(1934-2013)
A sua participação nos combates antifascistas começou em 1957, no movimento estudantil contra o Dec-Lei 40900, quando era dirigente da associação académica do ISCEF (Lisboa), e prolongou-se, sem interrupções, até Abril de 1974. Após o 25 de Abril, nunca deixou de se bater pelo seu ideal de um Estado verdadeiramente democrático, com unidade das esquerdas[1].
Lutador incansável, homem de grande dignidade e tolerância, recusava dogmas. Foi um cidadão com um percurso de vida exemplar, cuja bonomia no convívio marcou companheiros, amigos e colegas[2].
Licenciou-se em Economia
Herberto de Castro Goulart da Silva nasceu a 10 de Maio de 1934 na Horta (Açores). Era licenciado em Economia e exerceu a sua actividade profissional na área da gestão empresarial, como técnico ou dirigente, em várias empresas industriais.
Em finais da década de 50, foi vice-presidente e presidente do Conselho Fiscal da Associação Académica de Económicas; pertenceu ao Secretariado da RIA (Reunião Inter-Associações) e coordenou, em dois anos consecutivos, a realização do Dia do Estudante. Depois, prosseguiu incansável nas lutas da oposição democrática.
Opositor ao regime vigente
A sua actividade na oposição ao regime, custou-lhe várias detenções pela polícia política, algumas curtas, outras mais longas, nomeadamente em 1963 e em 1973. Neste último ano, foi preso, juntamente com outros companheiros da Oposição, quando procedia à distribuição de manifestos de apresentação dos candidatos e só viria a ser libertado na véspera da abertura da campanha eleitoral.
Foi um dos impulsionadores da criação da CDE de Lisboa, de cuja Comissão Executiva foi membro desde 1970 até Novembro de 1974, quando esse movimento passou a partido político. Em 1973, fez parte da Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro.
A luta académica contra o dec-lei 40900 deu a vitória aos estudantes
Fotografia de um plenário no Instituto Superior Técnico. (Dec-Lei 40900: 12 DE DEZEMBRO 1956 – 16 DE JANEIRO 1957). Em 12 de Dezembro de 1956, o governo de Salazar publicou um decreto-lei que visava espartilhar e controlar totalmente a actividade das Associações de Estudantes e esvaziá-las das suas funções. A resposta das Associações foi imediata: a luta desencadeada contra esse decreto-lei obrigou a Assembleia Nacional a fazê-lo baixar à Câmara Corporativa, o que foi um recuo da ofensiva governamental. Durante 5 anos as associações de estudantes viveram num período de vazio legislativo que lhes permitiu consolidar e alargar a sua actividade.
Ainda em 1973, era o director indigitado do jornal A. E. Actividades Económicas, que foi proibido logo depois da apresentação do número 0. (Da redacção desse jornal fariam parte, entre outros, José Saramago, Lino de Carvalho Lima, Helena Neves, Carlos Santos Pereira, Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso).
Foi candidato da Oposição Democrática, por Lisboa, nas eleições de 1973.
Participação politica depois de Abril de 74
Foi vice-presidente do MDP-CDE e presidente do Grupo Parlamentar deste partido durante os três anos em que exerceu o mandato de deputado (na I e na II Legislaturas).
Desvinculou-se do partido MDP em 1987, por divergência com a orientação política maioritária. Nesse ano, foi co-fundador da associação política ID – Intervenção Democrática, de cujos corpos dirigentes fez parte até ao seu desaparecimento. Foi frequentemente candidato nas listas das coligações FEPU, APU ou CDU, em eleições autárquicas, legislativas ou europeias.
Pertenceu à comissão administrativa da Câmara de Loures, concelho onde foi vereador, membro da Assembleia Municipal e administrador dos Serviços Municipalizados.
Foi, durante muitos anos, presidente da assembleia-geral do Sport Grupo Sacavenense e membro da direcção nacional e da comissão executiva da Inter-Reformados (CGTP-IN).
Colaborou com diversas publicações, como Revista de Economia, Diário de Lisboa, República, Vértice e Seara Nova, de cuja direcção e redacção fez parte[3].
Reconhecimento
Na Biblioteca Municipal Ary dos Santos (Sacavém) foi atribuído o seu nome à sala polivalente, destinada à realização de actividades de difusão cultural, informativa e educativa.
Em Julho de 2015, o Município de Loures atribuiu a Herberto Goulart, a título póstumo, a Medalha de Honra do Concelho de Loures.
Fotografia da Seara Nova, Nº 1724 – Verão 2013.
MDP/ CDE, 1969.
Fotografia da Seara Nova, Nº 1724 – Verão 2013.
Fotografia da Seara Nova, Nº 1724 – Verão 2013.
Revista Seara Nova Nº 1717.
[1] Acalentou sempre o sonho da unidade das esquerdas. Um sonho que nos apontou como possível de concretizar, dando o exemplo das CDE’s, projecto e experiência verdadeiramente unitários, que acarinhou com uma dedicação, entrega e militância totais e o fez granjear amigos e amigas em todas as esquerdas».
[2] Antigos colegas de Liceu, da Universidade, na sua actividade profissional ou política, testemunharam a sua simpatia pessoal e as suas qualidades humanas. O tom que imprimia em reuniões colectivas ou em encontros individuais, quando debatia temas de interesse nacional, forçava à reflexão. Recusava dogmas. Era um político aberto, sempre disponível para se tentar encontrar formas de entendimento entre forças progressistas, quer antes quer depois do 25 de Abril»
[3] Herberto Goulart «tinha uma visão muito própria do papel da Seara Nova». Considerava que «a revista deveria constituir-se como uma “plataforma” de todos os democratas, um espaço para o debate de ideias (até mesmo ideológico), um espaço de unidade das esquerdas em que as diferenças pudessem ser esbatidas no objectivo comum de um mundo mais livre, mais justo, mais fraterno, mais solidário, mais igual».
Dados biográficos:
- PDF| Assembleia da República: Candidatos da oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo (1945-1973)
- Assembleia da República
- Seara Nova: Herberto Goulart
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