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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Heleno, ídolo do futebol na década de 1940: O filme

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

Heleno de Freitas foi um controverso ídolo do futebol brasileiro da década de 1940. Os últimos anos do craque, mostrados em sua cinebiografia, revelam o peso de uma vida intensa e de uma dedicação irrestrita ao esporte, em uma época em que o futebol ainda não era um programa de televisão. Heleno não é produto de marketing. É um mito autêntico e pujante.

O formato refinado do filme exige paciência e concentração do espectador. O roteiro dilui o passado e o presente em um só momento, da maneira como se imagina que tenha ficado a percepção de Heleno quando ele se torna dominado pela sífilis.

Alheio ao mundo e às mudanças no futebol, o que dava sobrevida ao jogador em seu último ano de vida, 1959, eram as lembranças de suas glórias. Por isto o filme apela para a memória. Memória do Rio antigo. Memória romantizada de antigos craques. Saudade daquilo que poderia ter sido. Do sonho de ter podido mudar a história do Botafogo encerrado em um pênalti perdido.

Heleno é um filme feito de imagens e de nostalgia, como um álbum de fotos antigas. Mas sua elegância não esconde o drama de um homem que despenca do topo.

Passado nas décadas de 1940 e 1950, Heleno de Freitas se tornou ídolo antes da era da televisão. Sua personalidade dramática lhe rendeu o apelido de Gilda, em referência a Rita Hayworth no filme de Charles Vidor (1946). Dono de um gênio forte, que muitas vezes lhe rendia problemas profissionais, o craque foi símbolo de um Botafogo guerreiro. Descoberto por Neném Prancha no time do Botafogo de praia chegou ao time principal em 1937, para substituir Carvalho Leite (goleador do tetracampeonato estadual, de 1932 a 35) e não decepcionou a torcida.

Formado em Direito, bonito, alto, ele se destacava entre seus pares. Talvez por isto se dava ao luxo de ser impulsivo, mulherengo e passional.

Maior ídolo alvinegro antes de Mané Garrincha, mesmo sem nunca ter sido campeão pelo clube, marcou sua passagem pelo Botafogo com 209 gols em 235 partidas, tornando-se o quarto maior artilheiro da história do clube. Em 1948, contra sua vontade, foi vendido para o Boca Juniors, da Argentina, na maior transação do futebol brasileiro até então. Naquela época ele já não estava em sua melhor forma. Mas ainda atuou pelo Vasco da Gama, onde conquistou seu único título por um clube, o de campeão carioca de 1949.

Fez 18 partidas pela seleção brasileira de futebol, marcando quinze gols. Mas não jogou na Copa de 1950, realizada no Brasil. A esta altura sua doença já comprometia seu desempenho nos campos.

Jogar no Maracanã – construído para a Copa de 1950 – se tornou uma obsessão para ele. Apresentar-se no maior estádio do mundo seria, em seu sonho, um retorno glorioso. A realização deste sonho, entretanto, uma única partida jogada com a camisa do América, não passou de mais um episódio triste. Uma demonstração pública de que o antigo craque do Botafogo estava vencido pela doença.

Já muito doente Heleno viu o Brasil ganhar a Copa do Mundo pela primeira vez em 1958, e o despontar de estrelas como Pelé e Garrincha. Foi homem de um tempo em que se dava a vida por uma paixão.

Brasil, 2012

Direção: José Henrique Fonseca

Elenco: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri

 

Texto em português do Brasil

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