Sonetos de Carlos Eduardo da Cruz Luna
Homenagem a Zeca Afonso (1929-1987)
I
Amigo, tu que desanimas agora
perante os contratempos irreais
de quem aqui e sem demora
quer condenar companheiros leais…Tu, que numa inspirada hora
te ergueste contra os “intelectuais”
que sem ver o mundo lá fora
lutam contra as mudanças fatais!Tu, que entendeste a dialética
como uma profunda e viva inspiração
que da mudança faz a sua ética;Tu, que te cansaste pela revolução
mas recusaste concebê-la milimétrica…
Tu, meu amigo, tu tens toda a razão!(Janeiro de 1982)
II
Tua voz cheg’ aos nossos ouvidos
pur’ e clara como sempre soou
tua morte, mais do que comovidos,
fez-nos herdeiros do que nunc’ acabou!Das lutas cantadas em tempos idos,
teu empenho em cada um de nós ficou;
teus cantos em nome dos oprimidos
são a parte de ti que p’ra nós ficou!Cantast« a vid’ em todas as vertentes,
amor p’la tua terra já velhinha,
em baladas de justiça carentes…A tua músic’ agor’ é já minha,
de todos aqueles qu’ estão cientes
de qu’a razão, eras tu quem a tinha!(Junho de 2019)
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