Nesta terça-feira (9), a ONU alertou para a espiral de violência que tomou conta das metrópoles haitianas, “atingindo níveis comparáveis aos de países em conflito armado”. O organismo internacional pediu o envio urgente de uma força de apoio, conforme o mês de abril já acumula, sozinho, mais de 600 mortes entre gangues e linchamentos em Porto Príncipe.
Reportagem de agências internacionais e vídeos nas redes sociais relatam as cenas chocantes de corpos queimando empilhados nas ruas. As pessoas os cercam, gritando com raiva. Uma pessoa pode ser vista batendo nos corpos sem vida com um objeto pontiagudo.
Os números de abril foram registrados “após o assassinato de pelo menos 846 pessoas nos primeiros três meses de 2023, além de 393 feridos e 395 sequestrados no período”, detalhou o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos em um comunicado.
Desde o início de 2023, 22 policiais foram mortos por gangues. Essa tendência deve se acelerar, caso não ocorram os esforços solicitados pela ONU para equipar e treinar policiais com urgência, recrutar novos oficiais e melhorar as condições de trabalho para reter o pessoal existente.
Ajuda internacional
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu na segunda-feira (8) o envio imediato de uma força armada internacional ao Haiti para conter a escalada da violência das gangues e a pior crise de direitos humanos do país em décadas.
“Reitero meu apelo à comunidade internacional para que envie uma força de apoio especializada, que respeite os direitos humanos e limitada no tempo, com um plano de ação completo para ajudar as instituições haitianas”, insistiu o alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk
O oficial da ONU denunciou “um ciclo interminável de violência extrema no Haiti”. O ambiente de barbárie social é resultante da pobreza generalizada, após uma profunda crise política, de segurança e de saúde. Com isso, se formaram 200 gangues que controlam e disputam a capital impunemente, enquanto a população se defende por meio de “brigadas de vigilância” fazendo justiça com as próprias mãos, por não confiarem na polícia.
Estes grupos desencadearam linchamentos em massa, com as mortes de pelo menos 75 pessoas, incluindo 66 membros de gangues, no primeiro trimestre, segundo o relatório.
“Mas a realidade é que o Estado não tem capacidade de agir. A população faz a sua própria justiça, mas isso só alimenta a espiral da violência”, alertou.
Ninguém escapa
Em um relatório trimestral (janeiro a março) publicado nesta terça-feira, a ONU destaca que a violência não só está mais extrema e frequente, como propaga-se de modo inexorável à medida que as gangues tentam expandir seu controle.
Áreas de Porto Príncipe que antes eram consideradas seguras, como Kenscoff e Pétion Ville, assim como o departamento de Artibonite, agora são afetadas pela violência. Franco-atiradores em telhados frequentemente atiram em pessoas em suas casas e nas ruas, de forma aleatória, para expressar seu controle sobre a área.
Os sequestros (pelo menos 395 no primeiro trimestre de 2023) aumentaram 12% em relação ao trimestre anterior e as gangues continuam usando a violência sexual para impor o terror e fazer a população sofrer.
Em sua busca por mais território, disse ele, as gangues também continuaram a usar estupro e outras formas de violência sexual “para instilar medo e afirmar o controle sobre as comunidades”, com mulheres e meninas desproporcionalmente afetadas.
As gangues no Haiti cresceram em força desde o assassinato do presidente Jovenel Moise em 2021 , com os moradores presos no meio, já que grandes porções da capital e grande parte do interior se tornaram sem lei. Batalhas sangrentas de gangues deixaram centenas de mortos e milhares de deslocados.
por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado