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João de Sousa

Domingo, Novembro 24, 2024

Hollywood não mudou com Oscar a Parasita

Tem muita gente contente com a vitória de Parasita, da Coreia do Sul, como Melhor Filme e outros prêmios do Oscar. Eu acho é engraçado que estejamos vibrando com uma obra que chama os pobres de “parasitas” e os ricos de “gente boa”. Acredito que Hollywood não mudou nada.

A Coreia do Sul, há muitos anos, é que é uma vitrine para, através dela, mostrar aos socialistas do Oriente “como é boa a vida no capitalismo”. Claro que o cineasta Bong Joon-Ho já demonstrou que é um excelente – um muito competente – fazedor de filmes. Ele dirigiu um filme do gênero terror e outro, Okja, que estão em exibição na Netflix. Neles, ou pelo menos no segundo, já temos a obra do maduro cineasta, que aprendeu a jogar bem com os valores da sociedade capitalista sem radicalizar. E isso é o que mais agrada aos membros burgueses da Academia.

Chamar os pobres de “parasitas” talvez seja algo que muitos da classe média ocidental sempre quiseram chamar e não tinham expressado tão claramente. Agora, com o filme, isso está sendo possível. Temos a justificativa de que são parasitas por necessidade – e de uma forma engraçada até. Muitos jovens críticos brasileiros, aliás, estão adorando essa posição. Eu queria saber o que pensam disso os norte-coreanos.

Nos Estados Unidos, quem aceita a presença dos imigrantes e não concorda com o que Trump faz já é considerado comunista, como acontece com o candidato democrata Bernie Sanders. Então, tomar a posição de Jane Fonda e ir ao palco entregar o Oscar ao Bong seria superesquerda. Mas, olhando-se do ponto de vista do mundo todo, é pouca coisa.

Na verdade, entre considerar Parasita um bom filme e ficar entusiasmado com ele vai uma grande distância. Prefiro o Okja, que assume uma linguagem surrealista para mostrar como uma grande empresa da indústria capitalista utiliza gente e animais como objetos para serem mais rentáveis. É mais divertido.

Aliás, estou comentando esse Oscar devido à repercussão, mas considero que “melhor filme” não existe – os valores estéticos dependem de circunstâncias individuais e sociais. Assim, em cada país ou em cada ocasião é que poderá haver um melhor. A indústria, então, impõe a valorização internacional, de modo que seja melhor para os produtores.


por Celso Marconi, Crítico de cinema mais longevo em atividade no Brasil. Referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8  |  Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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