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Domingo, Dezembro 22, 2024

Uma fraca desculpa para golpe

Christiane Brito, em São Paulo
Christiane Brito, em São Paulo
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.

folha
A principal indignação deste domingo (3) – no Brasil que foi às ruas e que se manifestou pela democracia contra o golpe, contando com alguns dos nossos mais importantes intelectuais, como Antônio Cândido, além de escritores normalmente reclusos, caso de Raduan Nassar, e classe artística/jornalística em peso, inclusive apartidários e críticos ao governo –  é o editorial da Folha de S. Paulo.

Pede a renúncia de Dilma já que não há provas cabíveis para impeachment, como o próprio jornal admite. Garante: “A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu as condições de governar o país.”

É um abuso da crença na estupidez de seus leitores, questiona a mídia Jornalistas Livres?  Ao que parece, é. E é também coerente com editoriais do passado tão apelativos quanto o de hoje:

“Antes de mais nada, é preciso explicar para as pessoas que já não lêem jornal em papel, que a publicação do editorial na primeira página é daquelas iniciativas que se pretendem históricas. Que vem para fazer proclamas à Nação, como foi no célebre editorial da mesma “Folha”, em 30/6/1992, intitulado “Renúncia Já”, contra Fernando Collor de Mello, ou os editoriais do “Correio da Manhã”, “Fora!” (10/3/1964) e “Basta!” (31/3/1964), que operaram como a senha do Golpe de 1964”, relata a Jornalistas Livres.

Na mesma linha, o Estado de S. Paulo publicou neste domingo a coluna do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afinado com editorial da Folha. Lamenta que Dilma Rousseff, “honesta”, segundo afirma, não renuncie, e conta que o PSDB continua a querer anular as eleições de 2014, sem esperança: “O caminho das anulações das eleições de 2014 deve continuar, mas ele pode ser objeto de recurso ao STF, o que retardaria a decisão”.

 

A dúvida que condena sem provas

No texto intitulado “A Constituição é o caminho”, FHC utiliza argumentos, pasme-se, que não se baseiam na Carta Magna, contrariando o seu próprio título. O tucano defende o golpe com base no fato de a presidente ter convidado Lula para ser ministro, o que segundo FHC, “incorre na dúvida de obstrução da Justiça, qualquer que tenha sido sua intenção”. O tucano defende que a “dúvida”, e não a prova, deve ser motivo para afastar um presidente da República, legitimamente eleita. Isso é constitucional?

Com a volta de Lula, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Palácio do Planalto, o Mensalão (que condenou petistas como José Dirceu) também volta à cena do vale-tudo político.

A 27ª fase da Operação Lava Jato, apelidada de Carbono 14, trouxe de volta o caso do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, ocorrido em 2002. Nos bastidores, a estratégia tem relação com a decisão provisória do Supremo Tribunal Federal (STF) em deslocar a investigação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Corte. “Os investigadores pretendem criar novos fatos políticos que pautem a mídia durante o julgamento do impeachment”, descreve o Brasil247.

 

Lava Jato foca PT

Jânio de Freitas, também na Folha desse domingo (3) delata que a Lava Jato tem agora um único objetivo : incriminar o PT. Não se trata de inferência. Jânio chama a atenção para um trecho da palestra do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que atua na Lava Jato, em evento na Câmara Americana de Comércio. Santos Lima afirmou que a investigação é contra “os governos do PT”.

Jânio avalia a declaração no seu artigo:

“Intencional, por certo não foi. Muito melhor: foi autêntico, com a naturalidade das palavras que burlam, espontâneas, a censura protetora das nossas conveniências. Foi um pequeno trecho de frase, intercalado com ligeireza. A frase, por sua vez, destinava-se a outro fim –o reconhecimento da “não intervenção” dos governos do PT na ação do Ministério Público e da Polícia Federal, “porque os governos anteriores realmente mantinham controle das instituições”. A palestra, está claro, decorria com plena e descontraída franqueza do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, o comunicador da Lava Jato. Eis o pequeno trecho que o auditório da Câmara Americana de Comércio pôde ouvir, sem sinal de notá-lo, e a repórter Paula Reverbel não excluiu, como fizeram outros, do seu relato para a Folha: “[…] os governos que estão sendo investigados, os governos do PT, […]”. O que a Lava Jato investiga de fato, por meio de investigações secundárias, não é a corrupção na Petrobras, não é a ação corruptora de empreiteiras, não são casos de lavagem de dinheiro: são “os governos do PT”.

Por fim, frisa Jânio, “A Lava Jato é, agora declaradamente, uma operação judicial com objetivo político-partidário”.

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Apoio do Obama

Pior do que tomar conhecimento de que a Lava Jato é “partidário” é descobrir, também por acaso, que ela conta com o apoio do governo Barack Obama. Desta vez a indiscrição foi da revista Época (da Globo) que deixou escapar na matéria “PF acha prova de que Lula, presidente, atendeu a pedido de lobista da Odebrecht” que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos recuperou dados da caixa de emails de Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht, que foram entregues à força-tarefa brasileira.

A caixa de e-mails de Alexandrino havia sido apagada, mas foi recuperada graças a uma investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, motivada pela Lava Jato. Os dados foram enviados à PF no início de março. “O e-mail supra aponta indícios de que Luiz Inácio Lula da Silva era incentivado a atender compromissos de interesse do Grupo Odebrecht ainda quando ocupava a cadeira de presidente”, diz o relatório da polícia enviado ao juiz Sergio Moro e obtido por Época.

O texto curto constitui um novo elemento na investigação sobre a suspeita de que Lula fez tráfico de influência para a Odebrecht – não só após deixar o cargo, mas desde que era presidente da República. O que a revista Época retrata como uma ação corriqueira pode ser algo muito maior, inserido numa ação geopolítica dos Estados Unidos, para enfraquecer a economia brasileira.

Enquanto Moro faz “vazamentos” para veículos como Época, de modo incompreensível, ele se resguarda de reportagens de veículos estrangeiros, a julgar por reclamações divulgadas por correspondente, na revista Fórum.

 

O Moro que não vaza

O juiz Sérgio Moro foi um dos convidados a discursar no evento “Combate à corrupção: desafios e resultados. Casos Mãos Limpas e Lava Jato”, realizado na terça-feira (29), em São Paulo. E, para a surpresa de muitos, o magistrado vetou que sua participação fosse gravada, proibiu que jornalistas digitassem as declarações em tablets ou celulares e ainda exigiu que o canal de TV online do Ministério Público Federal, que transmitia a palestra, interrompesse as filmagens enquanto ele falava.

A plateia sequer teve o direito de fazer perguntas ao juiz. As arbitrariedades não passaram despercebidas por correspondentes internacionais que acompanhavam o evento. Nas redes sociais, eles reclamaram da atitude de Moro. A jornalista canadense Stephanie Nolan escreveu no Twitter: “Um policial federal acaba de me acusar de gravar ‘clandestinamente’ uma palestra pública concedida pelo juiz Sérgio Moro & tentou pegar meu telefone. Ironia demais?”.

A crítica foi replicada pelo correspondente do jornal britânico The Guardian na América Latina, Jonathan Watts, que questionou: “Nova era para os juízes do Brasil? Eles podem te gravar em conversas privadas, mas você não pode gravá-los em público”. O caso aconteceu apenas duas semanas depois de Moro liberar a divulgação de gravações telefônicas particulares do ex-presidente Lula.

 

Fontes: Brasil247, Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Jornalistas Livres, Revista Fórum, Portal vermelho

Nota: A autora escreve em português do Brasil

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