer e o pão assentar na mesa uma longa cadeia de acontecimentos levaram séculos a serem calculáveis. Há ocorrências imprevisíveis ou caóticas que obedecem a normas de um outro real possível, mas não imediatamente dado à experiência.
Quando uma evolução de acontecimentos é previsível, ela tem uma lei, mesmo se essa lei é de probabilidade estatística, e então nós podemos prever imprevisibilidades. Temos uma certa eficácia sobre o real. Mas o real escapa-nos sempre.
Não estamos preparados para o descontinuo.
«Eu penso, logo existo».
A nossa inteligência abrange as leis científicas do infinitamente grande, mas não abrange as leis do infinitamente pequeno.
O nosso pensamento em processo será, para sempre, inacessível a si mesmo?
Todas estas questões surgem porque hás dias assim, em que não consigo acompanhar o disparar dos nano-segundos e tenho a estranha sensação de ter saído da órbita da terra, vogando como um astronauta entre dois mundos.
Ilustração de Beatriz Lamas Oliveira
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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